Um sonho transformado de fato, locomotiva precoce da "diversidade cultural" agora visivelmente em perigo, que prolonga algo mais que uma breve noite de primavera.
Concretamente, de 12 a 23 de maio, nesta 57ª edição do Festival mais importante do mundo, lugar cativo da glamourosa elegância de estrelas de cinema e grandes personalidades da indústria cinematográfica, que conjugam prazeres, desejos e necessidades, para estrear aqui suas melhores obras.
De preferência no Grande Teatro Lumière do Palácio dos Festivais, equipado com as melhores tecnologias audiovisuais do momento e ante um público vestido a rigor, pois não só as estrelas brilham especialmente em Cannes.
Uma regra indica que toda pessoa proprietária de um convite para a estréia de um filme da seleção oficial deverá produzir-se a fundo, se quer ter garantido seu uso.
Ou seja, acesso à sala vermelha, verdadeiro Panteão-Lumière, onde terminam as célebres escalinatas também vermelhas deste "Olimpo cinematográfico" que é a baía de Cannes durante o Festival, com seus veleiros, iates e navios no horizonte.
Umbigo do cinema mundial da Côte d'Azur, onde as estrelas descem até as escadas do Palácio, para subí-las em toda sua excelência a ritmos variáveis.
Acompanhadas ao som do violão e do baile flamenco, como fez ontem o diretor francês Tony Gatlif ao apresentar Exils, filme onde a caminho de sua Argélia natal festeja a região espanhola de Andaluzia em todo seu esplendor, sem esquecer a miséria que envolve a seus emigrantes indocumentados.
Os mesmos fotógrafos também vão vestidos a caráter - um rigoroso fraque -, dada a proximidade com as famosas escadas que requer seu trabalho.
Mas, sem dúvida, o melhor e mais sonhado é subir por essas escadas devagar, por exemplo formando espetaculares cadeias de homens famosos, como projetou Pedro Almodóvar para a equipe de A Má Educação, com o qual abriu o certame.
Devagar, como para saborear cada instante desse intenso momento de sucesso e beleza, que há de viver-se duas vezes, a segunda em sentido descendente.
O que pode converter-se em um momento de intensa tortura ou em maravilhosa lembrança, se o filme acaba de receber uma sensacional amparada, como a dedicada ontem à noite a Diários de Motocicleta, de Walter Salles.
O diretor foi decididamente integrante do Olimpo, junto com seus atores, Gael García Bernal - de novo sobre as escadas depois de sua presença não menos estrelar em A Má Educação -, Rodrigo de la Serna, Mia Maestro e Alberto Granado, o amigo de juventude de Ernesto Guevara.
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