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Cinema

 
 

Filme causa polêmica sobre imperador Hirohito

18 de fevereiro de 2005 14h52 atualizado às 14h52

O ator japonês Issey Ogata sabia que estava aceitando mais do que um simples papel num filme quando concordou em representar o falecido imperador Hirohito, dirigente que chegou a ser reverenciado como um deus, no retrato criado pelo cineasta russo Alexander Sokúrov.

A história apresentada no filme é polêmica até hoje no Japão, 60 anos após o imperador se render aos Aliados. Por isso, a identidade de Ogata foi mantida em segredo durante as filmagens e os preparativos para a estréia.

O filme em questão, The Sun, fez sua estréia no Festival de Cinema de Berlim na quinta-feira. Ogata exortou as pessoas a assistirem ao filme antes de fazer objeções a ele.

"Não posso falar do filme com quem apenas viu o título", disse ele. "Não sei se vamos poder exibi-lo no Japão. Será difícil."

Num sinal de até que ponto o tema de Hirohito ainda é delicado no Japão, um político japonês influente anunciou no mês passado ter interferido na cobertura feita pela televisão de um falso julgamento no qual o imperador foi considerado culpado de crimes contra a humanidade.

O falso julgamento foi conduzido em 2000 por ativistas que procuravam pressionar o governo a indenizar mulheres forçadas a trabalhar como escravas sexuais dos militares japoneses durante a 2a Guerra Mundial.

O político disse que falou com a emissora pública NHK antes de ela colocar o programa no ar, em 2001, e que o programa foi transmitido, mais tarde, sem o veredito. Mas um representante da NHK disse que não houve interferência no programa. Hirohito, que morreu em 1989, nunca foi a julgamento.

Lenin, Hitler, Hirohito
Sokúrov disse que seu objetivo com The Sun, o terceiro em uma série de filmes biográficos, foi humanizar Hirohito, mostrando o imperador no dia que levou a sua decisão de renunciar à natureza divina de seu poder, abrindo o caminho para a rendição japonesa e o advento da democracia.

"Fizemos todo o possível para retratar o imperador Hirohito como indivíduo que conserva seus princípios humanos", disse Sokúrov.

"Não estou interessado no fato histórico, no período. O que me interessa muito mais é o estado do indivíduo, do ser humano."

Em sua série de cinebiografias, a primeira foi Moloch, sobre o líder nazista Adolf Hitler, e a segunda, Taurus, sobre o dirigente soviético Vladimir Lenin.

Cada um dos três se vê diante de uma catástrofe. Mas, enquanto foi Hitler quem provocou uma situação que Sokúrov descreve como "tragédia sem sentido", Hirohito "é símbolo de um fim construtivo".

Para o diretor, o general norte-americano Douglas McArthur, que tem um encontro com Hirohito numa cena crucial do filme, também merece crédito. "Em 1945, Hirohito e McArthur encontraram uma saída de uma situação que parecia impossível de resolver", disse Sokúrov nas notas de produção.

Reuters
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