O diretor Paolo Sorrentino visitava São Paulo em 2002, participando da Mostra Internacional de Cinema, com seu filme de estréia, Un Uomo in Più - que abordava o mundo do futebol e abria com uma frase de Pelé, "o empate não existe".
Hospedado em um hotel cinco estrelas da capital paulista, viu no bar um homem de aproximadamente 50 anos, ligeiramente barrigudo, com barba, bebendo sua cerveja.
Uma figura que lhe pareceu um executivo, elegante e europeu, deslocado de tudo, até da paisagem da cidade lá fora.
O encontro casual rendeu a idéia inicial da história de Le Conseguenze dell'Amore, em que o protagonista é justamente um cinquentão elegante, Titta Di Girolamo (Toni Servilli), que vive em grande estilo num hotel de luxo há anos, sem que se saiba exatamente sua ocupação.
Há uma grande amargura nos passos de Titta que, apesar de não economizar dinheiro, demonstra ter perdido toda e qualquer ilusão.
"A pior coisa para um homem que fica só por muito tempo é perder a imaginação" - esse é seu próprio diagnóstico do mal-estar que visivelmente o aflige.
Pouco a pouco, vão surgindo os indícios reveladores do grau dessa decepção existencial.
Metódico, Titta injeta-se semanalmente uma dose de heroína, não mais, nem menos, há pelo menos 24 anos. Há uma ex-mulher e filhos que não querem falar com ele, nem por telefone. E uma ligação mais perigosa com mafiosos sicilianos.
Muito bem filmado, com bela fotografia e música na medida, o filme foi aplaudido na sessão de imprensa na quinta-feira.
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