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Cinema

 
 

Saiba mais sobre a vida e obra de Stanley Kubrick

26 de julho de 2008 07h37 atualizado às 10h02

Kubrick dirige cena de  2001, Uma Odisséia no Espaço. Foto: Reprodução

Kubrick dirige cena de 2001, Uma Odisséia no Espaço
Foto: Reprodução

Stanley Kubrick nasceu no Bronx (Nova York), em 26 de julho de 1928. Filho de um médico e de uma dona-de-casa, o futuro cineasta se interessou pela fotografia desde cedo: aos 13 anos, ganhou de seu pai sua primeira câmera. O jazz e o xadrez eram as outras duas paixões do jovem Stanley - a escola o entediava e suas notas eram medíocres. Ainda em idade escolar, tornou-se fotógrafo profissional, primeiro na Escola Taft, onde estudava, e depois como free-lancer.

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Em 1945, com apenas 16 anos, Kubrick teve seu primeiro grande momento na carreira: vendeu à revista Look a fotografia de um jornaleiro entristecido com a morte do presidente Franklin Roosevelt. Em pouco tempo, se tornaria o mais jovem fotógrafo contratado pela revista, registrando imagens de personalidades da época (como o ator Montgomery Clift e o músico Errol Garner) e de eventos esportivos, como lutas de boxe.

Aos poucos, o cinema tornou-se a maior obsessão de Kubrick. Enquanto trabalhava na Look, o então fotógrafo freqüentava sessões de "cinema de arte" em Nova York e buscava detalhes sobre técnica, linguagem e equipamentos. Seu primeiro filme, o documentário em curta-metragem Day of the Fight (1951), foi financiado com seus próprios recursos. Em seguida, realizou os também documentários The Flying Padre (1952) e The Seafarers (1953).

O primeiro longa-metragem de Kubrick foi Fear and Desire (1953), um filme de guerra financiado em sua maior parte por um tio que morava na Califórnia. A falta de recursos era tal que obrigou o jovem cineasta a usar uma equipe limitada - ele mesmo trabalhou como diretor de fotografia e montador. Com o passar dos anos, Kubrick mostrou-se constrangido por Fear and Desire, que considerava amadorístico e pretencioso. O diretor chegou a tentar proibir o filme de ser exibido em público, mas não teve sucesso.

Seu longa-metragem seguinte, o policial A Morte Passou por Perto (1955), também sofreu pela escassez de dinheiro: mais uma vez, Kubrick trabalhou como montador e diretor de fotografia. No entanto, sua idéia era realizar uma experiência oposta a Fear and Desire, ou seja, dirigir um filme minimamente cuidadoso do ponto de vista técnico, mesmo que o enredo e o roteiro fossem um tanto simplórios. O resultado foi um film noir cru, com imagens marcadas pelo contraste da fotografia em preto-e-branco.

Este filme chamou a atenção do jovem produtor James B. Harris, que encontrou em Kubrick o parceiro ideal para lançar sua própria empresa. Surgia então a Harris-Kubrick Pictures, cujo projeto de estréia foi O Grande Golpe (1956). Primeiro filme "profissional" de Kubrick, este policial contava com elenco e equipe hollywoodianos o diretor de fotografia era o famoso e experiente Lucien Ballard, com quem o diretor teve fortes discussões ao longo da filmagem.

Embora não tenha sido um grande sucesso de bilheteria, O Grande Golpe tornou Kubrick - então com menos de 30 anos - um nome conhecido no meio cinematográfico, a ponto do consagrado astro Kirk Douglas contratá-lo para dirigir Gloria Feita de Sangue (1957), um longa baseado em um fato verídico ocorrido na Primeira Guerra Mundial. As fortes imagens do combate nas trincheiras e a mensagem antimilitarista mereceram elogios quase unânimes da crítica, mas também geraram a primeira polêmica da carreira de Kubrick: considerado ofensivo aos militares, Glória Feita de Sangue acabou banido na Espanha e não foi lançado na França até 1975.

Foi durante as filmagens de Glória Feita de Sangue que Kubrick conheceu a atriz Christiane Harlan (ou Susanne Christian, seu nome artístico). Eles se casariam no fim de 1957, ficando juntos por mais de 40 anos. Christiane foi a terceira mulher de Kubrick (Toba Metz e Ruth Sobotka a antecederam). O casal teve duas filhas, Anya e Vivian - quando conheceu o cineasta, Christiane já tinha Katharina, filha nascida em casamento anterior.

Kirk Douglas foi responsável por outro momento decisivo na carreira de Kubrick, ao chamá-lo para dirigir o épico Spartacus (1960), no lugar do demitido Anthony Mann (de El Cid e A Queda do Império Romano). A cara e gigantesca produção resultou em um filme de grande sucesso, mas mostrou-se uma experiência torturante para o diretor, que brigou com Douglas e foi obrigado a fazer inúmeras concessões à Universal. Kubrick desprezou Spartacus pelo resto da vida e nunca mais aceitou a interferência dos estúdios em seu trabalho.

Uma enorme polêmica marcou o projeto seguinte de Kubrick desde seu início: Lolita (1962) é a adaptação do romance de Vladimir Nabokov sobre a relação entre um professor europeu de meia-idade e uma pré-adolescente americana. Uma feroz ofensiva da censura fez com que Kubrick tivesse de editar diversas versões do filme, amenizando o conteúdo sexual e viabilizando seu lançamento. Eventualmente, o diretor admitiu que, se soubesse das dificuldades que encontraria em Lolita, nunca teria realizado o longa.

Nesta época, Kubrick já havia se mudado para o Reino Unido, um local que considerava mais tranqüilo para criar suas três filhas - além disso, o país também possuía modernos estúdios e era o lar de muitos dos melhores técnicos cinematográficos do mundo. Dr. Fantástico (1964), uma comédia de humor negro sobre um possível apocalipse nuclear, foi o segundo filme de Kubrick realizado na Inglaterra. Estrelado por Peter Sellers, o longa fez estrondoso sucesso e acabou tornando-se um marco dos anos 60 - além de ser o último filme da parceria com James B. Harris.

A imagem de Kubrick como grande mestre do cinema foi consolidada em 1968, quando lançou 2001, Uma Odisséia no Espaço. Com total controle criativo e um enorme orçamento à sua disposição, o cineasta levou quatro anos para finalizar o filme, principalmente devido a seus complexos efeitos especiais, revolucionários para a época. Realizado em Cinemascope, 2001 representou uma experiência visual inédita, gerando debates inesgotáveis sobre seu significado. O longa de ficção científica rendeu a Kubrick o único Oscar de sua carreira, como supervisor dos efeitos visuais.

Após abandonar um gigantesco projeto de filmar a vida de Napoleão, Kubrick dirigiu Laranja Mecânica (1971), longa que novamente trouxe polêmica em torno do cineasta. Tendo como personagem principal o líder de uma gangue de adolescentes, responsáveis por roubos, espancamentos e estupros em um futuro próximo, o filme acabou sendo banido no Reino Unido por decisão do próprio Kubrick, depois que crimes semelhantes aos da trama ocorreram na vida real - provocando críticas e até ameaças de morte contra o diretor. Mesmo assim, Laranja Mecânica foi um sucesso de crítica e de público, confirmando o status de Kubrick como um visionário do cinema.

Em seguida, o cineasta abandonou os temas futuristas e retrocedeu até o século XVIII com Barry Lyndon (1975), filme inspirado em um romance de William Makepeace Thackeray. Neste longa-metragem, Kubrick operou mais uma revolução técnica: buscando o máximo de naturalidade, ele utilizou lentes especiais (até então exploradas apenas pela Nasa) para rodar cenas iluminadas somente à luz de velas. Com um belíssimo visual, o filme ganhou quatro Oscars - mas acabou sendo um fracasso de público.

Para se recuperar desta decepção, Kubrick voltou-se para um projeto com um apelo mais "popular" (ou seja, com maior potencial de bilheteria) com O Iluminado (1980), filme de horror baseado em um livro de Stephen King. Estrelado por Jack Nicholson, o longa teve uma produção demorada, graças ao perfeccionismo do diretor (reza a lenda que uma tomada específica teria sido repetida mais de 100 vezes). Embora tenha dividido a crítica, O Iluminado se tornou o filme mais rentável da carreira de Kubrick.

Sete anos se passaram até que Kubrick lançasse um novo filme. Nascido para Matar (1987) tratava da Guerra do Vietnã e veio na esteira de diversas outras obras sobre o tema. Com um elenco de atores desconhecidos e jovens revelações (entre eles, Matthew Modine), o longa chamava a atenção pela técnica do diretor e pela dureza das cenas de treinamento dos fuzileiros navais.

Após abandonar projetos como The Aryan Papers (um roteiro sobre o Holocausto), Kubrick finalmente interessou-se, em meados dos anos 90, em dirigir a ficção cientifíca A.I. - Inteligência Artificial. Antes deste filme, no entanto, ele dedicou-se a De Olhos Bem Fechados, um suspense de teor erótico estrelado pelo (então) casal Tom Cruise e Nicole Kidman.

Em março de 1999, após quase três anos de produção, Kubrick finalmente apresentou a versão final do filme a executivos da Warner Bros., além de Cruise e Kidman. Pouco depois, no dia 7 daquele mês, um enfarte durante o sono matou o cineasta, aos 70 anos de idade. Ele foi enterrado em sua propriedade em Hertfordshire, Inglaterra, ao lado de sua árvore favorita. A.I., seu projeto inacabado, acabou sendo dirigido pelo amigo Steven Spielberg e lançado em 2001.

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