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Cinema

 
 

'Toy Story 3' é filme mais emocionante e assustador da série

15 de junho de 2010 16h25 atualizado em 18 de junho de 2010 às 18h59

'Toy Story 3' prova que, mais uma vez, a Pixar não erra. Foto: Divulgação

'Toy Story 3' prova que, mais uma vez, a Pixar não erra
Foto: Divulgação

Brincar. Colecionar brinquedos, raros ou não. Acreditar no faz de conta. Habitualmente, tais conceitos são aplicados a crianças ou, na pior das hipóteses, nas inúmeras teses jornalísticas ou comportamentais dedicadas a tentar compreender os adultos e seus action figures. Toy Story mudou essa história ao transformar essa brincadeira em experiência formativa mundial; seja pela humanização dos brinquedos ou pela recíproca relação de amor, respeito e carinho entre o então garotinho Andy e sua vasta coleção liderada pelo caubói Woody.

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Quinze anos se passaram, Woody, Buzz, Jessie e Cia transcenderam a tela para ganhar lugar no imaginário de toda criança, jovem ou adulto que tenha contato com o cinema. Seus personagens e arquétipos ocupam o mesmo espaço de princesas em perigo, príncipes encantados e bruxas más da literatura, mas com um diferencial: Toy Story nasceu para ser visual e visto, instantaneamente, por centenas de milhares de adoradores.

E nem mesmo a ida de Andy para a faculdade e o destino incerto de seus companheiros de plástico e pano são capazes de ameaçar esse laço, afinal Toy Story 3 chegou! E o melhor filme da trilogia estreia com emoção, drama e um primor técnico inigualável.

É noite de sexta-feira. Faz frio na Bay Area. Terra é o único portal brasileiro convidado a assistir Toy Story 3 dentro da sala de projeção da Pixar, em Emeryville. Momentos de expectativa antecedem o início da projeção, afinal, o que esperar desse terceiro filme da trilogia dos brinquedos? E a resposta vem com um clichê: a Pixar fez de novo. Se continuações de sucesso qualitativo já são raras, o que dizer de célebres terceiras partes?

Toy Story 3 entra para esse seleto grupo instantaneamente ao ultrapassar limites narrativos e encerrar o ciclo. Pelo menos temporariamente.

Com uma abertura memorável, precedida por mais um inesquecível curta (Day & Night, um dos mais arrojados e criativos da história da companhia), Toy Story 3 busca alguns elementos de suas origens e faz uso da nova tecnologia disponível para dar vida ao sonho, ou melhor, à imaginação de toda criança. Independente da idade.

O diretor Lee Unkrich e sua equipe foram meticulosos e seguiram à risca o maior mandamento de John Lasseter: faça um filme do qual sinta orgulho e cause emoção; o público vai seguir. Isso valeu tanto para roteiro quanto para o aspecto técnico, já que todos os personagens foram redesenhados e animados. Duas razões: incompatibilidade com os modelos iniciais com o sistema atual de animação e zelo excessivo. Cada costura, cada tonalidade de tecido, cada textura fora recriada à perfeição.

Mas esse é o detalhe, um elemento que fará diferença apenas no DVD e Blu-Ray e ao fã mais dedicado. No cinema, tamanha dedicação ajuda, mas perde importância perante uma narrativa digna da lista de Melhor Filme no Oscar do ano que vem. O público conhece os personagens, se importa com eles, entretanto, não faz ideia dos limites a serem testados pela ida de Andy à faculdade.

E é aí que Toy Story 3 surpreende, ao seguir o caminho do drama pesado em vez de se prender à comédia leve e previsível. É bom sinal compreender que um grupo de brinquedos pode causar tantas emoções sem exageros. Há momentos divertidos, claro, mas são as seqüências dramáticas que fazem a diferença. As animações de Walt Disney sempre assustam um pouco, mas algumas barreiras foram ultrapassadas com esse filme - uma espécie de campo de concentração para brinquedos. Não é à toa que a prisão de Alcatraz foi uma das locações estudadas para inspirar boa parte dos cenários do longa-metragem.

Ao mesmo tempo em que Toy Story 3 reforça a necessidade pela fé nas pessoas, também reafirma uma das constantes de Dickens: as pessoas são o que são, e dificilmente mudam. Seja pela crença inabalável de Woody em sua missão ao lado de Andy, seja pela eterna desconfiança e negatividade do Sr. Cabeça de Batata. As circunstâncias podem provocar reações diferentes, mas, essencialmente, os brinquedos sofrem com os mesmos medos e ansiedades. Especialmente Jessie, que teme ser abandonada novamente e, pelo aspecto cômico, Buzz com a eterna sombra do patrulheiro obstinado. Aliás, é Buzz quem rouba a cena ao dar uma palha em espanhol.

Se já era impossível olhar para um brinquedo com o mesmo distanciamento e impessoalidade depois dos dois primeiros filmes, fica mais difícil olhar para a pessoa ao seu lado e não pensar em suas reações nos momentos mais definitivos e aterrorizantes da vida. Os protagonistas de Toy Story 3 são brinquedos de plástico e pano, seu mundo tridimensional é gerado por computador, mas suas emoções são totalmente humanas.

É a maior metáfora do cinema comercial moderno, que, desta vez, foi muito além do infinito. Conter as lágrimas é tão improvável quanto um grupo de brinquedos que ganha vida longe dos olhos dos humanos.

Especial para Terra