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Cinema

 
 

Selton Mello vive traficante "mocinho" em história real

11 de dezembro de 2007 09h35

Selton Mello vive o personagem real  João Estrella  no filme  Meu Nome Não é Johnny  . Foto: Divulgação

Selton Mello vive o personagem real João Estrella no filme Meu Nome Não é Johnny
Foto: Divulgação

Selton Mello é o protagonista do filme Meu Nome Não é Johnny, um retrato dramático da história do jovem João Guilherme Estrella, que comandou o tráfico de drogas no Rio de Janeiro nos anos 80 e 90 e acabou afundado no próprio vício. Nas telas, o ator não só recria a figura conhecida, como explora seus aspectos positivos, levantando uma ligeira simpatia no público nos primeiros minutos de exibição.

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"Criei o meu João, alguém que eu achava que ele era. Um cara que entrou numa vida 'x' e acabou pagando as conseqüências. Podia ser qualquer um de nós", contou ele em um encontro com jornalistas realizado na tarde desta segunda-feira.

João Estrella foi um típico jovem da classe média, que entrou em contato com as drogas bem cedo e acabou encontrando amigos que viam esse estilo de vida liberal como saída para os problemas da vida real. Por um acidente, acaba entrando no tráfico de drogas e usa sua ampla lista de contatos para vender cocaína em toda a área nobre do Rio de Janeiro. Procurado pela polícia, acabou preso, estampando capas de jornais.

É esse personagem real que Mello passa para as telas, no seu trabalho mais imponente desde O Cheiro do Ralo. "Não peguei o telefone dele. Queria tratá-lo como um personagem que eu estava vendo ali pela primeira vez", explica.

O João Estrella de Selton Mello é humano, engraçado e sensível, mesmo com o desafio de, ao mesmo tempo, ser um usuário de cocaína, absolutamente inconseqüente. O próprio João Estrella, também presente no encontro desta terça-feira, mostrou-se uma figura brincalhona, muito distante do estereótipo do usuário de drogas visto freqüentemente nos cinemas.

Por abordar este universo, Meu Nome Não é Johnny pode ser uma das grandes bilheterias nacionais, especialmente pelo fato de, coincidentemente, andar no "mesmo barco" que Tropa de Elite, fenômeno recente do cinema nacional.

"Rodamos o filme ao mesmo tempo. Às vezes estávamos em uma locação e o pessoal de Tropa de Elite filmava em outro", conta o diretor Mauro Lima, evitando comparações. Ambos polêmicos, Meu Nome Não é Johnny, porém, parece navegar em outro barco.

"Eu brinco que o Tropa de Elite tem o Capitão Nascimento e nós temos o Capitão Renascimento", diz, em referência ao fato de que João Estrella, hoje, é compositor e conseguiu, depois de ficar quase dois anos internado em um Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, se livrar das drogas e do tráfico. Foi baseado nesse relato, que o jornalista Guilherme Fiúza resolveu escrever o romance que deu base para o filme.

"Nunca imaginei esse filme como algo de ação, de aventura, violência. Sempre imaginei isso como uma história humana, uma lição de vida", explica a produtora Mariza Leão, que afirma ainda ter conseguido se "desdobrar" para não extrapolar o orçamento de R$ 5,5 milhões.

Trabalhando com o tempo - o filme começou a ser projetado em 2004 - a produção esteve até em Barcelona e Veneza, fazendo cenas externas. Segundo eles, esta foi a parte mais simples do trabalho, uma vez que eles levaram uma equipe muito reduzida e reproduziram algumas cenas que se passavam no exterior no Rio de Janeiro.

A própria "aventura" de rodar o filme parece ter servido de lição para todos. Julia Lemmertz, que interpreta a mãe de João Estrella, contou que decidiu conhecer a personagem real para compor a personalidade de seu papel. Mello, porém, evitou ao máximo este tipo de contato.

"Eu não peguei o telefone dele (Estrella). O único momento que tive que pedir ajuda foi a cena em que ele confessa ser dono da cocaína no julgamento. Eu queria saber qual foi a reação, o que ele sentiu ali", ressalta Selton Mello.

Composição de personagens
Resumidamente, Meu Nome Não é Johnny tem um núcleo de cinco personagens principais, interpretados, respectivamente, por Cléo Pires como Sofia, namorada de Estrella; Rafaela Mandelli, que vive Laura, amiga do casal; Julia Lemmertz, a mãe do personagem principal, e a juíza responsável pelo caso, vivida por Cássia Kiss.

Segundo Estrella, seu círculo de amizades foi restrito no filme para caber em uma produção de pouco mais de duas horas. O diretor explica: "A parte mais difícil foi tirar coisas do roteiro. Tínhamos um filme de seis horas e tivemos que arrancar cenas, foi muito sofrido."

Com exceção de Cléo Pires, que afirmou não ter estudado muito o papel por ter emendado outros trabalhos, todos os outros atores do elenco passaram por uma rígida pesquisa de campo.

Rafaela Mandelli, por exemplo, disse ter questionado Estrella e pedido conselhos para viver sua personagem, que no filme muda de visual diversas vezes e acaba em se tornar uma "seguidora da palavra de Deus", ainda que, mesmo após a conversão mente no tribunal para salvar sua própria pele da penitência. "Quem já viu o filme e a conheceu, disse que eu estava muito próxima", admite.

Na pele da rigorosa juíza que cobre o caso, Cássia Kiss foi além. Diz ter visitado fóruns e assistido julgamentos 'cabeludos", segundo suas próprias palavras. "Acompanhei o dia de trabalho de uma juíza. Vi toda a sua insensibilidade nos casos. No meu caso,procurei fazer um personagem sensível, que sentia, ficava comovida". O trabalho pode ser visto na cena em que, apenas com olhares, a atriz passa a emoção de alguém que estava julgando a vida de alguém que cometeu erros, não um bandido imponente, lição passada pelo longa Tropa de Elite.

"Fazer um personagem é o exercício de estar presente", relata. "Quero levar meus filhos para ver o filme pois acho que dá pra tirar muitas lições dele. Posso mostrar que, se eles forem seguir este caminho, podem chegar aonde o personagem chegou. Eu agradeço ao Estrella por nos contar esta história."

Meu Nome Não é Johnny estréia nos cinemas brasileiros no dia 4 de janeiro, com, inicialmente 100 cópias ao redor do País. Segundo a Sony Pictures, porém, o número pode mudar até a data de lançamento, dependendo da repercussão do filme.

Redação Terra