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Cinema

 
 

Mostra londrina traz Meg Ryan nua e "Carandiru"

22 de outubro de 2003 20h59 atualizado às 22h59

Carandiru. Foto: Divulgação

Carandiru
Foto: Divulgação

Começa nesta quarta-feira a 47ª edição do Festival de Cinema de Londres, a maior mostra cinematográfica aberta ao público de toda a Europa. O filme que abre o festival é em Em Carne Viva, que tem estréia prevista no Brasil no dia 21 de novembro.

O longa, que traz a "namoradinha da América" Meg Ryan vivendo tórridas cenas de sexo, dá o tom da mostra, segundo o editor de cinema do jornal The Times, James Christopher.

"Os pontos altos do festival deste ano são o experimentalismo e a ousadia. É o caso de Em Carne Viva, no qual você vê Meg Ryan como nunca viu antes: nua, grosseira e sem namorado", afirma.

Para Dave Calhoun, crítico de cinema e subeditor da revista Dazed & Confused "definitivamente, os filmes de abertura e encerramento são os pontos altos da mostra", diz referindo-se a Em Carne Viva e Sylvia, no qual Gwyneth Paltrow vive a poeta Sylvia Plath.

Equilíbrio
Calhoun acredita que o festival deste ano consegue dosar bem filmes que agradam ao público e filmes de arte, vindos do mercado internacional. Entre os últimos, ele destaca um dos brasileiros da seleção, o documentário Ônibus 174, de José Padilha.

"Uma história forte, que descreve algo que foi um evento nacional no Brasil, mas do qual pouco se sabe internacionalmente", diz. O documentário reconstrói o episódio de do seqüestro de um ônibus em junho de 2000, no Rio de Janeiro.

O outro longa brasileiro da mostra é Carandiru, de Hector Babenco, que conta a vida no infame presídio de São Paulo e que culmina com a chacina de 111 presos. Maria Delgado, que selecionou os filmes espanhóis e latino-americanos da mostra, diz ser coincidência o fato de dois dos longas brasileiros pintarem tristes realidades do país. "Não escolhemos estes filmes porque eles mostram o quanto o Brasil é perigoso. Isso seria ridículo. A escolha se deu porque eles exibem realidades específicas e possuem méritos distintos."

Segundo ela, Carandiru tem um pouco da "linguagem das novelas brasileiras, mas também se inspira em narrativas mais episódicas, que remetem ao cinema de Eisenstein", diz, referindo-se aos filmes do russo Sergei Eisenstein, autor do clássico O Encouraçado Potemkim.

"Já Ônibus 174 tem mais a ver com o cinema independente americano. Além disso, ele apresenta um estilo visual muito forte e diferente", acrescenta.

Divisões sociais
Tom Charity, editor de cinema da revista Time Out, julga que o mérito maior dos dois longas é justamente a abordagem de temas controvertidos.

"Há muito o que apreciar em Carandiru, e, de repente, o filme pega você de surpresa, com um clímax bem forte, bem chocante para uma platéia não-brasileira, que não conhece a história no qual ele se baseia", comenta.

Charity acredita que Ônibus 174, por sua vez, talvez tenha problemas em sua carreira internacional. "Talvez ele seja um pouco longo demais para exportação".

Mas acrescenta: "É uma obra incrivelmente poderosa e uma história com a qual não estava familiarizado." "O filme demora um pouco a mostrar os fatos, mas é uma história envolvente, muito vívida, com testemunhas oculares. E retrata as divisões sociais no Brasil", afirma.

Poder latino
Dave Calhoun, da Dazed & Confused, diz que não apenas os filmes latinos, mas também os realizadores latino-americanos estão mostrando a sua força no festival.

"É o caso de Alejandro González Iñárritu, que após ter feito Amores Perros agora participa com um filme americano, 21 Gramas, que traz um superelenco: Sean Penn, Benicio Del Toro e Charlotte Gainsbourg, mostrando que já tem poder em Hollywood", diz o crítico.

Já Tom Charity destaca a farta presença argentina, que conta com seis longas no festival.

"O que estamos vendo na Argentina é um enorme esforço criativo, que chama a atenção, especialmente devido às dificuldades financeiras que eles estão passando. Mas talvez até essas coisas estejam ligadas", conjectura o crítico da Time Out.

Para reforçar o campo latino, o Festival de Cinema de Londres traz ainda uma outra produção brasileira, o curta metragem de animação Terminal, de Leo Cadaual.

O Festival de Cinema de Londres termina no próximo dia 6 de novembro.

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