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Exclusivo: Carlos Saldanha fala sobre 'Rio 2', 3D e DVD do 1º filme

12 jul 2011 - 13h48
(atualizado às 13h57)
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Carol Almeida

Depois de uma movimentada e ensolarada estreia em março deste ano, promovida na cidade que dá título ao seu mais recente filme, Carlos Saldanha voltou ao Brasil este mês para divulgar o lançamento do DVD e Blu-ray de Rio, filme que, após mais de R$ 1,5 bilhão arrecadados em salas de cinema, recebeu sinal verde da Fox para ganhar uma continuação. Em São Paulo, o brasileiro mais bem sucedido no mercado de animação em Hollywood conversou sobre os primeiros movimentos para Rio 2, o inevitável uso de clichês sobre a capital fluminense, o crescimento da Blue Sky (estúdio que hoje pertence à Fox), os destaques nos extras do DVD e até mesmo sobre os controversos depoimentos homofóbicos do ator Tracy Morgan, dublador de Rio na versão em inglês do filme. Confira a entrevista exclusiva para o Terra abaixo.

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Terra - Recentemente houve a confirmação do sinal verde para Rio 2. Naturalmente, é muito cedo ainda para falar da trama nessa sequência, mas algo que dá pra sentir falta no primeiro filme é a história dos pais da arara Blu, que não são mencionados. Pretendem tocar nisso no segundo título?
Carlos Saldanha - Bem, ainda é realmente cedo para falar, mas somos gatos escaldados. Depois de fazer A Era do Gelo 1, 2 e 3, sabemos que a possibilidade de um filme ter uma continuação depois do sucesso nas bilheterias é grande. E aí, caso aconteça de haver esse sucesso, começamos a pensar numa história. No caso de Rio 2, começamos a pensar nele só agora, porque há outros projetos em andamento. É preciso antes fazer um cronograma, orçamento e data de lançamento. Nada disso está definido. Estamos ainda começando a pensar nessa sequência.

Terra - Sabemos que criar um longa de animação leva tempo...
Saldanha - Três anos, no mínimo. Se corremos. Se fôssemos começar hoje, em três anos poderíamos ter Rio 2, mas isso é na visão mais otimista.

Terra - Numa visão nem tão otimista, nem tão pessimista, teríamos Rio 2 já bem próximo da Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro. Vocês pensam nesse elemento?
Saldanha - Verdade, acho que o filme sairia entre Copa de Mundo e as Olimpíadas. Mas isso não se passa muito na nossa cabeça, porque a temática Olimpíadas não teria muito a ver...

Terra - Não falo da temática, mas o elemento dos jogos, da competição...
Saldanha - Competição... É, pode ser. Mas não pensamos em nada ainda. Agora pensamos mais na continuidade da história do personagem. Mas está tudo tão no início que ainda não sabemos o que vai mudar.

Terra - A cacatua vai voltar?
Saldanha - Tem que voltar. Eu adoro o Nigel, nossa...

Terra - Há algum personagem que você tenha mais afeição?
Saldanha - Adoro o Nigel e o Luís. São personagens que começaram pequenos e que tomaram uma proporção muito maior. Claro, sou apaixonado pelo Blu, Jade, Nico e Pedro, mas esses personagens mais secundários tomaram uma dimensão interessante.

Terra - Falando do Luís, ele foi dublado nos EUA pelo ator Tracy Morgan, que recentemente foi bastante criticado por comentários homofóbicos que fez. Vocês ficam atentos a esse tipo de coisa?
Saldanha - É uma coisa que acontece. A gente estava até falando disso ontem, de como algumas coisas terminam sendo colocadas fora de contexto. Infelizmente isso acontece com todo mundo. Às vezes você fala uma coisa brincando e a pessoa interpreta de outro jeito. É muito comum. Claro que é chato quando isso ocorre e você fica ligado. Mas ele é uma pessoa controversa. É um comediante e a comédia dele tem esse sarcasmo. Mas não é uma pessoa ruim, de jeito nenhum.

Terra - Criativamente falando, o 3D compensa para o artista e para o espectador?
Saldanha - Acho que há um mercado para isso, não sei se... Bem, para nós de animação fazer 3D não é um bicho de sete cabeças, porque nosso sistema e processo são em 3D, o software trabalha com 3D, já temos essa visão. Com isso, acho que o espectador aprecia mais o 3D numa animação que em outros filmes. Acho que quando não é bem feito, não vale a pena pagar o extra para assisti-lo. Mas no nosso caso deu super certo, porque uma boa parte da bilheteria veio dos ingressos das salas 3D.

Terra - Mas do ponto de vista narrativo, isso interfere no processo criativo? Há cenas, como por exemplo a imagem da rede de vôlei em Rio, criadas especificamente para dar destaque ao 3D.
Saldanha - A gente brinca com o 3D, mas em Rio isso acontece em um ou dois momentos. Se vejo uma oportunidade de usar o 3D sem afetar a história, uso. Mas não usamos o processo 3D como prioridade para cenas e momentos. Procuramos ficar ligados mais nas cenas de ação e entender se ali há oportunidade de usar esses efeitos. Mas você sabe que o 3D tem algumas regras. Para funcionar, o personagem tem que estar totalmente dentro da tela e há precauções que precisamos tomar quando criamos uma sequência. Mas isso não muda o intuito criativo dos artistas.

Terra - A Gnomon, escola de efeitos visuais e computação gráfica em Hollywood, anunciou este ano que vai abrir sua primeira unidade fora dos Estados Unidos, e ela será no Brasil. Você percebe a possibilidade de criação de um pequeno mercado de 3D no País?
Saldanha - Existem vários artistas brasileiros trabalhando nos EUA hoje, mas assim como temos brasileiros, temos artistas do mundo inteiro. Talvez nesse contexto os brasileiros ainda não tenham uma presença marcante, acho que poderia ter muito mais. Com relação ao mercado aqui dentro, todo e qualquer esforço para trazer conhecimento ou formar um tipo de mão de obra especializada é válido, especialmente nesse momento em que o Brasil está com economia forte e há um crescimento do mercado interno. O interesse lá fora pelo Brasil tem aumentado muito. Mas a gente está, na verdade, começando tarde. Esse mesmo movimento já aconteceu na Índia, China, França. Tive encontros em festivais de animação com estúdios da Índia que empregam mais de 500 animadores e eles fazem outsourcing (mão de obra terceirizada) para a grande indústria. Essas pessoas estão construindo mão de obra especializada, construindo um polo, uma indústria de animação muito parecida com o que acontece nos Estados Unidos. Claro que ainda há um bom caminho a andar até que haja conteúdo e produções próprias independentes. E para que o Brasil não perca esse bonde, temos que começar agora.

Terra - A Blue Sky também trabalha com outsourcing e contrata serviços de outras empresas?
Saldanha - A gente está fazendo agora um curta para TV da Era do Gelo e isso está sendo feito numa companhia do Texas, sob supervisão do pessoal da Blue Sky. É a primeira tentativa com outsourcing.

Terra - É mais um curta com o Scrat (o esquilo da Era do Gelo)?
Com o Scrat e os outros personagens. Vai ser um especial de Natal.

Terra - O que a Blue Sky está produzindo neste momento?
Estamos em fase de animação de A Era do Gelo 4 e temos menos de um ano pra terminar esse filme. Temos também uma outra animação, o Leaf Men, sob direção do Chris Wedge (A Era do Gelo 1 e Robôs), que está em fase de storyboard.

Terra - O quanto a Blue Sky cresceu desde que você entrou lá?
Saldanha - Quando entrei, eram umas 20 pessoas, hoje somos 450. O máximo de tamanho que chegamos, antes de sermos comprado pela Fox, foi de 80 pessoas.

Terra - Temos um longo histórico de filmes hollywoodianos que tratam o Brasil, e o Rio de Janeiro mais especificamente, de um modo bastante clichê. Qual era sua preocupação na tua animação?
Saldanha - Se você é do Brasil ou se é carioca, você sabe o que significa o Rio de Janeiro. Mas fora daqui, as pessoas não conhecem o Brasil. O mundo, no geral, não tem essa noção geográfica e cultural do Brasil, como também o Brasil não conhece muito lá fora.

Terra - Mas creio que é mais fácil a periferia conhecer o centro, do que o centro conhecer a periferia.
Saldanha - Pode ser. Mas como você faz um filme que é voltado pro público em geral, tem que cair nos elementos que são mais conhecidos. Alguns desses elementos, que as pessoas podem interpretar como clichês porque são usados demais, fazem parte da cultura do ser carioca. Se eu disser para você que no Rio não tem samba e que as pessoas não se divertem na praia, aquilo fica menos Rio. Mas todos os elementos do Rio são usados dentro do contexto da história.

Terra - Quanto à produção do DVD e Blu-ray de Rio, você opinou sobre extras que queria colocar?
Saldanha - Quando a gente vai fazendo o filme, vamos sacando um monte de coisas que podem entrar para o DVD. Se cria um banco de dados de elementos que podem servir de extras. E aí a equipe de Home Entertainment e começa a bolar o que pode ficar melhor e nesse momento eles pedem minha opinião.

Terra - Algum extra que você destacaria?
Saldanha - Tem uma cena deletada, que é uma cena completa que fizemos storyboard e é engraçada. O Blu está na feira e tem a experiência de comer fruta pela primeira vez. Ela não entrou porque terminou sendo redundante ao filme. Gosto muito também dos making of das músicas. Antes fazíamos making of do processo de animação e agora pudemos fazer do processo de composição da trilha.

Terra - É que o filme chega a ser quase um musical...
Saldanha - É aquela coisa, ele não tem o rótulo de "musical", mas a música é parte essencial dele.

Terra - E vai continuar sendo em Rio 2?
Saldanha - Vai continuar sendo.

Carlos Saldanha na première de 'Rio', em março deste ano
Carlos Saldanha na première de 'Rio', em março deste ano
Foto: Getty Images
Fonte: Terra
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