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Cinema

 
 

Veneza: Felipe Hirsch estreia no cinema com "filme estranho"

01 de setembro de 2009 17h51

Cena de 'Insolação'. Foto: Divulgação

Cena de 'Insolação'
Foto: Divulgação

"Acho que faço teatro no lugar onde deveria haver cinema e cinema onde deveria existir teatro". A frase do festejado diretor teatral Felipe Hirsch, criador da Sutil Cia. De Teatro, vem a propósito da análise de sua primeira experiência como realizador no cinema. "Pode soar como brincadeira, mas acho que isso diz muito de minhas idéias sobre o modo de trabalhar essas linguagens", diz Hirsch em entrevista ao Terra. Acostumado a trabalhar com imagens gravadas em vídeo para seus espetáculos, como em Não Sobre o Amor, para ele era inevitável chegar ao cinema. "Acredito que uma linguagem pode trazer muita coisa a outra, em termos de dramaturgia".

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É essa tese que baseou a realização do longa-metragem Insolação, dirigido em parceria com Daniela Thomas, cenógrafa e colaboradora constante de Hirsch no teatro e de Walter Salles no cinema, como no recente Linha de Passe. O filme, que tem no elenco Paulo José, Simone Spoladore e Leonardo Medeiros, entre outros, será exibido no dia 6 de setembro na mostra paralela Horizontes do Festival de Veneza. Simone será a representante dos atores na festa italiana. "Depois do convite, brincava com a Daniela que não sabia se deveríamos exibir o filme no festival de cinema ou na bienal de arte, que acontece logo ali ao lado", diz o espirituoso Hirsch. "Digo sem problemas que esse é um filme muito estranho".

Por estranheza, entenda-se, segundo ele, uma linguagem cinematográfica nada convencional para contar quatro histórias de amor envolvendo diferentes tipos humanos numa Brasília que passa longe de cartão-postal. "Essa cidade é fruto de uma utopia, de um sonho que não deu certo e hoje tem um lado de mazela, de fracasso urbano, que não é evidente", aponta Daniela. "É essa carcaça de cidade que utilizamos, não aquele da bela arquitetura ou da cena política". Ela conta que a intenção de fazer cinema surgiu para ambos há seis anos, momento em que Hirsch estava em sintonia com o jovem dramaturgo Will Eno, de quem levava ao palco naquele momento a peça Temporada de Gripe. Eno, por sua vez, apresentou ao diretor o escritor Sam Lipsyte. Estava formada, então, a dupla de roteiristas e a idéia inicial do filme. "Eno e Lipsyte são dois nomes da nova geração de autores americanos, de um talento no diálogo apaixonante, de um humor implacável de auto-ironia e gozação".

Complementou o projeto o interesse que Daniela e Hirsch tinham naquele momento sobre a literatura russa de contos. Autores como Tchecov foram pinçados então como influência para falar da desilusão amorosa de que trata Insolação. Apesar das fontes privilegiadas, Daniela não fala em trama. "Dizer isso já seria demais; diria que é uma série de personagens com alucinações amorosas; fizemos um filme de trás para frente, ou seja, vamos entendê-lo na medida em que passarmos a vê-lo diversas vezes". Esquizofrênico é a melhor definição para ela da fita.

Quanto ao trabalho com Hirsch no cinema, ela diz que a melhor contribuição foi seu estilo entrecortado que o diretor levou para as telas. "Seu teatro são imagens em movimento, mas agora ele soltou as amarras de vez". Hirsch, por sua vez, não perde a chance da piada. "Eu dizia que, neste projeto, a Daniela jogava o osso e eu ia atrás". E completa: "eu já fiz mais de cinqüenta projetos artísticos e tinha receio que a história me escapasse das mãos, e foi nisso que a Daniela fez toda a diferença". A expectativa para sua estréia num festival de cinema - situação em que Daniela já é escolada - é encontrar um público talentoso, com bagagem cultural. "Não espero leituras simplistas ou grosserias como dizer que (Insolação) é teatro filmado ou coisas do gênero."

Redação Terra