O filme de Clooney, que conta a luta do jornalista Edward Murrow contra o macarthismo imperante nos Estados Unidos dos anos 50, todo filmado em preto e branco e com seqüências e gravações originais da época, convenceu tanto a crítica quanto o público.
Faltando apenas um dia para o encerramento do festival, o cineasta, que vive boa parte do ano no Lago de Como (norte da Itália), voltou a Veneza, o que muitos consideraram ser um sinal de que não sairá da mostra de mãos abanando.
Não se exclui, tampouco, que o ator David Strathairn, que interpreta Murrow, pioneiro do jornalismo televisivo americano e inimigo do senador Joseph McCarthy pelos métodos que usava para perseguir os chamados inimigos do país, receba a Copa Volpi, prêmio para a melhor interpretação.
A última vez que um diretor americano recebeu o Leão de Ouro foi em 1993, com Short Cuts - Cenas da Vida, do consagrado Robert Altman.
A tarefa do júri, presidido pelo italiano Dante Ferretti e pelos cineastas Claire Denis (França) e Amos Gitai (Israel), entre outros, não será fácil pela diferença de estilos e narrativa dos 20 filmes concorrentes.
Entre os prognósticos da imprensa italiana está ainda Brokeback Mountain, o primeiro "western gay", do diretor Ang Lee, que conta de forma delicada e sóbria uma história de amor nos anos 60 entre dois vaqueiros rudes em um monte perdido dos Estados Unidos.
O australiano Heath Ledger, que interpreta valentemente um dos dois caubóis, é candidato à Copa Volpi por sua destreza como ator, demonstrada também em outros dois filmes, Casanova e Irmãos Grimm.
Na lista dos favoritos foi incluído na última hora o filme La bestia Nel cuore, da italiana Cristina Comencini, ovacionado por público e imprensa pela capacidade de contar no cinema uma história dramática, como o trauma de ser molestado sexualmente pelo pai na infância.
Os atores Giovanna Mezzogiorno e Luigi Lo Cascio, muito bem dirigidos pela filha do grande mestre do cinema italiano, Luigi Comencini, também estão entre os prováveis vencedores.
O cinema asiático, convidado de honra da edição de 2005, poderia ser este ano o grande perdedor, pois só o filme Lady Vendetta, do coreano Park Chan-wook, protagonizado pela belíssima Lee Young-ae, entrou na disputa.
Os três filmes franceses na competição - Les amants réguliers, de Philippe Garrel, uma volta lírica às revoltas de maio de 1968; Gabrielle, de Patrice Chéreau, sobre as contradições de um casal; e Vers le sud, de Laurent Cantet, uma análise sobre o turismo sexual feminino - são apoiados por parte da crítica e não se exclui que venham a receber um reconhecimento importante.
O festival, que este ano se desenvolveu com mais ordem e sob intensas medidas de segurança pelo temor de atentados, apresentou em caráter hors-concours onze estréias mundiais produzidas por Hollywood, entre elas o filme de animação A Noiva Cadáver, de Tim Burton, considerado uma verdadeira obra-prima.
"Não me sinto culpado pela ausência do cinema africano, árabe ou sul-americano na Mostra. Eu mesmo fui produtor de filmes destas regiões. A indústria cinematográfica em muitos países está morta", justificou o diretor da mostra, Marco Mueller, duramente criticado por esta decisão.
A notícia veiculada na véspera de que Roma inaugurará, em outubro de 2006, um festival de cinema internacional foi recebida como um desafio pelos organizadores da Mostra.
O festival romano fez tremer as autoridades venezianas, que temem perder o brilho e o prestígio conquistados em mais de 70 anos de existência.
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