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Cinema

 
 

Binoche vive mulher obcecada por Maria Madalena

06 de setembro de 2005 15h34 atualizado em 07 de setembro de 2005 às 05h03

O diretor Abel Ferrara disse na terça-feira que seu filme Mary, sobre uma atriz obcecada pelo personagem de Maria Madalena, não teria sido feito se Mel Gibson não tivesse ganho muito dinheiro com A Paixão de Cristo.

Ferrara, cujo filme é um dos 20 que competem pelo cobiçado Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza, disse que, até o épico de Gibson, de 2004, poucos estúdios estavam interessados em financiar filmes sobre temas ligados a religião ou à Bíblia.

"A realidade é que, por muito tempo, ninguém se interessava por filmes religiosos", disse o cineasta norte-americano a repórteres. "Felizmente, Mel tinha o dinheiro em seu bolso. Ele é o grande vencedor, e ele merece isso, e acho que nós nos beneficiamos do que ele conseguiu", disse Ferrara, nova-iorquino que ganhou fama com filmes violentos como Driller Killer e Vício Frenético.

Mary é estrelado pela francesa Juliette Binoche, no papel de uma atriz que, depois de retratar Maria Madalena na tela, fica obcecada por ela. Os outros dois personagens principais são um poderoso jornalista de televisão (Forest Whitaker) que parte em sua jornada própria de descoberta espiritual e um arrogante cineasta encarnado por Matthew Modine.

No filme, perguntam ao personagem de Modine por que ele fez um filme sobre Maria Madalena, e ele brinca dizendo que tem a esperança de fazer um sucesso comercial tão grande quanto o de Mel Gibson.

Rodado em Roma, Nova York e Jerusalém, a narrativa de Ferrara é cercada de imagens da violência no Oriente Médio. Ele repete as imagens, hoje imortalizadas, da morte televisionada do garoto Mohammed al-Dura, morto num fogo cruzado entre palestinos e soldados israelenses, que se tornou símbolo da luta dos palestinos por um Estado próprio.

Papel de Maria Madalena Revisto
Ferrara disse que o fato de Maria Madalena ser retratada no filme dentro de seu filme é coerente com o processo recente de reavaliação de quem ela realmente foi, algo que foi incentivado pela ascensão do feminismo na década de 1970.

O personagem de Binoche no filme dentro do filme é uma confidente próxima de Cristo e discípulo chave dele. "Embora seja isso que nos tenha sido dito durante séculos, Maria Madalena nunca foi prostituta - ela era descrita como pescadora", disse Binoche nas notas de produção do filme.

O tratamento que Ferrara dá a Maria Madalena pode atrair comparações com O Código Da Vinci, de Dan Brown, que está sendo transformado numa grande produção de Hollywood estrelada por Tom Hanks. A premissa básica da obra de Brown é que Jesus se casou com Maria Madalena e teve filhos, alegação que levou o Vaticano a pronunciar-se contra o livro.

"Fui criado como católico, e na criação católica você não é ensinado a pensar por conta própria", disse Abel Ferrara.

Reuters
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