Michael Moore recebe Palma de Ouro 2004
Foto: Reuters
Ao receber a distinção e depois de uma grande ovação do público, Moore disse que espera que o prêmio lhe permita mostrar seu filme livremente em seu país, onde enfrenta problemas de distribuição. Acrescentou que espera que as coisas comecem a mudar no mundo e que a verdade se imponha.
O filme, uma devastadora denúncia sobre a maneira com que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, chegou ao poder e organizou a guerra do Iraque, foi aplaudido durante vinte minutos depois de sua projeção na seção oficial do festival.
Outro filme reconhecido foi Old Boy, do coreano Park-Chan Wook, que ganhou o Grande Prêmio do Festival de Cannes. A produção conta a complicada história de um seqüestro e uma vingança.
O filme é inspirado em uma história em quadrinhos japonesa, o que explica a falta de humanidade dos personagens e a artificialidade das situações, que buscam perturbar gratuitamente os espectadores.
Os dois prêmios de interpretação feminina e masculina, para Maggie Cheung, protagonista do filme francês Clean, e Yagira Yuya, intérprete da produção japonesa Nobody Knows, respectivamente, são merecidos. No entanto, parte da crítica internacional lamentou que dois grandes atores, o mexicano Gael García Bernal e o argentino Rodrigo de la Serna, protagonistas de Diários de Motocicleta, do brasileiro Walter Salles, tenham saído de mãos abanando.
O prêmio de melhor direção, ganho pelo argelino Tony Gatlif, de Exils, foi muito questionado pela imprensa especializada, que considerou o filme superficial. O prêmio de melhor roteiro, por outra parte, foi justamente concedido a Agnès Jaoui e a Jean Pierre Bacri por seu trabalho em Comme une Imagem, uma comédia francesa feita no estilo de Woody Allen.
Se o prêmio do júri para Irma Hall, de The Ladykillers, dos irmãos Coen, foi bem recebido pela crítica, o mesmo não ocorreu com a outra produção agraciada com o reconhecimento, a tailandesa Tropical Malady, de Apichatpong Weerasethakul, que foi apontada como muito simples e ingênua.
Em seu documentário, Moore afirma que Bush chegou à presidência dos Estados Unidos graças à manipulações eleitorais de seus parentes e parceiros e assegura que a guerra do Iraque foi planejada por razões econômicas com o objetivo de obter o petróleo do país árabe.
O filme, feito com um humor mordaz, analisa sem piedade os discursos de Bush e os contrapõe a imagens e testemunhos que desmentem as palavras do presidente. Como ponto de partida do filme, Moore toma as polêmicas eleições presidenciais de 2000 que levaram Bush ao poder.
O filme mostra as relações pessoais e financeiras que unem a família Bush e seus sócios da família real da Arábia Saudita à família Bin Laden. Para provar a existência dessas estreitas relações, o diretor afirma que logo após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, quando o espaço aéreo dos EUA estava fechado, membros da família Bin Laden e de outros grupos árabes puderam deixar o país sem serem interrogados pelo FBI.
A câmara de Moore mostra os sofrimentos da guerra do Iraque, tanto no país árabe como nos EUA, e o filme diz que a maioria dos soldados americanos provém de famílias pobres ou de minorias raciais, como a negra e a hispana. O humor corrosivo de Moore aparece quando, armado com um alto-falante, ele convida os parlamentares a ler a Lei Patriótica, que limita os direitos civis e que os legisladores acabavam de assinar sem conhecer detalhadamente.
O cineasta pergunta aos parlamentares "por que tão poucos membros do Congresso - na realidade apenas um - tem seus filhos no Iraque. O senhor enviaria os seus para combater?". Os legisladores se afastam sem responder. Moore também é autor de Tiros em Columbine (documentário que obteve um prêmio no Festival de Cannes e um Oscar em 2002), The Big One (1997), Canadian Bacon (1995), Pets or Meat (1992) e Roger and Me (1989). Dezenove filmes disputaram a Palma de Ouro no Festival de Cannes, iniciado em 12 de maio.
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