inclusão de arquivo javascript

Cinema

 
 

Filme latino abre disputa em Cannes

15 de maio de 2003 18h04 atualizado às 18h11

Cannes viveu nesta quinta-feira um dia intenso com a reunião de 25 ministros da Cultura e a estréia de três filmes de diretores latino-americanos e da segunda parte da trilogia The Matrix.

O diretor chileno nacionalizado francês Raoul Ruiz abriu hoje a mostra competitiva pela Palma de Ouro com sua "comédia suíça" Ce jour-la, sobre a qual conversou com a imprensa no mesmo tom do absurdo surrealismo e lúcido delírio de seu filme, estrelado por Michel Piccoli, Bernard Giraudeau e Elsa Zylberstein.

Fora da competição, mas dentro da mostra oficial Um Certo Olhar, o diretor argentino Pablo Reyero lançou seu filme La Cruz del Sur, uma co-produção na qual França investiu 20 por cento do total do custo.

O cineasta demorou cinco anos para abordar a realidade atual e a história recente da Argentina por meio de um grupo de jovens sem futuro, "como 70 por cento" dos que vivem em seu país, um tema "muito difícil", que não facilitou muito seu financiamento, explicou Reyero ao jornal Liberation.

Na mostra paralela "Semana da Crítica", o cineasta cubano Enrique Colina prestigiou a estréia de seu Entre ciclones, uma tragicomédia que também reflete a vida de seus compatriotas e o desejo de se viver, amar e trabalhar.

Em declarações à EFE, o diretor lembrou que, em cinco semanas de exibição, seu filme atraiu 500.000 espectadores em Cuba, "feito inédito, dada a crise e os fatores econômicos", pois quase não é possível pagar para se assistir a um filme na ilha.

O diretor, que há mais de 30 anos apresenta um programa sobre cinema na televisão cubana, se disse "agradavelmente muito surpreso" com a reação do público, que encheu a sala, aplaudiu no final e "pareceu ter compreendido bem" o seu filme.

Já perto dali, no Palácio dos Festivais, os ministros da Cultura da União Européia (UE) e dos dez futuros membros do bloco anunciaram neste segundo dia do evento a vontade de fazer do continente europeu um lugar onde a cinematografia de cada país possa existir, crescer e ficar conhecida.

As autoridades da cultura também ressaltaram o desejo de estabelecer um espaço onde novas gerações se formem "no amor pelo cinema" e onde hajam "os meios" para que a indústria cultural se expanda, explicou a comissária européia para a Educação, a Cultura e o Audiovisual, Vivianne Reding.

No entanto, o grande acontecimento do Festival hoje foi a estréia, fora da competição, de The Matrix Reloaded, dos irmãos Larry e Andy Wachowski, filme no qual atua a italiana Monica Bellucci, mestre de cerimônias da noite de abertura do evento.

Menos concorrida que a estréia desta nova superprodução americana metafísico-futurista, embora mais agradável para a crítica especializada, foi a entrevista coletiva do diretor, do produtor e dos protagonistas de Ce jour-la, que, segundo a atriz Elsa Zylberstein, é uma metáfora tanto da criação da Suíça como do passado chileno do cineasta.

"É ao mesmo tempo uma história de amor, uma fábula sobre o dinheiro e a política, um thriller policial no qual a loucura é uma das peças", pois os que parecem ser mais loucos "são os que menos são e aqueles que acham que controlam tudo não controlam nada", comentou a atriz.

Um filme que, em todo caso, reiterou o prolífico Ruiz, "não poderia ter sido rodado no Chile", onde o cineasta diz já ter tido cerca de 30 projetos rejeitados.

"Poderia tê-lo filmado em um mundo paralelo, onde o Chile seria outra coisa, por exemplo, um país rico e europeu, mas, nesse caso, o Chile seria a Suíça", declarou o diretor, que, ao ser questionado sobre sua parte preferida do filme, disse não "saber dizer. Talvez algo que tenha cortado".

EFE
EFE - Agência EFE - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da Agência EFE S/A.