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“Nostalgia da Luz” recorre à ciência para abordar crimes da ditadura chilena

25 fev 2015 - 15h38
(atualizado às 15h38)
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Conhecido por seus trabalhos engajados, como “Salvador Allende”, “O Caso Pinochet” (2000) e sobretudo pela magistral fusão de pesquisa e memórias pessoais de “A Batalha do Chile” (1973-1979), o cineasta chileno Patricio Guzmán oxigena a visão da política, tornando-a ampla o bastante para revelar suas conexões com a ciência no documentário “Nostalgia da Luz”.

Diretor Patricio Guzmán concede entrevista em Berlim. 14/02/2015.
Diretor Patricio Guzmán concede entrevista em Berlim. 14/02/2015.
Foto: Stefanie Loos / Reuters

O longa foi contemplado com vários prêmios internacionais como o Grande Prêmio da Academia Europeia de Cinema, em 2010; o Prêmio de Melhor Documentário nos festivais de Guadalajara, no México, Yamagata, no Japão, Los Angeles, nos EUA, e Toronto, no Canadá. Em 2010, Patricio Guzmán recebeu no Festival do Rio o prêmio Fipresci pelo conjunto da obra. Seu circuito de lançamento é São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Brasília e Curitiba.

Foi no deserto de Atacama que política, arqueologia e astronomia se encontraram. Ali onde, em 1962, astrônomos europeus e norte-americanos instalaram um observatório, pelo céu cristalino e as excepcionais condições de observação das estrelas, e arqueólogos pesquisam os vestígios de vários povos antigos que ali viveram, a ditadura de Augusto Pinochet executou e ocultou os corpos de centenas de prisioneiros políticos.

Estes altos e baixos da história chilena são explorados por este documentário fascinante, impregnado da memória pessoal de Guzmán – sempre se colocando como uma testemunha, mas nunca descuidando nem da pesquisa, nem da procura de personagens sólidos, não raro, encantadores.

Como o arqueólogo Lautaro Nuñez, cujo conhecimento do deserto contribuiu para o encontro de ossadas de desaparecidos; o astrônomo Gaspar Galaz e sua visão cósmica do mundo; o arquiteto Miguel Lawner – ex-preso político cujos precisos desenhos, feitos de memória quando se exilou na Dinamarca, expuseram ao mundo os detalhes do horror de campos de concentração da ditadura -; e Victoria Saavedra e Violeta Berrios, a incansável dupla de velhas mulheres que bate as areias de Atacama há cerca de 30 anos, numa procura heroica pelos despojos de seus parentes.

A sintonia entre todos os relatos e aspectos dessa realidade complexa do Chile torna o filme de Guzmán um programa desses que merece o nome de obrigatório. Felizmente, apesar do atraso de cinco anos, o filme chega às telas no Brasil, onde o acerto de contas com a guerra suja de nossa própria ditadura continua aberto e irresolvido.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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