O cineasta Almodóvar dirige as filmagens de La Mala Educación na Espanha
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"Eu e muitos espanhóis sofremos uma educação religiosa, uma educação de culpa e castigo. Acho que é uma educação perfeita para criar psicopatas", disse Almodóvar.
"Os abusos dos sacerdotes precisam ser denunciados, é um crime terrível", mas este não é o objetivo do meu filme, assinalou, durante entrevista coletiva na apresentação do filme, em Cannes.
Ao ser perguntado se este é o seu filme mais pessoal, Almodóvar respondeu: "Todos os filmes são pessoais, mas de uma forma nem sempre direta, às vezes nas pessoas, às vezes no ambiente ou nas paisagens, não só no que ocorre".
"Acho que o mais pessoal deste filme é o modo como é narrado", continuou.
"Vivi nos dois cenários principais do filme: colégio de padres e a Madri do início dos anos 80, mas fiz o filme 20 anos depois e isto me permitiu ter distância", disse.
"Eu sou um grande admirador do gênero 'noir'", disse, ao explicar porque optou por este estilo.
"O cinema 'noir' é um gênero adulto, eu já o tinha abordado em Carne Trêmula (1997), mas neste filme o faço de forma mais profunda", disse.
"O cinema é algo milagroso, e este gênero consegue transformar o pior da nossa natureza em espetáculo. E a mim me atrai isso: o pior", disse, sorrindo.
Esta é sua obra de maturidade? Almodóvar combina sem parar humor, ironia e seriedade em suas respostas: "Cheguei à maturidade porque o tempo passou e não pude fazer nada para impedi-lo", disse, para acrescentar imediatamente: "Acho que sempre falo dos mesmos temas e, no entanto, cada filme é totalmente distinto".
Na idade adulta, simplesmente "se tem outro olhar" sobre o que se fez. De qualquer forma, "fazer La mala educación teria sido impossível sem meus 14 filmes anteriores", disse.
Finalmente, ao responder a um jornalista que fez alusão a uma segunda parte de Qué He Hecho Yo Para Merecer Esto?!! (1984), cujo personagem principal seria o ex-presidente do governo espanhol, José María Aznar, Almodóvar lhe respondeu rindo: "Também existem classes no que há de pior". E como o jornalista era de nacionalidade chilena, acrescentou: "Para este filme, precisaria de um ponto de vista chileno, pois vocês também sabem de coisas ruins...".
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