O diretor Walter Salles convenceu a crítica internacional, que recebeu com um grande e longo aplauso seu filme Diários de Motocicleta, que ilustra a viagem de Ernesto "Che" Guevara em sua juventude, ao lado de um amigo pela América do Sul.
O filme, estrelado pelo mexicano Gael García Bernal e o argentino Rodrigo de la Serna, é também uma profunda e apaixonada reflexão sobre a identidade latino-americana.
Em 1952 dois jovens argentinos, Alberto Granado e Ernesto Guevara, decidem partir para descobrir América do Sul a bordo de uma velha moto Norton modelo 1939, batizada de "A poderosa".
O que começa como uma simples aventura vai progressivamente tomando um rumo diferente: o confronto com a realidade social e política dos países que ambos atravessam - Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela - altera a ideologia destes dois amigos.
A experiência, vivida em um momento decisivo de suas existências e na qual se misturam alegria, dor, desolação e esperança, despertará novas vocações, associadas a um desejo de justiça social.
O longa se baseia em "Viagem em motocicleta", diário que Che fez durante o périplo e no livro Com Che pela América do Sul, de seu amigo Granado, e em uma série de entrevistas que o diretor e os produtores fizeram em Havana com este último e com a viúva de Che, Aleida March, e sua família.
A adaptação dos livros, que durou dois anos, foi confiada ao jovem dramaturgo porto-riquenho José Rivera, que estudou no Instituto Sundance, dos Estados Unidos.
O roteirista fez um importante trabalho para dissociar o jovem Guevara de sua imagem mítica futura e dar a mesma importância aos dois protagonistas.
Salles revelou antes da exibição que ficou muito interessado na dimensão humana dos personagens e tentou mostrar o caráter que poderiam ter tido nessa época, preservando o humor, presente em ambos os livros.
O diretor, que antes das filmagens repetiu a viagem dos dois amigos, disse que a maioria dos problemas estruturais e sociais que tanto haviam afetado Guevara e Granado em 1952, continuam quase completamente sem solução. Neste sentido, os livros são modernos, porque refletem uma realidade atual.
"Diários de motocicleta" é uma coprodução entre Argentina, Reino Unido, Brasil, Peru, Estados Unidos e Chile.
A crítica internacional destacou não somente o trabalho de direção de Salles, como também a assombrosa naturalidade dos dois protagonistas, que apresentam personagens verossímeis e cheios de ambigüidades humanas.
Este é o sétimo filme de Salles, nascido no Rio de Janeiro em 1956. Com Central do Brasil, o diretor conquistou o Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim de 1998.
O outro filme que competiu hoje pela Palma de Ouro foi Exils, do argelino Tony Gatlif, um longa-metragem que também narra uma viagem às origens, mas neste caso, de um casal de apaixonados.
Exils conta a história de um casal de argelinos que vivem em Paris e que um dia decidem conhecer a terra de seus antepassados. Para isso deverão atravessar Espanha e o estreito de Gibraltar.
A viagem serve de pretexto para que o diretor se recrie em seus atores, na paisagem e na música. A estrutura elementar do filme, no qual se destacam alguns detalhes inverossímeis, não permite um aprofundamento na história, que fica reduzida a uma espécie de documentário bem fotografado com algumas cenas arrojadas.
"Minha religião é a música", diz o protagonista masculino e, efetivamente, todo o filme é acompanhado por melodias, cujas letras são o prolongamento dos diálogos.
Gatlif, que nasceu em 1948 em Argel, é autor de vinte filmes, entre curtas e longas-metrangens, a maioria dedicados a história dos ciganos. O filme que o tornou famoso no mundo da crítica, foi Les Princes, de 1983, sobre os representantes sedentários dessa etnia que vivem nos arredores de Paris.
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