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Cinema

 
 

Cineasta argentina desafia moral em Cannes

11 de maio de 2004 13h29

A cineasta Lucrecia Martel não tem preconceitos. Embora tenha nascido numa cidade argentina conservadora, onde integrou grupos católicos, a diretora que vai concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes com seu filme La Niña Santa fala como dirige: de forma irônica e desafiadora.

"Nunca estive em Cannes, mas não me desanima o fato de que haverá por lá diretores famosíssimos, como os irmãos (Ethan e Joel) Coen. Pelo contrário, vou aproveitar o fato de poder assistir aos filmes deles sem pagar ingresso", brincou espontaneamente a cineasta de 37 anos.

La Niña Santa narra as experiências de uma dona de hotel e de sua filha adolescente durante um seminário médico no qual ambas se sentem atraídas - por razões diferentes - a um médico que participa do encontro profissional.

Enriquecido com as experiências pessoais de Martel, o filme estabelece uma relação complexa entre religião e sexo, em uma trama dramática, mas com boas doses de humor.

O longa-metragem parte do despertar sexual da adolescente fervorosamente católica, que inclui encontros e desencontros amorosos cujo eixo central é a questão da moral.

Para a realização de La Niña Santa, a diretora, que nasceu na província de Salta, no norte da Argentina, e hoje vive em Buenos Aires, contou com o apoio financeiro do cineasta espanhol Pedro Almodóvar.

Apesar das brincadeiras, Martel leva muito a sério o desafio implícito no fato de um filme latino-americano de baixo orçamento competir no Festival de Cannes, que começa na quarta-feira.

"Cannes é um dos festivais de cinema de maior prestígio do mundo, e o fato de ter sido selecionada para a competição oficial é muito animador. Participar de um festival como este significa maiores oportunidades comerciais para meu filme", disse a diretora à Reuters.

O trabalho de Martel inclui algumas situações de sexo que desafiam os costumes.

"Nas cidades muito conservadoras, a moral sempre é algo paradoxal, constantemente traído e bastante inútil", explica Martel, falando em tom pausado.

"Minha obra procura atacar diretamente essa base moral que acho imunda e os sistemas de controle que se manifestam por meio dela. Eu o faço apenas mostrando em detalhes pequenos a mesquinhez da classe média", acrescenta a diretora.

"Almodóvar e eu nos aproximamos porque ele gostou de O Pântano (premiado longa de Martel, em cartaz em São Paulo)", explicou a jovem cineasta. "E sua participação em meu filme tem um valor emocional e financeiro muito grande."

A diretora, que nos últimos dias não tem podido descansar um instante sequer porque está preparando sua viagem a Cannes, já está pensando em seu próximo trabalho. "Estou pensando e escrevendo uma história que acontece em Salta, que eu deixei pela metade antes de fazer La Niña Santa e que agora gostaria de filmar", concluiu.

Reuters
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