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"Humor permite não cair na indulgência narcisista", diz Michel Leclerc

7 jun 2011 - 16h50
(atualizado em 8/6/2011 às 14h51)
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A jovem e extrovertida Baya Benmahmoud vive de acordo com o clássico ditado: faça amor, não faça guerra. De maneira a conseguir converter as pessoas, ela está disposta a dormir com seus inimigos políticos - o que significa dormir com muitos homens, já que são todos conservadores. Até agora, ela vem conseguido atingir bons resultados.

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Até que ela conhece Arthur Martin, 40 e poucos anos. Ela acredita que com um nome tão comum assim (pois existem mais de 10 mil Arthur Martins na França), ele está fadado a ser uma pessoa verdadeiramente conservadora e, portanto, realmente bem difícil de se converter. No entanto, os nomes são traiçoeiros e as coisas nem sempre são o que parecem ser. Baya e Arthur são tão diferentes quanto duas pessoas pode ser, mas quando eles se apaixonam, faíscas podem ser vistas no ar.

Confira abaixo a entrevista com os roteiristas de Os Nomes do Amor (Le Nom Des Gens), Michel Leclerc e Baya Kasmi:

O filme Os Nomes do Amor (Le Nom des Gens) é uma comédia, como o seu primeiro filme J'invente rien. Por que você escolheu comédia?

Michel Leclerc: Quando você fala sobre si mesmo, ou pelo menos quando você quer se utilizar de material autobiográfico, o humor permite que você dê um passo atrás o suficiente para não cair na indulgência narcisista. Para falar sobre si mesmo, com certeza, mas também para tirar sarro de si mesmo ao mesmo tempo fazer com que outras pessoas possam entrar na história. Essa é a principal razão pela qual eu faço comédias: parece-me que é a única maneira elegante de falar sobre assuntos pessoais, sem se tornar egocêntrico.

Quem são suas influências?

Michel: Em uma recente entrevista, Woody Allen lamentou o fato de que os jovens cineastas são mais inspirados por Scorsese e Tarantino do que por ele. No entanto, há anos eu venho tentando desesperadamente ser inspirado por ele - especialmente pelos filmes Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall) e A Era do Radio (Radio Days) ao fazer Os Nomes do Amor (Le Nom des Gens) - mas ninguém percebe. Meu objetivo final seria copiar todos os seus filmes, um por um, mas eu tenho medo de não viver tempo suficiente para fazer isso. Eu secretamente espero que ele acabe me processando por plágio, o que poderia me dar uma chance de realmente conhecê-lo!

Como a aventura de Os Nomes do Amor (Le Nom des Gens) começa?

Michel: Quando eu conheci Baya há quase dez anos, ela me disse o nome dela e eu respondi: "É brasileiro?" - ela respondeu: "Não, é argelino" Depois disso ela me perguntou meu nome e quando eu disse o meu para ela, ela disse: "Pelo menos você é capaz de dizer de onde vem seu nome!" Assim, o ponto de partida do filme coincide com o ponto de partida do nosso relacionamento pessoal.

Baya Kasmi: Queríamos responder a toda essa linha de raciocínio determinista sobre a identidade e as comunidades, o que não suportamos e com o que não nos identificamos.

Michel: Na França, a questão de origem é complicada e obsessiva. Como você se mantém fiel às raízes sem se curvar para a mentalidade da comunidade? Como você pode ser ateu, sem rejeitar as suas origens? Somos fascinados por essas questões.

Portanto, é altamente autobiográfico?

Michel: Sim, porque foi dizendo umas e outras histórias sobre nossas famílias que, apesar de nossas diferenças, reconhecemos semelhanças quando se trata de certas neuroses e obsessões dos nossos pais. Basicamente, os relacionamentos amorosos dependem muito mais dessa questão de família do que em um suposto sentimento de pertencer a uma determinada comunidade. Arthur Martin define-se como "melhor do que qualquer outra coisa, mas não a escolha certeira do mercado". Eu realmente amo aqueles personagens que são um tanto quanto rigorosos a ponto de serem "gostados" e cuja inflexibilidade acaba tornando-os antissocial. Arthur Martin é um daqueles homens que tem uma certa justiça moral - rigidez, até mesmo ¿ o que o impede de fazer concessões. Gostamos da ideia de termos um personagem muito sério, sem senso de humor em uma comédia.

Como você chegou a pensar em fazer do Arthur um ornitólogo, que trabalha para o departamento francês de Doenças dos Animais?

Michel: Para Arthur, nós procuramos uma profissão que refletisse sua natureza obsessiva. O princípio de tomar precauções para minimizar qualquer risco possível corresponde à sua filosofia de vida pessoal - a tal ponto que ele disso a sua carreira.

Baya: Quando nós pesquisamos essa profissão, percebemos que poderia haver muitos elos com o seu tipo de personalidade. Por exemplo, descobrimos que, em caso de risco de gripe aviária, o seu trabalho é dar ordens para o abate de galinhas em massa. Havia, obviamente nessa profissão, uma repercurssão ligada com os problemas e preocupações de Arthur.

Michel: Baya é um personagem corajoso. Ela acredita que é sempre melhor tomar alguma atitude - mesmo ruim - do que não fazer nada. Ela é uma ativista que acredita que suas ações podem mudar o mundo. Mas o que faz dela especial é que ela não faz distinção entre o seu compromisso político e o seu compromisso pessoal, uma vez que ela dorme com seus inimigos políticos! Ela é uma personagem com uma mente muito própria.

Baya: Então ela é também aquele tipo de pessoa que simplifica as coisas sem necessidade. O mundo hoje é tão complexo que para se comprometer, você tem que ter uma abordagem clara e se comprometer. É isso que a faz ela dizer coisas ridículas, às vezes, como "quadrados são totalmente fascistas, esquerdistas são OK e os extremistas de direita são fascistas", sem nunca se sentir envergonhada por isso! Pode parecer pueril, mas para ela é uma escolha consciente: ela mesma se faz seguir essa linha de pensamento para não perder energia em ação. É um desafio.

Como você escolheu Jacques Gamblin?

Michel: Nós pensamos nele imediatamente. Achei que ele era perfeito para o papel porque ele é um exemplo notável daquela pessoa que possui um autocontrole, mas do tipo fechado, que ainda exala uma espécie comprimida de humanidade. Ele também tem um corpo que pode oferecer um potencial cômico muito forte e que não havia sido muito explorado até agora.

E Sara Forestier?

Michel: Nós criamos o personagem de Baya como uma espécie de Marilyn árabe. Assim, no início, estávamos procurando por uma atriz de ascendência árabe. Mas não conseguimos encontrar ninguém que expressasse todos os diferentes aspectos de sua personagem, que fosse ao mesmo tempo engraçada, animada, espontânea e desinibida. Então, abriu-se uma chamada de elenco para atrizes não árabes. Quando nós encontramos Sara Forestier, apesar de ela não corresponder a personagem exatamente como tínhamos imaginado, nós imediatamente soubemos que o papel era dela. Porque ela tem esse lado divertido, espirituoso e de besteirol que imaginávamos, sem ser vulgar. A partir daí, reescrevemos o papel de Sara, aproveitando esse lado dela sobre o qual falamos anteriormente.

Baya: Graças a Sara, sem sequer tentar, voltamos para a complexidade de um personagem que sofre por não parecer árabe, embora o pai dela seja proveniente da Argélia. O que é muito mais parecido comigo. Os atores são espantosamente naturais.

Michel: Eu gostei tremendamente de dirigir os atores, porque eu senti que eles estavam muito envolvidos no filme. Então, eles estavam abertos à improvisação. Para mim, é fundamental manter um espaço aberto para a liberdade quando se trata de um script muito bem escrito. Por exemplo, eu usava o lado ativista da Carole Franck, que interpreta a mãe de Baya: nas cenas onde ela fica brava sobre a energia nuclear e quando ela insistia para Arthur concordar com um casamento de conveniência, ela estava improvisando.

Quais eram seus objetivos como diretor?

Michel: Eu queria jogar com o contraste de alguns dos temas sérios ¿ como política e traumas de infância ¿ e o estilo glamuroso da cinematografia. Por exemplo, quando Arthur e Baya estão andando através das folhas caídas depois de seu casamento de conveniência, eles conversam sobre o dever da memória e sobre a Guerra da Argélia. Achei divertido para brincar com o contraponto entre uma filmagem típica de comédias românticas - vestido de noiva, garrafa de champanhe na mão ¿ e o assunto da conversa. Por outro lado, eu queria evitar o excesso de edição e sistemática de corte para close-ups, o que é típico da comédia padrão. Eu preferi filmar grandes cenas para enquadrar os corpos dos personagens e não sobre a iluminação das cenas, mesmo que isso significasse perder certos efeitos cômicos.

A cena em que Arthur coloca a roupa de Baya de volta é muito poética.

Michel: Para Baya, a nudez é totalmente sem importância: ela age da mesma maneira nua, como ela faz estando vestida - ela não faz isso de uma maneira sexual. Por isso, tivemos que retratar a sua nudez como algo normal, fazendo sexy então o vestir de volta das roupas. Foi um verdadeiro desafio para dirigir.

Cartaz de 'Os Nomes do Amor'
Cartaz de 'Os Nomes do Amor'
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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