Quentin Tarantino em Cannes
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A entrevista se prolongou quando um jornalista pediu explicações sobre a qualidade cinematográfica da Palma de Ouro, único critério válido, como Tarantino sempre defendeu. "Um filme não tem por que mostrar belas imagens, pode ser simplesmente divertido, fazer rir ou chorar e isso é suficiente", disse um pouco nervoso o diretor de Kill Bill (2004), que se manteve em silêncio quando perguntado por Diários de Motocicleta, do brasileiro Walter Salles, um dos favoritos.
"Nossos debates foram muito longos e não vamos resumí-los, simplesmente não quisemos dar um prêmio a esse filme", disse a atriz Kathleen Turner, componente do júri.
O júri comentou que, por dois votos, a Palma de Ouro não foi para o finalmente Grande Prêmio Old Boy, de Park Chan-wook.
O presidente do júri, o diretor americano Quentin Tarantino, elogiou seus oitos companheiros: o crítico finlandês Peter von Bagh, a atriz americana Kathleen Turner, o diretor honkonguense Tsui Hark, o americano Jerry Schatzberg, o ator e roteirista belga Benoit Poelvoorde, a atriz francesa Emmanuelle Béart, a atriz e diretora britânica Tilda Swinton e a escritora americana Edwidge Danticat.
"Participei de outros júris e sonhava ter um como o deste ano. As pessoas que estão aqui são as mais maravilhosas com as quais já estive em minha vida", disse Tarantino. Em relação aos debates que os levaram à decisão final, Poelvoorde disse que tiveram cuidado para não cometer erros.
Em geral, boa parte desta inédita entrevista coletiva serviu para comentar o filme premiado e de como o júri se sentia gratificado por seu trabalho enquanto cada um dos dezenove filmes em competição eram debatidos. "Falamos de cada filme até ao ponto de esquecer nossos nomes. Era a única regra que nos tinhamos fixado", garantiu Tarantino, que não quis informar quais o filmes mais fracos, que também tiveram seu intenso debate.
Reiterou, por outro lado, mais uma vez, que não foi o conteúdo político, apesar de estar de acordo com ele, que deu a Palma de Ouro a Fahrenheit 9/11, um filme anti-Bush que "não pode ser apresentado como um simples documentário", pois é "muito mais". "Todos concordamos que era o melhor filme da competição", manifestou.
"Nossa mente cresceu graças a este filme e isso só se pode fazer com o cinema", considerou a atriz e diretora britânica Tilda Swinton. "O que contou foi o humor, o aspecto satírico, que faz com que seja um grande filme", afirmou Tarantino.
Um filme "verdaderamente belo", com o qual Emmanuelle Béart satisfez plenamente seu desejo de "sentir coisas" quando vai ao cinema, e do qual Tsui Hark ressaltou que aborda "um drama real" e fala de acontecimentos atuais, de gente "que morre", cujo humanismo "sentimos muito firmemente que deveria ser apoiado".
"O que mais nos marcou é que podíamos passar do pranto ao riso de um minuto a outro", disse a escritora americana Edwidge Danticat, que "aprendeu" muito de cinema em Cannes. Do prêmio a "uma das melhores atrizes do mundo", Maggie Cheung, por seu papel em Clean, de Olivier Assayas, e do roteiro de Comme une Image a Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri, Tarantino lembrou que "foram os mais fáceis de outorgar". Embora, acrescentou, Zhang Ziyi e Bacri poderiam ter sido, respectivamente, melhor atriz e melhor ator.
De qualquer forma, Tilda Swinton disse que "nenhum filme perdeu, mas que outro filme ganhou", o que corroborou Benoit Poelvoorde ao dizer que "todo o mundo ganhou já pelo mero feito de ter sido selecionado". Contrariamente ao prometido na tradicional entrevista à imprensa no início do Festival, "não pude exercer minha vingança escolhendo um filme medíocre", porque "não havia nenhum", acrescentou.
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