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"Não é uma opção evitar a realidade do Brasil", diz Kléber Mendonça Filho

18 mai 2016 - 17h48
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O diretor Kléber Mendonça Filho comentou nesta quarta-feira que "não é uma opção evitar a realidade imediata do Brasil" em seus filmes e isso é o que mostra em "Aquarius", com o qual concorre à Palma de Ouro do Festival de Cannes e que é protagonizado por Sônia Braga.

"Para mim é muito mais natural fazer um filme que tenha aspectos da sociedade e acrescentar elementos reais que dão uma maior veracidade à ficção", explicou hoje Mendonça Filho em entrevista à Agência Efe.

Em "Aquarius" o diretor trata de um problema candente no Brasil, o da mudança da fisionomia de alguns bairros das grandes cidades, que estão perdendo seus edifícios baixos para abrir espaço a grandes torres de apartamentos de luxo.

"Isso me interessava do ponto de vista do cinema e da imagem, a organização das cidades, que não está projetada, mas segue basicamente as ordens do mercado. E ao seguir as ordens do mercado temos cidades extremamente inóspitas, nas quais não há uma preocupação comunitária", opinou o cineasta.

Uma brutal transformação que se produziu em apenas 50 anos, da qual já tratou em um curta-metragem e que agora volta a ser o centro de seu segundo longa - o primeiro foi "O Som ao Redor" (2012) -, que tem dois protagonistas, Clara (Sônia Braga) e o edifício Aquarius, em frente à praia de Boa Viagem, em Recife.

No filme é o único edifício que resiste à pressão imobiliária, com Clara como única moradora de um de seus apartamentos, mas na realidade é também o último edifício no meio da selva de cimento e vidro.

Um edifício com tanto encantamento quanto o provocado por Sônia Braga no filme, a atriz "perfeita" para o papel, nas palavras de Mendonça Filho, que lembrou como lhe enviou o roteiro e, em apenas 48 horas, ela disse sim para o que representa seu grande retorno ao cinema brasileiro após muitos anos de ausência.

E o trabalho com ela foi tão especial quanto o diretor esperava. "Sônia mostrou uma compreensão estética e política que se encaixava com perfeição com a personagem. É um caso muito feliz de alguém que compreendeu perfeitamente o que eu queria fazer e do que era o filme".

Um entendimento entre o cineasta e a atriz que foi além da pura preparação do filme, como ficou claro ontem quando os dois, junto ao resto da equipe do filme, protagonizaram um protesto no tapete vermelho de Cannes contra o que consideram "um golpe de Estado silencioso" no Brasil.

Uma situação incerta que preocupa muito Mendonça Filho. "Ninguém sabe o que vai acontecer", lamentou.

"Há discursos da direita, um pouco fascistas, machistas e homofóbicos, enquanto a oposição de direita tomou o poder à força, com um golpe sem armas de fogo, cínico. E agora estão começando a destruir uma estrutura que foi montada nos últimos 13 anos de governo de esquerda", analisou.

Mas frente ao pessimismo que deixa entrever em seu discurso político, o diretor assegura que os obstáculos são os que lhe dão energia para continuar.

É o mesmo que sente a personagem Clara e Sonia Braga, feliz pela recepção do filme em Cannes e encantada por estar trabalhando, que é o que importa no final das contas, como disse emocionada em declarações à Efe.

Pouco antes, na entrevista coletiva, a atriz lembrou que uma das funções do cinema é levar felicidade e entretenimento às pessoas e é o que esteve fazendo nos últimos anos com seu trabalho na televisão.

"Gosto muito da televisão no Brasil porque as pessoas não têm muito tempo nem dinheiro para ir ao cinema, não é porque eles não gostam. Não se deve desvalorizar as pessoas simples, são muito sofisticadas e inteligentes no Brasil. Mas se forem ver um filme, destroçam o orçamento do mês", comentou.

EFE   
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