A história se passa em Santiago. São os últimos meses do governo de Salvador Allende. O país está em ebulição, as greves, manifestações e contra-manifestações se sucedem, os confrontos políticos se radicalizam e surgem os primeiros sinais dos preparativos de um golpe de Estado. Num colégio católico para filhos das classes altas, um sacerdote terceiro-mundista tenta a experiência de receber nas salas de aula crianças de um bairro miserável.
Gonzalo Infante (Matías Quer), aluno do colégio, faz amizade com um dos recém-chegados: Pedro Machuca (Ariel Mateluna). Os dois meninos descobrem os mundos opostos em que um e outro vivem, forjam sonhos em comum e compartilham o primeiro amor. O golpe de Estado os confrontará com uma realidade cruel, onde não há lugar para seus sonhos.
Segundo filme chileno apresentado no Festival de Cannes, depois do documentário Salvador Allende, de Patricio Guzmán, Machuca aborda, na ficção, a mesma época do primeiro. São dois filmes totalmente diferentes, mas que olham na mesma direção.
"Nós, cineastas chilenos, evitamos o tema durante muito tempo, exceto Patricio Guzmán e outros que ficaram fora. Acho que este é o primeiro filme feito no Chile sobre a época do golpe", disse o cineasta à AFP, ao comentar o elemento comum entre os dois filmes.
"Claro que está LLueve sobre Santiago, de Elvio Soto, e muitos filmes do exílio sobre o golpe e a época que se seguiu, mas estes têm mais a ver com o tema do exílio", continuou.
"Essa época me fascina", confessou Wood, que já fez um documentário sobre o tema para a TV.
"Me fascina a imagem do país daquela época, das pessoas construindo o seu futuro, da sociedade dividida e se enfrentando", explicou.
Mas por que o diretor teria decidido tratá-la através de personagens adolescentes?
"Estes meninos cresceram com dificuldade. Evocar a adolescência de hoje não teria me interessado", disse o diretor.
"O tema veio a mim naturalmente. Eu me interessava em falar deste período a partir da experiência que eu tive no colégio, onde foram integrados meninos de muito poucos recursos. Para mim, foi uma experiência marcante", continuou.
Seria, então um filme autobiográfico?
"Eu tinha sete anos quando o golpe aconteceu. O filme não é autobiográfico, mas sim a experiência do colégio onde vivi essa época.
Todo o resto é ficção", explicou o cineasta, destacando que o único personagem baseado numa pessoa real foi o sacerdote.
"Ele existiu e morreu há apenas seis meses", contou. E do ponto de vista cinematográfico, "a visão dos meninos me deu uma diretriz, me deu um ponto de partida de onde olhar. Esta restrição te limita, mas ao mesmo tempo te dá muita liberdade", continuou.
"Todos os acontecimentos que ocorrem no filme realmente aconteceram, mas olhar para estes fatos históricos através dos olhos dos meninos lhe dá uma força especial, passa a ser um tema visceral, de emoções e não somente político", resumiu Wood.
Depois da estréia em Cannes, Machuca será lançado no Chile em agosto e sua distribuição já está prevista na Espanha, na Itália e em outros países.
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