A exibição, fora de competição, e dentro da seleção oficial do Festival, contou com a presença de vários familiares do cineasta, como sua mãe, Lucia Rocha.
A obra de Glauber está muito presente em Cannes, pois o Festival presta uma homenagem ao 40o. aniversário do Cinema Novo e exibe vários filmes do falecido diretor.
Um delas, Terra em Transe (1967), passará esta noite, também na presença de membros de sua família, na sala Buñuel, onde o documentário foi exibido.
"É um momento de grande alegria" apresentar aqui este filme feito para "manter viva a imagem de um dos artistas mais importantes do século XX", um artista cuja presença em Cannes, agora através de seus filmes na homenagem ao Cinema Novo, "significa que ele é muito importante também no século XXI", explicou Silvio Tendler.
O diretor disse que quis também celebrar "o espírito libertário de Glauber, alguém que nunca se deixou trancar".
"Era um homem muito libertário, em todos os sentidos, na estética, na ética, em seu comportamento pessoal, que nunca teve padrões", ressaltou.
Como exemplo, Tendler lembrou que quando em Hollywood quiseram mudar o roteiro de um filme que estava fazendo, Glauber contestou: "não permiti que a ditadura 'se sentasse na moviola', censurasse meus filmes, e não permitirei que Hollywood o faça".
Poucos meses antes de morrer, Glauber "falava de sua morte em uma entrevista e quando o entrevistador lhe perguntou se tinha medo, o cineasta respondeu que não".
"Ninguém sabe de que ele morreu, aparentemente de uma infecção no organismo. Pessoalmente acho que morreu dele mesmo, por estar no exílio, em Portugal", opinou.
Era "muito anarquista inclusive nesse aspecto", pois não se cuidava o suficiente nem deixava que cuidassem dele. Dizia que tinha muitos problemas no sangue, muitos glóbulos brancos, mas "ele morreu de Glauber", estimou o diretor.
Tendler começou seu documentário há 21 anos, mas manteve o projeto paralisado durante 18 anos, à espera do desbloqueio dos direitos das imagens do enterro do cineasta.
"Sou dez anos mais jovem que ele, o conheci no Brasil, na Itália, mas não era uma pessoa íntima, e sim um admirador", explicou.
Por outro lado, Silvio Tendler disse ser "muito amigo" de sua mãe, embora tenha sido ele quem durante 18 anos reteve os direitos das imagens de seu filho.
"Eu e o tempo a convencemos. Os anos se passaram e ela compreendeu que era uma bobagem" continuar proibindo o uso dessas imagens, declarou.
Tendler preferiu esperar, pois "não queria ter o filme mutilado", assegurou.
O diretor acrescentou que suas obras abordam sempre temas políticos, e que o documentário dedicado a Glauber "é também político, porque representa a biografia de um artista libertário".
O próximo documentário do diretor, de 54 anos, será sobre a utopia e a barbárie, "sobre como foi estar com 18 anos em 1968", e será, além disso "um filme muito político, muito autobiográfico", anunciou.
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