Michael Moore vence em Cannes
Foto: Reuters
Eles garantem que a consagração no Festival de Cannes, onde o documentário recebeu a Palma de Ouro, ajudará a reviver o gênero, esquecido por Hollywood nos últimos anos.
O longa se cercou de polêmica, depois que os estúdios Walt Disney proibiram a Miramax, sua subsidiária, de distribuir o filme, afirmando que eles não eram "uma companhia partidária" e que por isso não queriam lançá-lo em "pleno período eleitoral".
"A recusa da Disney em distribuir Fahrenheit 9/11 certamente foi a melhor campanha de publicidade para o filme", avaliou Larry Noble, diretor-executivo do Centro para a Política Responsável, com sede em Washington.
"Para começar, Michael Moore é um cineasta polêmico e provavelmente os que vão ver o filme são anti-Bush, mas a consagração em Cannes motivará as pessoas a assistirem ao filme e votarem contra Bush", destacou.
Com a aura de polêmica e o grande prêmio de Cannes, o filme não terá problemas para encontrar uma distribuidora, pouco depois de a Disney anunciar que cederá os direitos do filme à Miramax.
"Os americanos amam o desafio e Moore é, provavelmente, uma das personalidades mais polêmicas da indústria", disse Howard Suber, da Universidade da Califórnia.
"Ele chama a atenção de todos os meios de comunicação, devido à sua personalidade desafiadora. É um provocador profissional. E assim, garante a audiência de seus filmes", continuou.
Ao receber o prêmio, no sábado passado, o cineasta o dedicou "às crianças dos Estados Unidos e do Iraque e a todos aqueles que sofrem no mundo por causa das ações" dos Estados Unidos.
O público presente na cerimônia recebeu o anúncio do prêmio com um sonoro aplauso.
"O que fizeram?! Estou assolado com este prêmio e não tenho como expressar minha gratidão", disse Moore.
"Graças a vocês, os Estados Unidos não serão (mais) o único país onde este filme não será visto", disse, apostando em que agora vai receber propostas de distribuição em seu próprio país.
Fahrenheit 9/11 é uma crítica mordaz à forma como o governo americano conduziu a investigação sobre os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e manipulou a opinião pública para gerar uma psicose de medo para apoiar seus planos de guerra contra o Iraque.
O jornal New York Times avaliou neste domingo que "a recompensa de Moore vai além do mundo do cinema e das luzes" e destacou que foi uma "surpresa".
"Pouco importa o que você pensa sobre Moore, está claro que ele tem dinamite", avaliou o jornal.
O Los Angeles Times, por sua vez, dedicou uma crônica factual ao cineasta, na qual destacou que a Palma de Ouro é a primeira que consagra um documentário em quase 50 anos.
"Uma Palma de Ouro nem sempre tem influência na bilheteria, mas neste caso certamente ajudará", avaliou o jornal, que destacou que o anúncio do prêmio foi celebrado com um aplauso "contínuo" em Cannes.
Um jornal do sul dos Estados Unidos, o Atlanta Journal-Constitution, acrescentou uma nota de humor à crônica e mostrou uma caricatura do secretário de Estado, Colin Powell, com uma camiseta onde se lê "I Love Michael Moore" (Eu amo Michael Moore).
Sentado à sua frente, o presidente Bush e seu vice, Dick Cheney, dizem que Powell, cujas reservas no momento de se alinhar à política governamental alimentam rumores políticos, está outra vez "tomando distância" da Casa Branca.
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