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Cinema

 
 

Festival de Cannes é ameaçado por greve

06 de maio de 2004 17h41

Em protesto contra os cortes nas indenizações de desemprego, os trabalhadores do setor de arte e espetáculo francês ameaçam boicotar o festival internacional de cinema de Cannes, que começa no próximo dia 12 de maio.

Conhecidos na França como "intermitentes do espetáculo", ou seja, aqueles que trabalham de forma irregular no setor como eletricistas, encarregados de som, técnicos e outros, aproximadamente 100 mil na França, os trabalhadores se opõem à reforma de suas indenizações de desemprego, aprovada em junho de 2003.

Entre as reivindicações está a volta ao antigo sistema, único na Europa e muito vantajoso, que deixava o Estado francês com um déficit de 850 milhões de euros (1 euro: US$ 1,25) ao ano. No antigo plano bastava trabalhar três meses para receber uma indenização durante todo o ano.

O ministro da cultura Renaud Donnedieu de Vabres apresentou na última quarta-feira "um plano de emergência", que supõe uma ajuda para os mais prejudicados mas que não volta atrás sobre a reforma aprovada no ano passado.

A reação dos trabalhadores foi imediata: o sindicato majoritário do setor, o CGT, rejeitou o plano e anunciou medidas de protesto "memoráveis", garantindo que "todos vão entrar em acordo sobre o festival de Cannes de 2004".

Donnedieu de Vabres apelou nesta quinta-feira à "responsabilidade dos artistas" para que este festival, que vai ser realizado de 12 a 23 de maio, não seja "paralisado".

"Nenhuma de nossas exigências foi levada em consideração de forma séria" e na falta de "propostas sérias os festivais e manifestações artísticas da temporada 2004 estão proibidos, começando pelo festival de Cannes", anunciaram os representantes sindicais.

Nesta quinta-feira ao meio-dia o jornal do canal de televisão paga Canal Plus foi interrompido pelos manifestantes, que convocaram uma passeata na próxima sexta-feira no centro de Paris.

"Falta uma semana para o festival de Cannes e em vez de acalmar os ânimos, o discurso do ministro da cultura acendeu a polêmica", disseram os manifestantes, acusando o governo de "fazer-se de surdo" perante suas reivindicações.

Nas últimas semanas, Donnedieu de Vabres pediu que "não se declare uma greve", temeroso de que seja repetido o fracasso do ano passado, quando pela mesma razão foi necessário anular os festivais de teatro de Avignon (sul) e Aix-en-Provence, gerando perdas econômicas impressionantes.

A situação trouxe medo para os organizadores dos três grandes festivais franceses: Montpellier (dança), Aix-en-Provence (arte lírica) e Avignon (teatro), que registram um atraso sem precedentes nas reservas de participantes estrangeiros.

"Se há um risco grande em Cannes, isto encheria de alegria um certo número de países que não aceitam que a França seja uma referência importante na agenda cultural mundial", disse Donnedieu de Vabres.

O festival de Cannes poderia ser o lugar ideal para que os manifestantes irritados façam escutar sua voz na presença das câmaras do mundo inteiro e artistas dos cinco continentes. Alguns deles como Michael Moore, Ken Loach, Emmanuelle Béart ou Agnès Jaoui poderiam inclusive solidarizar-se com o movimento.

Segundo uma pesquisa do Nouvel Observateur, a mobilização está sendo preparada ativamente e os trabalhadores já alugaram ônibus para transportar até Cannes manifestantes de toda a França.

AFP
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