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Cinema

 
 

Japão é visto com humor em filme de Sofia Coppola

16 de setembro de 2003 12h01

Scarlett Johansson, Bill Murray e Sofia Coppola. Foto: Reuters

Scarlett Johansson, Bill Murray e Sofia Coppola
Foto: Reuters

Uma diretora novata ganha destaque para sua carreira promissora e um comediante veterano mostra que ainda está em forma em dos melhores trabalhos de sua trajetória. Sofia Coppola faz sucesso de crítica e público com seu novo filme, Lost in Translation, que teve lançamento limitado este fim de semana em Nova York e Los Angeles.

A comédia escrita e dirigida por ela tem no papel principal o ator Bill Murray, que chama atenção com uma performance que pode render uma indicação ao Oscar no ano que vem. A comédia simples e tocante é sobre a sensação de estar perdido em um cultura diferente como uma metáfora para estar perdido na própria vida.

Murray faz o papel de um famoso ator de TV americano que vai para o Japão fazer o comercial do uísque Suntory, pelo qual vai ganhar a fortuna de US$ 2 milhões em uma semana. Cheio de problemas em seu casamento de 25 anos, ele abraça o trabalho medíocre como uma oportunidade de passar uma semana sozinho em Tóquio. Em noites de insônia por causa do jet lag, o ator passa a maior parte do tempo no bar no suntuoso hotel Park Hyatt, um arranha-céu com vistas espetaculares da metrópole.

Lá, ele conhece a personagem de Scarlett Johansson, uma jovem casada com um fotógrafo de sucesso (Giovanni Ribisi) que está no Japão para tirar fotos de uma banda. Ela também passa as noites acordadas e os dias sozinha pelas ruas de Tóquio. Apesar das diferenças de background, os dois desenvolvem logo uma amizade quase romântica. Juntos, descobrem a si mesmos, um ao outro e as muitas vezes hilárias diferenças culturais entre o Ocidente e o Japão.

Fora a formação de amizade improvável, o filme não tem uma trama tradicional. Lost in Translation (alguma coisa como Perdido na Tradução) é um retrato de um pequeno momento na vida de duas pessoas. O humor, que rende de pequenos sorrisos a ótimas gargalhadas, está tanto no cinismo dos personagens principais quanto em seqüências sobre a vida em Tóquio: em salas de karaokê, clubes de strip-tease, restaurantes em que você "cozinha a própria comida", como diz o personagem dele, em talk-shows de TV e, sobretudo, no hotel.

Murray está em um dos melhores papéis de sua carreira, que teve ótimas oportunidades em produções recentes como Rushmore e Os Excêntricos Tenenbaums. Johansson já tinha provado que tem talento de sobra em Ghost World e deve ganhar destaque na turma de jovens atrizes de Hollywood (ela tem apenas 18 anos). Sua performance é cheia de charme e nuances, um contraponto perfeito para a atuação de Murray e que não deixa nada a dever a esta.

Depois de mostrar competência com a adaptação de uma história real em As Virgens Suicidas, Coppola consegue sair de vez da sombra do pai famoso (o mestre Francis Ford Coppola) com um roteiro fresco e uma direção no ponto. A idéia do filme surgiu de um período de várias noites de insônia no mesmo Park Hyatt, onde ela ficou hospedada quando fazia negócios com sua grife, Milk Fed, no Japão. De início, as idéias eram apenas filmar no país, ter Murray no papel principal e fazer tudo de maneira quieta, sem a pressão da mídia e da expectativa de um novo trabalho tão bem aceito quanto o primeiro.

Seu background é o de uma nova geração de diletantes em Hollywood, gente jovem que está envolvida em vários projetos de diferentes áreas. Além da Milk Fed, ela desenhou uma linha de bolsas para o amigo Marc Jacobs, foi fotógrafa de uma de suas campanhas de marketing do estilista, posou como modelo para outra e ajudou a inspirar um perfume. Da vinícola do pai, ela virou nome de champanhe, que serve nos sets de filmagem.

Ela ainda encontra tempo para trocar idéias com o marido, outro companheiro de diletância, o diretor Spike Jonze. Os vários projetos tiveram uma desvantagem: ter atrapalhado o casamento, que está estremecido depois de eles terem passado muito tempo em cidades diferentes nos últimos meses. Segundo ela, agora eles vão ver como a coisa toda fica.

Tanto senso de estilo fica claro na tela: em locações, figurinos e até na música. A parte visual mostra um Japão cool e moderno, Ocidentalizado e ao mesmo tempo completamente diferente deste lado do mundo. A moda ganha destaque nas imagens de jovens em Tóquio, em um Murray de kimono e no figurino cool e confortável de Johansson, cuja personagem tem semelhanças com o jeito da própria Coppola. A trilha sonora inclui do electro de Peaches, que toca no Brasil em novembro, ao som distorcido de Jesus and Mary Chain, dos anos 80. Os personagens podem estar perdidos em Tóquio, mas o público tem se achado no universo moderno de Coppola.

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