Diários de Motocicleta, do diretor brasileiro Walter Salles, narra a história da lendária viagem de motocicleta que Che Guevara fez pela América Latina em 1952, ao lado do amigo Alberto Granado
Foto: Reuters
O veterano cineasta político preside o Instituto Internacional para o Cinema e o Audiovisual dos Países da União Européia e concedeu a Salles o prêmio Città di Roma - Arcobaleno Latino.
O octogenário diretor italiano - de quem se apresenta na seção Clássicos de Cannes o filme A Batalha de Argel - não pôde vir pessoalmente ao festival para a entrega do prêmio.
Ele enviou a Salles uma declaração em que elogia o diretor "por seu belíssimo filme Diários de Motocicleta, que não cede jamais às fáceis seduções ideológicas, mas antes restitui um espírito pioneiro infelizmente perdido".
No final da declaração, o italiano arremata: "Avante, Walter, avante assim!"
Fazendo eco ao estímulo de Pontecorvo, a imprensa italiana - que havia massacrado o filme anterior de Salles no Festival de Veneza 2002, Abril Despedaçado - agora foi unânime nos elogios. O filme de Salles foi exibido para a imprensa na manhã e na noite de quarta-feira, arrancando aplausos de todos.
Corriere della Sera
Começando pelo veterano e exigente crítico italiano Tullio Kezich, que assina no diário milanês Corriere della Sera um comentário intitulado "Esta viagem se tornará cult".
No texto, ressalta que "o festival teve um batismo com o aplauso entusiasmado a um filme que se tornará cult: Diários de Motocicleta'.
Mais adiante, elogia os dois protagonistas Gael García Bernal e Rodrigo de la Serna: "simpáticos e quase verdadeiros na palpitante encarnação de seus personagens". A crítica termina tecendo louvores à "falta de ênfase profética e o constante tom de cativante beleza".
Outra jornalista do mesmo Corriere, Giovanna Grassi, lembra que Walter Salles, que havia emocionado a todos com Central do Brasil, "ontem (quarta-feira) à noite nos comoveu novamente, candidatando-se à Palma de Ouro."
La Repubblica e La Stampa
Na mesma linha, Lietta Tornabuoni, do diário La Stampa, considera que "o diretor e seus intérpretes são competentíssimos para recontar o frescor, o entusiasmo, a alegria e a seriedade daqueles dois rapazes dos anos 1950".
A jornalista Natalia Aspesi, do diário La Repubblica, lembra que o filme "teve no festival a acolhida mais calorosa, entusiasta e comovida".
Screen International
Allan Hunter, na edição especial diária da revista inglesa Screen International, afirma que "numa competição com altos e baixos, o filme de Salles é um dos poucos que realmente se destacam".
No texto, o jornalista qualifica Diários de Motocicleta como um filme "extremamente compassivo". Mais adiante, lembra que a política foi um dos grandes temas deste festival:
"Aqueles que procuravam por esperança não precisaram olhar mais longe do que Diários de Motocicleta, onde a injustiça social não conduz Che Guevara ao desespero, mas o leva a querer mudar o mundo. Num festival marcado por tempos obscuros, que mensagem mais inspiradora se poderia querer de um potencial vencedor da Palma de Ouro?"
Na tabela de cotação diária da mesma Screen International para a Palma de Ouro - com um júri composto de 11 jornalistas de nacionalidades diferentes - Diários de Motocicleta ocupava nesta quinta-feira o segundo lugar (com 2,9 pontos), só perdendo, por um ponto, para o concorrente francês Comme Une Image, de Agnes Jaoui.
The Times
James Christopher, no diário inglês The Times, afirmou: "A mágica está no brilhantismo com que a história é enquadrada na paisagem. É tanto uma ode ao interior da América do Sul quanto uma viagem de autodescoberta".
Ele continua: "O resultado é um filme que assombrou a Croisette e colocou Walter Salles em alta cotação para um prêmio".
The Guardian e Daily Telegraph
Walter Macnab, do diário The Guardian, felicita o diretor por "felizmente evitar discursar sobre o garoto do pôster da revolução mundial em que o viajante interpretado por Bernal viria se tornar".
E acentua que "poucos outros filmes da competição em Cannes foram tão apreciados quanto a homenagem de Salles a Guevara e Granado".
Charlotte Higgins, também do The Guardian, assim intitula seu artigo: "Espírito de Guevara trilha firmemente em direção à Palma de Ouro".
Outro diário inglês, o Daily Telegraph, dizia que "Walter Salles é o homem do momento em Cannes".
No outro parágrafo, explicava: "É fácil ver porquê. Salles (Central do Brasil) mostrou um filme sofisticado e absorvente, capaz de comunicar alguma coisa a qualquer pessoa".
Le Figaro e L'Humanité
A imprensa francesa também acompanhou a tendência positiva quase sem discordância. No diário Le Figaro, Dominique Borde assina uma crítica em que destaca:
"O filme de Walter Salles é uma curiosidade apaixonante. De um episódio pouco conhecido da juventude de Che faz uma tese e uma justificação, mas jamais de maneira maniqueísta ou didática".
No diário L'Humanité, Jean Roy destaca que "Walter Salles não quis edificar uma estátua ao Che e ao seu companheiro mas revelar a descoberta da vida feita por dois jovens inquietos".
Libération e El País
A única voz discordante na imprensa francesa nesta quinta-feira foi o diário Libération, onde o crítico Didier Péron considera que o filme "consolida a poderosa angelização já existente em torno da personalidade cult de Guevara".
O crítico Ángel Fernández Santos, do mais importante diário espanhol, El País, foi na linha elogiosa.
Ele considerou Diários de Motocicleta "um relato limpo, livre e muito bem-feito das anotações escritas por Che Guevara".
Mais adiante, Santos afirma: "O filme de Walter Salles alcança qualidades narrativas e analíticas mais do que notáveis".
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