Hoje, dez anos mais tarde, ele é amigo de estrelas como Madonna e Diane Keaton e vem concedendo entrevistas no Festival de Cinema de Cannes sobre a adaptação para o cinema de sua coletânea de contos The Heart is Deceitful Above All Thins, aclamada pela crítica.
O filme, que está sendo exibido à margem da competição oficial, inclui participações de nomes de peso como Winona Ryder, Peter Fonda e o roqueiro Marilyn Manson.
Dirigido pela atriz italiana Asia Argento, vista pela última vez no blockbuster XXX - Triplo X, o filme trata de temas duros e chocantes que poucos estúdios de Hollywood ousariam encarar.
O longa-metragem, produzido com um orçamento independente pequeno, documenta a infância peripatética de Leroy, passada entre sua mãe, viciada em drogas, e seus avós, fanáticos religiosos.
O autor começou a escrever instigado por um terapeuta que o tratou de desordens decorrentes dos abusos e estupros que sofreu quando criança, quando sua mãe, prostituta, às vezes o vestia de menina e o fazia passar-se por irmã dela.
Leroy, que usa peruca loira e óculos de sol gigantes, lembrando o artista pop Andy Warhol, disse que ver os fatos de sua vida no cinema constituiu um passo a mais para distanciá-lo de seu passado.
"Eu sempre desejava poder instalar um tubo entre minha cabeça e a de outra pessoa, para que essa pessoa pudesse ver e sentir o que eu via, para que eu não estivesse só. Com o filme, chegamos a algo desse tipo", disse ele em coletiva de imprensa.
"Quando assisti à versão final do filme, tive uma experiência muito emocional e catártica", concluiu o autor andrógino, falando com sotaque sulista ainda perceptível.
Para Asia Argento, fazer o filme virou uma missão pessoal. Depois de ler o livro, ela entrou em contato com Leroy, que imediatamente sugeriu que ela o adaptasse para o cinema.
A atriz de 28 anos também tem uma atuação corajosa no papel de Sarah, a mãe volátil que tem com seu filho uma relação que é um misto de amor e ódio. Com seus cabelos oxigenados e sua atitude punk, ela lembra em tudo a roqueira Courtney Love.
Filha do lendário diretor italiano de filmes de terror Dario Argento, Asia Argento já dirigiu o autobiográfico Scarlet Diva e disse que, dessa vez, gostou de contar a história de outra pessoa. Sua preocupação principal foi se manter fiel ao livro.
"Para mim, foi importante não satanizar esses personagens, mas compreender que eles não sabiam o que faziam", explicou a diretora.
"Leroy não é santo, e os adultos não são monstros. É importante que isso fique claro, porque a vida não é assim. Nem tudo é preto e branco. Não é horror nem comédia, mas um misto de tudo."
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