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Cinema

 
 

Começam a se definir os favoritos ao Leão de Ouro

08 de setembro de 2005 15h42 atualizado às 16h11

Um filme chinês sobre a evolução de Xangai, da Revolução Cultural até os anos 80, apresentado nesta quinta-feira no Festival de Cinema de Veneza, está entre os favoritos ao Leão de Ouro, ao lado do italiano La Bestia nel Cuore, de Cristina Comencini, e o americano Good Night, and Good Luck, de George Clooney.

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A dois dias do encerramento do festival, três filmes, com argumentos e abordagens opostos, têm sido as obras mais elogiadas e apreciadas por críticos e especialistas, que este ano não perdoaram a presença de fitas longas, com diálogos e cenas complexos.

Muitos dos 20 filmes selecionados já foram descartados da lista de favoritos, mas falta exibir o aguardado O Jardineiro Fiel, uma co-produção entre Quênia, Reino Unido e Alemanha, dirigido pelo brasileiro Fernando Mereilles, com projeção prevista para esta sexta-feira.

Para muitos observadores, os filmes na disputa abordaram temas pouco criativos e se sentiu a ausência de jovens inovadores, com linguagens e técnicas novas, presentes de forma maciça na seção dedicada aos curtas-metragens.

"Um festival para a terceira idade", pichou um anônimo no "muro das lamentações", parede criada por um conhecido apresentador nos arredores do Palácio do Cinema para que os espectadores possam expressar suas opiniões livremente.

A "Mostra do Establishment", como tem sido chamado o festival veneziano, tem sido criticada por se deixar condicionar pelas exigências das produtoras americanas, do mercado e da distribuição, embora continue oferecendo espaços - menores do que no passado - para a filmografia inclassificável, que tradicionalmente era valorizada no festival.

A forte presença do cinema asiático tem sido plenamente justificada e merece um prêmio o filme Changhen Ge, de Stanley Kwan (Hong Kong), baseado no romance homônimo de Wang Anyi, best-seller na Ásia, que conta através da vida de uma mulher de beleza extraordinária a transformação de Xangai, de porto elegante e refinado a uma cidade comunista e sombria.

"Não se trata de nostalgia do passado, mas de comparar a Xangai dos nossos dias com aquela do passado. É a história de uma mudança", disse Kwan.

As imagens elegantes, acompanhadas de uma agradável trilha sonora de corte ocidental, ilustram a vida da bela Sammi Cheng, que permanece em sua cidade desde o nascimento da República Popular, passando pela Revolução Cultural de Mao, até o presente recente, em um lapso de tempo que vai de 1947 a 1981.

Apesar de ter sido traída por seus grandes amores, Cheng tenta viver com dignidade e se adaptar à nova realidade, embora lamente ter ficado em sua cidade e não ter partido, como todos os seus amantes, amigos e parentes para Hong Kong, San Francisco ou São Paulo.

"Se ela não tivesse sido tão forte, não teria resistido", comentou Stanley Kwan.

O segundo filme italiano na disputa, dirigido por Cristina Comencini, que aborda de forma eficaz o doloroso e difícil tema do incesto, foi ovacionado pela crítica, particularmente severa nesta edição.

Baseado em um romance da própria diretora, o filme, protagonizado pela jovem atriz italiana Giovanna Mezzogiorno, fala de um tema que em muitos países é tabu: a família, as relações sexuais de um pai com seus filhos e o peso desse segredo.

"Parece-me incrível que queiram proibi-lo a menores de 14 anos. É que não se pode tocar nem na família, nem na homossexualidade feminina na Itália", disse a diretora, indignada.

Com o filme de Comencini, a Itália espera finalmente ficar com o cobiçado Leão de Ouro, já que o último foi para Gianni Amelio, em 1998, embora muitos temam que George Clooney, até agora o grande favorito com um filme-denúncia sobre o macarthismo, se imponha com uma obra "politicamente correta".

AFP
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