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Cinema

 
 

Tina Fey e Amy Poehler voltam a contracenar em comédia

06 de maio de 2008 10h54

Tina Fey protagoniza o longa. Foto: Divulgação

Tina Fey protagoniza o longa
Foto: Divulgação

Na nova comédia Baby Mama, Tina Fey interpreta uma executiva solteira de 37 anos que, desesperada para ter um bebê, contrata alguém que cuide disso para ela, na figura divertida e esfuziante de Amy Poehler.

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O filme não chega a bom parto, por assim dizer: o estilo visual é funcional como o de um seriado cômico de TV e até as melhores piadas despencam por falta de timing. Mas, como a talentosa e difícil Tina, o trabalho oferece uma mistura provocante e incomum - ao menos no cinema norte-americano atual - de inteligência, desajeito e maldade feminina das mais gélidas.

Tina Fey é mais conhecida por seu trabalho em televisão, em programas como Saturday Night Live e 30 Rock. Até agora, seu maior papel no cinema havia sido o da professora de matemática Sra. Norbury, na comédia Meninas Malvadas, cujo roteiro ela escreveu. ("Vocês precisam parar de chamar umas às outras de vadias e piranhas", aconselha Norbury às meninas malvadas que dão nome ao filme. "Isso simplesmente autoriza os caras a chamarem vocês de vadias e piranhas".)

Como muitas comédias, Meninas Malvadas pretende criticar aquilo que explora, e aponta um nada convincente dedo acusatório contra as crueldades que exibe com grande habilidade. Tina Fey pode não querer que as meninas chamem umas às outras de vadias, mas ela mesma não hesita em fazê-lo.

É comum que esse tipo de desdobramento cômico envolva uma espécie de sadismo, e embora alguns intérpretes pareçam direcionar a crueldade contra eles mesmos - pensem em Jerry Lewis e Ben Stiller extraindo risadas desconfortáveis do público com as humilhações incessantes a que submetem seus personagens-, o estilo de Fey não parece ser esse.

Com certeza não é o que ela foi convidada a fazer em Baby Mama, no qual interpreta uma individualista de língua ferina e humor irônico que, como Tina Fey mesma, trabalha em um setor dominado pelos homens (no filme, como executiva de uma cadeia de lojas de alimentos orgânicos), e prefere o estilo "bibliotecária sexy", com sapatos de salto alto, blusas decotadas e óculos de aros grossos, o que no filme significa que existe um corpo suculento para acompanhar o cérebro de inteligência febril.

Baby Mama, escrito e dirigido pelo estreante Michael Cullers, outro egresso dos quadros de Saturday Night Live, começa com a personagem de Tina Fey, Kate Holbrook, contemplando bebês com uma cara de loba faminta. Todo mundo tem seu lindo bebezinho menos Kate, que vive sozinha em um apartamento decorado de maneira genérica em Filadélfia (o filme foi rodado também em Nova York), e tem poucos contatos além de seus colegas de trabalho, parentes e o engraçado porteiro do prédio onde vive, Oscar (Romany Malco).

Basicamente, ela é como Rhoda com coxas mais magras ¿ou seja, ela é Mary Richards (a protagonista de Mary Tyler Moore, um seriado de sucesso nos anos 70). Mas como estamos nos anos 2000 não nos 70, a década da liberação feminina, Kate não deseja ser apenas uma mulher solteira livre para amar como quiser. Ela também quer um bebê. E isso traz Angie Ostrowiski (Amy Poehler) à história.

Amy Poehler, 36, é pelo menos 10 anos mais velha do que o papel idealmente requereria, como o foco ocasionalmente indefinido da câmera revela em certos closes, mas ela é certamente divertida. Amy funciona como a bola de borracha que colida contra a muralha inabalável de Tina, sempre em movimento, sempre frenética, sempre causando riso.

Interpretado com traços largos e com certa dose de estupidez deliberada, Angie é ainda mais burra que as loiras burras que os filmes recentes tanto amam, porque ela também é revelada como uma típica branca pobre dos Estados Unidos, quase uma Daisy Mae Duke urbana, com shorts cortados, chiclete sempre na boca e a companhia permanente de um amigo idiota (Dax Shepard). O fato de que Angie funcione se deve à apresentação positiva que Poehler dá às suas gafes, quer ela esteja ganindo de horror ao sentir o gosto inédito de água fresca ou se agachando sobre uma pia quando a natureza chama em hora imprópria.

O filme não tem muito mais a apresentar, excetuada a passagem leve e nonsense de Steve Martin como o chefe de Kate, um beligerante empresário New Age enfeitado por um rabo de cavalo nada lisonjeiro. Greg Kinnear também aparece aqui e ali como o inevitável par romântico de Kate, talvez para que as coisas não esquentem demais quando Angie se instala no apartamento da protagonista.

Não que esse estranho casal cause preocupação, já que Tina Fey, que não é uma atriz com competência suficiente para que seu personagem tenha personalidade reconhecível, foi forçada a atuar de maneira bem estreita. Infelizmente, ao contrário de Jerry Seinfeld e Larry David, Fey nem mesmo tem uma voz engraçada

. É pena, porque ela é realmente divertida. E se há algo que falta ao cinema são mulheres engraçadas, especialmente as capazes de conquistar risadas sem despir as roupas e a dignidade. Sob o velho sistema de Hollywood, o presidente do estúdio teria ordenado que Tina Fey estudasse dança, aprendesse como se movimentar no estúdio ou a mover seu torso ocasionalmente.

Ela talvez não conseguisse se desenvolver como uma atriz-roteirista competente, mas a idéia de vê-la comandar o espetáculo na tela e fora dela entusiasma. Mulheres realmente engraçadas - Mae West, Elaine May - surgem a intervalos de décadas; a hora parece propícia. Mas não resta muito tempo se Tina Fey deseja aproveitar a oportunidade

Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME

The New York Times
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