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Cinema

 
 

Atriz de 'Toy Story 3' descobre família no Brasil

18 de junho de 2010 11h33 atualizado às 18h57

Atriz falou com exclusividade sobre o filme, família e cinema . Foto: Getty Images

Atriz falou com exclusividade sobre o filme, família e cinema
Foto: Getty Images

Toy Story parece ser feito para os meninos cheios de imaginação, mas as mulheres desse universo dão conta do recado com grande estilo. Que melhor exemplo que a caubói Jesse, com seu chapéu vermelho, sua postura arrojada e motivadora e um charme delicado para inspirar as garotas?

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A Pixar pode fazer Jesse dar piruetas, saltar de cavalo e até mesmo dar um show de dança espanhola, mas aquela voz já marcante é característica exclusiva da atriz Joan Cusack, que entrou para o time de Toy Story no segundo filme e retorna à ação, com estilo e carisma, em Toy Story 3.

Mulher elegante, atenciosa e deveras consciente do mundo à sua volta, Joan Cusack conversou com exclusividade com a reportagem do Terra, na sede da Pixar, em San Francisco.

Estrela de filmes como Brinquedos, Será Que Ele É?, Noiva em Fuga, essa atriz de 47 anos conversou sobre diversão na era moderna, a influência da tecnologia na criação dos filhos, descobriu ter família no Brasil e comentou até mesmo a relação da jovem atriz Kristen Stewart com a mídia.

A mudança de atuação ao vivo para animação foi uma grata surpresa, qual aspecto mais te impressionou?
A Pixar tem um bom processo, que gera filmes melhores, com boas intenções, cheios de atenção e que acontecem no tempo certo, com as equipes certas. Sinto muita confiança aqui. Um terceiro filme é arriscado, mas pensaram muito em como fazer direito. Foi tudo tão novo, com Toy Story 2. Fiquei empolgada mas, para ser sincera, não sabia o que esperar. Desconhecia totalmente esse negócio de trabalhar em animação e foi até natural encarar como uma nova faceta do meu trabalho. Realmente nova!

Você entrou no time na continuação, que já tem seus riscos, e agora retorna numa terceira parte, que a maioria dos estúdios faria simplesmente para gerar mais dinheiro. Qual tipo de evolução de personagens ou da história você sentiu para voltar em Toy Story 3?
A evolução é chave aqui. O pensamento de todo mundo era: vamos fazer um filme que tenha algo a dizer. E com isso vem a grande dúvida: como se manter relevante? Qualquer um passa por isso. E como fazer isso constantemente? Toy Story aposta na idéia de, que se você ama alguém, você precisa acreditar nesse amor bilateral. Há muito que se ganhar dessa relação. Muito mais do que o aspecto financeiro, Toy Story 3 me transmitiu relevância e isso já bastaria.

Como você encara essa relevância nos outros filmes da Pixar?
A mensagem de Wall-E (ela adora o filme!) é clara, por exemplo, mas já parou para pensar que Monstros S.A. foi lançado relativamente perto do 11 de Setembro? Quem era o monstro do armário? Do que devíamos ter medo? Foi um momento de extrema sincronia e relevância discursiva imensa. Alguns perguntas precisam ser feitas e cada uma tem sua forma. Por alguma razão, a Pixar sabe essa fórmula.

Em termos de atuação, trabalhar apenas com a voz exige menos ou mais do profissional? Aliás, quando te contratam é somente por sua voz ou há algo mais?
Penso que se fui escolhida é por que querem uma atriz. Se só vão exibir a voz, ou um close up, ou seja lá qual necessidade o diretor imaginar, não importa. Tenho que misturar tudo que tenho a oferecer e transmitir através da personagem. Doo meus instintos e colaboro da maneira que acho mais relevante naquele momento.

E até onde seus instintos permitiram contribuir para a fabulosa dança espanhola passo doble de Jesse e Buzz Lightyear?
(risos) Não entendo absolutamente nada de dança espanhola. Meu trabalho foi ficar gritando "uhuuu", como se estivesse sendo jogada de um lado par ao outro. É mais divertido só imaginar essas coisas, assim não corro o risco de fazer feio (risos).

Qual o elemento mais marcante em Toy Story 3: imaginação ou dedicação?
Imaginação acaba sendo o principal. Começa pelo que Andy faz com os brinquedos, então esse conceito contamina o resto do elenco. Sempre penso, eles são realmente brinquedos? O que Jesse enfrenta é tão real quanto você e eu, mas claro que existe o aspecto mais infantilizado pelo formato daqueles personagens. A única coisa que nos limita somos nós mesmos, quando queremos ou acreditamos em algo. Jesse vive esse dilema.

Qual o papel da imaginação na sociedade atual?
É o maior guia para o ser humano encontrar empatia, compaixão e compreensão. Ser capaz de imaginar algo inexistente ou uma sensação que não está lá. O simples fato de tentar recriar a emoção de outra pessoa e responder a ela, ou seja, eu vejo um ator que simula uma emoção e respondo com outra simulação. Isso me mostra que temos capacidade de sonhar com coisas boas. E todo sonho pode se tornar realidade.

E o quão importante são suas emoções nesse momento?
Existe um pouco de projeção, mas crença é o maior ponto. Sou capaz de acreditar na existência de uma garotinha carente, com dúvidas sobre seu valor e que só quer ser amada novamente. Imaginar isso é fácil. É um reflexo dos meus sentimentos. Quanto mais os dedico ao personagem, mais próximo do público posso ficar. Acreditar e imaginar não é o mesmo que mentir. A mentira é facilmente percebida.

Mas como reforçar isso numa sociedade em que é necessário crescer rapidamente é obrigação?
Como mãe, sei que é impossível lutar contra a época em que se vive. É uma batalha perdida. Muito mais importante do que pensar nos problemas envolvidos é entender como a geração atual pode transformar isso em ferramenta capaz de ajudá-los a crescer de forma produtiva. Pode parecer exagerado para os mais velhos, mas está na medida habitual para eles. E tem o elemento da descontração sempre envolvido com jogos e outras tarefas lúdicas. Fazia isso com tabuleiros, umas duas vezes por semana, hoje em dia eles fazem isso diariamente na TV. É uma questão de fluxo.

Como isso funcionou com seus filhos?
Eles se esforçam muito na escola, seja pelo aspecto social ou acadêmico. Então, chegar em casa e ligar o vídeo game ou o computador para se descontrair não é tão malévolo como algumas pessoas pensam. Claro que discordo da idéia de passar o tempo todo vidrado nessa tarefa e matando a vida social.

Mas muitos dos jogos e dinâmicas atuais são criados exatamente com essa função: fazer amigos com ajuda dos jogos e computadores.
Tudo é válido, contanto que se conheça seus filhos. É preciso haver confiança, pois se qualquer situação começa a sair do controle e se tornar prejudicial, aí é preciso intervir imediatamente.

Qual a importância da família para você?
Família é tudo. Por isso adoro Toy Story 3, pois as pessoas ao seu redor e o que elas representam. Sem família nada faz sentido para mim.

Por isso escolheu fazer aquele intenso papel em My Sister´s Keeper? Foi surpreendente! Gostou mesmo?
Adorei!
Essa é uma das razões, valorizar os sentimentos e a importância de algumas idéias. O cinema é comercial, mas quem disse que não podemos incluir alguns ensinamentos e pessoas boas no dia a dia das pessoas?

Então escolher um papel vai além da simples necessidade de trabalhar? Já escolheu muitos papéis pensando nos seus filhos?
Quero ser um bom modelo para meus filhos. É a melhor que posso dar a eles, mostrar que sou capaz de manter minha vida em evolução, sempre produzindo e dando bons exemplos. Às vezes eles comentam alguns dos filmes, mas não ficam tão impressionados e empolgados. Por exemplo, na escola, alguns amigos vão falar com eles por minha causa e eles estão bem sofisticados nesse aspecto (risos). Dizem que é apenas um trabalho, que sou legal e não ajo como estrela nem nada desse tipo (risos). Ainda bem! Tenho muito orgulho deles.

Falando em família, você ou seu irmão (John Cusack) sabem que existe um braço da família Cusack no Brasil?
Sério? Que máximo! Não sabia disso, de verdade! Temos passado muito tempo na Venezuela e na Nicarágua por causa de algumas ligações familiares e sempre pensamos em descer um pouco mais até o Brasil. Agora já temos um motivo para visitar! (risos). Seria ótimo conhecer membros distantes da família.

Qual o papel do cinema na sua vida?
Em muitos aspectos, acho que posso me comparar a uma pessoa que ganhou na loteria. Há um livro muito interessante chamado The Outliers, de Malcolm Gladwell, que aborda histórias de sucesso e o sonho americano, mas reconhece que é preciso ser "vítima" das oportunidades certas ou até mesmo do acaso. Trabalhar duro e treinar à perfeição pode não servir de nada, a não ser que algo especial aconteça e dê vazão a esse preparo. Sei que tive sorte.

Quando você notou?
Quando percebi que esse negócio era difícil e cruel. Vi diretores sempre desesperados para encontrar a nova revelação, para caçar o grande talento e um grande número de atores ficando de lado pelas razões mais irrelevantes do mundo. Fiquei muito frustrada com o trabalho, mas foi aí que notei que tive sorte por não ser jogada de lado e sempre encontrar trabalho. Isso me ajudou a afastar a frustração.

E como superou essa frustração?
Notei que nada mudaria com a velocidade com que eu esperava. Às vezes nem mesmo uma nova geração é capaz de mudar as coisas, demora muito. Sejam papéis ou dinâmicas. Se eu ficasse brava e ranzinza, teria perdido grandes oportunidades ou teria deixado de viver coisas boas seja profissional ou pessoalmente.

O Sonho Americano mudou?
Um pouco. Vivemos algo mais parecido com o "Narcisismo Americano" ou o "Convencimento Americano" e a coisa ficou feia. Sinto que uma nova mudança esteja próxima, aliás, uma nova aproximação do ideal positivo desse conceito. As pessoas sabem das falhas que os Estados Unidos têm, mas a maior parte das coisas funciona. Acho errado dizer que não há ninguém decente em Wall Street ou no governo. Há pessoas boas em todos os lugares, gente que tenta melhorar o país, mas nunca é simples, ainda mais quando se procura algo altruísta. Ainda somos um país jovem e temos muito a evoluir.

Mas a atenção dos leitores da internet, das revistas de celebridades e dos curiosos se plantão continua muito focada nesse "Narcisismo Americano", não? O culto à celebridade pela celebridade. Não há mais mérito.
Vejo muita transparência no que significa ser uma celebridade atualmente. Por exemplo, Kristen Stewart fala sobre ser perseguida e incomodada por fotógrafos e não há nada de glamuroso nisso. Muita gente que buscava a celebridade pela celebridade não sabia de toda essa influência negativa envolvida no pacote. Agora tudo é aberto, sabemos dos exageros da mídia e das celebridades. A cultura está evoluindo nesse aspecto. Temos que nos perguntar: precisamos mesmo de toda aquela exposição? Há benefício? Não tenho a resposta, mas o questionamento é válido.

Por falar em mudanças, Toy Story muda o modo como as pessoas se relacionam com suas memórias? Aconteceu algo assim com você?
Mais ou menos. Esses filmes reforçam alguns valores como a imaginação. A nova personagem, Bonnie, por exemplo, é criativa e bondosa. Ela é a representante ideal da nova geração e ver um estúdio desse tamanho dando atenção para esse tipo de reflexão é impressionante. Gosto da idéia de que mesmo se você for aquela criança mais quietinha e retraída, não significa que não estava fazendo nada ou está envergonhada. Um mundo gigantesco pode estar acontecendo diante dos olhos de todos, mas ninguém percebe ou tem curiosidade suficiente para perguntar do jeito certo.

Especial para Terra