inclusão de arquivo javascript

Cinema

 
 

Fã: fechado, "Belas Artes é mais que cinema, é conceito"

18 de março de 2011 16h54 atualizado às 17h51

Cine Belas Artes fez sua última exibição na quinta-feira (17). Foto: Caio Buni/Futura Press

Cine Belas Artes fez sua última exibição na quinta-feira (17)
Foto: Caio Buni/Futura Press

Bruno Martins

A Rua da Consolação não é mais a mesma. Principalmente o número 2423. O Cine Belas Artes fechou. Quinta-feira, 17 de março de 2011 foi o dia da última exibição de filmes nas salas do tradicional cinema de rua de São Paulo. Em mais de seis décadas, foram inúmeras películas exibidas em suas grandes telas. A professora universitária Vanessa Dantas, 35 anos, esteve na sessão que marcou o fechamento do local e, um dia depois, fez um desabafo: "o Belas Artes é mais do que um cinema, é um conceito e, na minha opinião, impossível de ser reproduzido."

Para homenagear esse que fez parte da vida de tantos moradores e visitantes da cidade, um grupo de pessoas se reuniu para celebrar os seus últimos minutos de vida - e, claro, assistir a um último filme. "O cinema estava lotado, desde o saguão, com fila na rua. Foi montada uma 'árvore' de bilhetes onde as pessoas escreviam, deixavam seu registro de saudade, protesto, indignação. Muitos fotógrafos, políticos, TV... As pessoas tiravam fotos com os seus celulares, todos queriam registrar o momento. O clima era de saudosismo. Foi uma bonita festa", disse Vanessa.

Frequentador assíduo do Belas Artes, o jornalista Alan de Faria, 27, lamenta a perda que a sétima arte sofre. "Não sei se é um sentimento de tristeza que me domina. É mais lamentação do que tristeza, porque é uma opção cultural que a gente perde em São Paulo."

O motivo todo mundo já conhece: o proprietário não quer renovar o contrato de aluguel. Pelo que é dito, uma grande loja deve abrir suas portas no endereço, mas a crise começou mesmo quando o cinema perdeu o patrocínio do HSBC, no primeiro trimestre de 2010. Quando o dono do imóvel foi procurado para a renovação do contrato, exigiu um aumento do valor. Queria R$ 150 mil pelo uso do espaço - valor muito acima dos R$ 60 mil pagos mensalmente. Apesar das tentativas de negociação, não chegaram a nenhum acordo.

"O fechamento representa que o capital falou mais alto. Mas, sem entrar nesse assunto, representa mais uma parte da desglamourização do cinema em São Paulo. Eu prefiro muito mais fazer essa tríade (Belas Artes, Cine Bombril - que hoje virou cine livraria cultura - e/ou Espaço Unibanco) a ver um filme em cinema de shopping - por mais perfeito e confortável que seja. Tem quem prefira o conforto de ir ao cinema num shopping, mas eu prefiro aproveitar o charme do cinema de rua, ainda mais sendo perto da Av. Paulista. Ontem foi um dia triste", comenta o produtor Fábio Camargo, 24.

Mas o que fazia desse cinema um lugar tão especial? "Tudo. Em primeiro lugar, a programação era diferenciada. Em segundo, o público que frequentava o Belas Artes é formado por pessoas que gostam de um bom filme e que não encaram o cinema como uma simples opção de lazer. Cinema é coisa séria para essas pessoas. O Belas Artes possuía identidade própria, diferente das grandes redes, porque tem história. Até o cheiro era diferente. É fato: São Paulo perdeu!", explica Vanessa.

E não é só da perda de salas de cinema que os apaixonados pelo Belas Artes falam não. Junto com ele, a cidade perde parte de sua identidade. Com pesar em suas palavras, Faria descreve bem o sentimento de cidadão: "Tem todo o símbolo. Quantas vezes a gente não quer encontrar os amigos e fala: 'Vamos nos encontrar em frente ao Belas Artes?'. Era um ponto de referência de cultura da cidade de São Paulo. Independente se você era frequentador ou não, as pessoas sabiam o que era o Belas Artes", finaliza.

Terra