inclusão de arquivo javascript

Cinema

 
 

Livro compila os 100 melhores filmes da história

22 de junho de 2004 16h39

Luzes da Cidade , de Charles Chaplin, está na lista. Foto: Divulgação

Luzes da Cidade, de Charles Chaplin, está na lista
Foto: Divulgação

Deve-se sempre desconfiar de listas que reúnem os melhores de todos os tempos, sejam eles filmes, discos ou livros. Qualquer relação resvala inapelavelmente em injustiças ou esquecimentos, e nunca satisfaz plenamente o público. Recém-lançado pela Ediouro, o livro A Magia do Cinema reuniu os 100 melhores filmes da história segundo o crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, ganhador do prêmio Pulitzer e organizador do prestigiado Overlooked Film Festival. Mas, para saborear devidamente o texto límpido e as análises sensíveis do autor, deve-se desconsiderar as suas escolhas.

Só assim será possível refrear a indignação com inclusões e ausências que beiram o absurdo. Difícil aceitar a presença de filmes como JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar (Oliver Stone, 1991) ou Um Sonho de Liberdade (Frank Darabont, 1994). Não que sejam ruins (e não são, especialmente o segundo), mas daí a colocá-los entre os cem melhores de todos os tempos vai um abismo. E o que dizer de ausências como Acossado (Jean-Luc Godard, 1959), Gata em Teto de Zinco Quente (Richard Brooks, 1958) ou qualquer filme de François Truffaut à exceção de Os Incompreendidos (1959), único do diretor incluído na lista?

Percebe-se na relação de Roger Ebert uma nítida predileção por produções norte-americanas (que respondem por mais de 60% da lista), em detrimento de outras cinematografias. E também por determinados cineastas, casos de Billy Wilder (com quatro títulos), Luis Buñuel (com três) e Alfred Hitchcock (idem).

Eles são os únicos com mais de dois filmes na lista, o que inevitavelmente gera a pergunta: como é possível que cineastas do porte de Elia Kazan (com Sindicato de Ladrões apenas), John Ford (com Paixão dos Fortes) e Charles Chaplin (com Luzes da Cidade), para citar apenas três, compareçam apenas uma vez na lista? Pior: como podem os italianos Luchino Visconti e Roberto Rossellini sequer fazerem parte de A Magia do Cinema? Logo eles, que legaram às gerações posteriores obras-primas inesquecíveis?

Por incrível que pareça, todas essas ausências e injustiças não fazem do livro um trabalho desinteressante. Ebert escreve bem, e demonstra amplo conhecimento da linguagem e das técnicas cinematográficas. Mas seu maior mérito é a sensibilidade. Ele se emociona - e a nós também - com os filmes que disseca, demonstrando uma arguta visão de mundo. Vale ressaltar que o próprio Ebert não reconhece sua lista como definitiva. "Não são 'os' 100 maiores filmes de todos os tempos, pois qualquer lista deste tipo redundaria numa insensata tentativa de sistematizar obras que têm o seu próprio valor intrínseco", afirma.

A magia do cinema abriga em sua lista pouco mais de cem anos de história. Nada menos que 60 longas são em preto-e-branco, sendo muitos deles mudos, evidenciando a preferência do autor pelas produções da primeira metade do século XX, até meados da década de 50. Desse período, destacam-se Cantando na Chuva (Gene Kelly e Stanley Donen), Casablanca (Michael Curtiz), Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder), Ladrão de Bicicletas (Vittorio De Sica), M - O vampiro de Düsseldorf (Fritz Lang), Nosferatu (F.W. Murnau), Diabo a Quatro (Leo McCarey) e A General (Buster Keaton).

Por outro lado, títulos lançados nas duas últimas décadas também comparecem com alguma freqüência. São novos clássicos como Pulp Fiction (Quentin Tarantino), O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme), Faça a Coisa Certa (Spike Lee), Manhattan (Woody Allen), Fargo (Joel e Ethan Coen) e A Lista de Schindler (Steven Spielberg).

Agora vale citar aquelas obras que, presentes no livro, teriam seus nomes cravados em qualquer outra lista, fosse qual fosse o autor. São pérolas essenciais como Cidadão Kane (Orson Welles), Chinatown (Roman Polanski), A Doce Vida (Federico Fellini), Apocalypse Now (Francis Ford Coppola), Touro Indomável (Martin Scorsese) e 2001 - Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick). Elas comprovam o que disse, com propriedade, o próprio Roger Ebert, na introdução de A magia do cinema: "Se você tem como objetivo fazer um circuito entre os marcos do primeiro século do cinema, poderá tranqüilamente começar por aqui".

Correio da Bahia