Este documentário, cuja apresentação estava prevista na seção hors-concours, é o 19º aspirante à Palma de Ouro, segundo decisão da direção do festival anunciada na quarta-feira. Outro documentário, Fahrenheit 911, do cineasta americano Michael Moore, também aspira ao prêmio máximo do festival.
Por desejo da organização do festival ou pura coincidência, os dois cineastas reivindicam um forte compromisso, uma boa dose de militância e são muito críticos com seu país.
Para Nossiter, "não resta a menor dúvida de que os piores mal-feitores do mundo no momento sejam os grandes poderes dos EUA, começando, claro, pelo grande criminoso (o presidente George W.) Bush", segundo declarações à AFP.
Ele também não poupa a Itália, cuja situação política lhe parece "trágica" desde a chegada de Silvio Berlusconi ao poder.
O cineasta, que já dirigiu documentários e filmes de ficção, explicou em entrevista coletiva em Cannes que "Mondovino não é um filme sobre o vinho, mas sobre o povo". Para ele, "o vinho é o único produto que tem a mesma complexidade do ser humano".
Para fazer este longo documentário (quase 2H40), Jonathan Nossiter entrevistou mais de trinta pessoas em EUA, França (região de Bordeaux, Borgonha, Languedoc), Itália (Sardenha, Toscana), Brasil e Argentina.
Milionários da Napa Valley, na Califórnia, grandes famílias de aristocratas da Toscana, produtores tradicionais e pequenos vinicultores brasileiros...
Nossiter lança luz sobre as lutas de poder e à enorme influência de dois personagens-chave: o enólogo-consultor francês Michel Rolland e o badalado crítico americano Robert Parker.
O primeiro trabalha há vinte anos para centenas de produtores franceses e vários vinicultores de todo o mundo. Seus críticos o reprovam por homogeneizar o gosto de seus vinhos e destacam também que este gosto é muito parecido ao de Robert Parker, que enaltece ou arrasa, com seus pareceres, a reputação dos grandes vinhos do planeta.
Se em nenhum momento o documentário cai no ajuste de contas (Nossiter é ele mesmo um enólogo e conhece muito bem o meio que retrata), a orientação do diretor se revela claramente: está mais do lado dos produtores "tradicionais", ligados à sua terra, que do gigante americano Mondavi, cujo império cruza as fronteiras justamente com a ajuda de Michel Rolland.
"Algumas das pessoas com quem falei têm convicções éticas", diz Nossiter.
"É a coisa que mais respeito", continua.
Como diz Battista Columbu, um vinicultor da Sardenha: "As quimeras de um progresso que só leva à ruína a si mesmo, à natureza e o sofrimento aos outros não nos devem distrair. Aqui, na Sardenha, temos uma cultura milenar. Deveríamos viver em paz sobre a terra. Há espaço para todos".
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