O filme foi recebido com aplausos pela crítica especializada, que avaliou especialmente o trabalho de um dos protagonistas - o australiano Heath Ledger - e um roteiro que evita em todo momento os estereótipos gays.
O outro filme que concorreu nesta sexta pelo Leão de Ouro, premiação máxima do Festival de Veneza, foi um "filme surpresa", que não estava anunciado e não havia informação sobre ele, chamado Takeshi's, de Takeshi Kitano.
Trata-se de um exercício de egolatria dissimulado pelo humor em que o diretor japonês se desdobra em vários personagens em um ambiente que, às vezes, toca o surrealismo.
A obra de Ang Lee, que dura mais de duas horas, tem várias contradições formais que chamam a atenção do espectador. Por um lado, a fotografia: a câmara do mexicano Rodrigo Prieto alterna cenas comerciais e turísticas de paisagens maravilhosas com outras desoladas.
Quanto à apresentação e aparência dos protagonistas, um extraordinário Heath Ledger e um surpreendente Jake Gyllenhall, em nenhum momento o diretor cai no recurso fácil de mostrá-los afeminados. No entanto, sempre aparecem limpos, o que não é verossímil para dois pastores de ovelhas que permanecem isolados durante meses.
A história começa em Wyoming, onde dois trabalhadores rurais são contratados para cuidar um enorme rebanho de ovelhas ao pé da majestosa montanha Brokeback. A solidão, o crescente frio e uma intimidade que nasce lentamente os empurram um contra outro em um redemoinho de paixão do qual não podem fugir.
Quando termina o trabalho cada um deles retoma sua vida, casam e têm filhos. Mas não conseguem esquecer e freqüentemente se encontram em segredo.
A impossibilidade de divulgar a relação e a vida dupla que levarão pelo resto de suas vidas tinge toda a história de tristeza e frustração.
Ang Lee, que nasceu em Taiwan e foi depois para os Estados Unidos, disse após a exibição de seu filme que "todos temos dentro do coração uma montanha Brokeback. É esse lugar secreto ao que sempre queremos voltar ou o lugar que sempre se procura e nunca se encontra. É a última ilusão, mas também a última razão para viver: o sonho de uma total e honesta conexão com outra pessoa."
Na opinião dele, o filme é "uma grande história de amor americano".
Brokeback Mountain retoma, de outra perspectiva e com maior profundidade, o tema do homossexualismo que Ang Lee tratou em um filme anterior, Hsi yen (1993), lançado internacionalmente com o título de O Banquete de Casamento.
Quanto a Takeshi's, Kitano narra uma história em que sonha ser seu alter ego ator, que depois retorna a sua identidade e termina levando uma vida normal, fora do mito e da popularidade.
Com uma viagem vertiginosa aos confins de seu próprio cinema, Kitano tenta surpreender o espectador com um complicado jogo midiático cheio de flashbacks e espelhos que por momentos confunde e cansa.
Escritor, diretor e ator, Kitano nasceu em Tóquio, em 1947, e ficou internacionalmente famoso com Hana Bi, em 1997. Outro de seus filmes mais conhecidos é Zatoichi, de 2003.
Após a exibição, Kitano disse que tinha esse projeto há muitos anos, mas que, já concluído, não tem certeza de ter conseguido o que queria. "No entanto, cada vez que vejo o filme me surpreende o estranho universo que criei", acrescentou.
Por último, Kitano recomendou aos espectadores que não tentem compreender logicamente seu filme, mas procurem senti-lo.
- EFE - Agência EFE - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da Agência EFE S/A.