Depois de afastar-se da direção por dois anos para escrever um romance intitulado Shade, Jordan decidiu dirigir uma adaptação do livro Breakfast on Pluto, de Patrick McCabe.
O diretor irlandês disse que está pronto para começar a rodar em setembro. O filme deverá ter no elenco Cillian Murphy e Liam Neeson.
Jordan foi a Cannes revelar porque resolveu voltar à direção com a adaptação de um romance sobre um jovem travesti inteligente, espirituoso e forte.
Pergunta: Qual a história de Breakfast on Pluto?
Neil Jordan: Basicamente, é uma comédia muito estranha. É sobre um rapaz, Patrick Brayden, filho do padre da cidadezinha e da empregada dele. Mas o jovem não sabe disso. Crescendo na Irlanda, ele passa sua vida pensando que é menina e se vestindo de menina. Ninguém lhe diz que ele é homem, algo que ele descobre no decorrer do livro. Ele cria um mundo interior mágico no qual se refugia a toda hora. Ele acaba deixando a cidadezinha e indo a Londres, pensando, em seu mundinho próprio, que poderá virar supermodelo. Depois de muitas aventuras ele termina num "peep show" que seu pai vai visitar. O filme termina com ele encontrando sua mãe.
P: O livro de Patrick McCabe é bastante difícil. Você mudou alguma coisa?
NJ: Mudei muitas coisas. Acho que Patrick gostou das modificações. Ele escreveu o roteiro original a partir de seu livro, e eu o desenvolvi a partir disso. Tive que fazer um esforço grande para tornar mais real o mundo em que Brayden (o personagem principal) vive. Ele é alguém que, todos os dias, transforma um mundo brutal em um mundo mágico. Também me esforcei muito para retratar uma Irlanda que está desaparecendo a olhos vistos. A Irlanda nos anos 1980 era um lugar difícil e deprimido, e procurei incluir isso no roteiro.
P: Em 1997, você adaptou para o cinema e filmou Nó na Garganta ("The Butcher Boy"), também de McCabe. Como o projeto atual se compara a Nó na Garganta?
NJ: Na realidade, este filme é muito mais divertido, e o roteiro contém mais resoluções emocionais. De certo modo, é mais extremo do que Nó na Garganta, mas bem mais divertido.
P: Como foi a compra dos direitos dos dois livros?
NJ: Eu os comprei na ordem em que foram escritos. Comprei os direitos de Nó na Garganta, e então Patrick me disse que tinha escrito outro romance. Mas relutava em me deixar vê-lo. Quando li o livro, eu realmente quis fazer o filme.
P: Como é o orçamento?
NJ: Não vamos revelar o orçamento na fase atual, mas será um orçamento médio para uma co-produção típica anglo-irlandesa.
P: Já faz algum tempo que você não faz um filme. O que andou fazendo?
NJ: Me afastei por dois anos para escrever um romance. Chama-se Shade, mas não quero falar mais sobre isso.
P: O que você prefere, escrever roteiros e dirigir ou escrever romances?
NJ: De certa maneira é a mesma coisa, se bem que escrever um livro seja um trabalho muito solitário. Depois de escrever um filme, você se junta a muitas pessoas para fazê-lo. Sob muitos aspectos, prefiro estar com pessoas do que ficar totalmente solitário.
P: Seu projeto de dois anos atrás, Borgia, fracassou no momento em que você ia dar início à produção. Foi difícil lidar com isso?
NJ: Quando fracassou, eu pensei "estou farto de tudo isso" e decidi me afastar por dois anos para escrever um livro. Hoje em dia é muito difícil conseguir fazer um filme que custe mais de 40 milhões de dólares. Borgia simplesmente sairia caro demais e assumiria riscos demais com o tema para que os financiadores assumissem o risco de fazê-lo.
- Reuters - Reuters Limited - todos os direitos reservados. Clique aqui para limitações e restrições ao uso.