PUBLICIDADE

'Heleno' traz à tona maturidade para a melhor atuação de Rodrigo Santoro

12 mar 2012 - 20h30
(atualizado em 13/3/2012 às 08h10)
Compartilhar
André Naddeo
Direto do Rio de Janeiro

Onze anos se passaram e Rodrigo Santoro volta para um sanatório. Na trama, um novo personagem com problemas mentais (o mais recente por causa de um vírus, o primeiro, fruto da ignorância) é o fiel da balança para determinar o grau de maturidade que Rodrigo Santoro atingiu na sétima arte.

Rodrigo Santoro e Alinne Moraes concedem entrevista coletiva sobre o filme 'Heleno', no Rio de Janeiro
Rodrigo Santoro e Alinne Moraes concedem entrevista coletiva sobre o filme 'Heleno', no Rio de Janeiro
Foto: Divulgação

Descubra o Sundaytv e tenha acesso ao melhor do cinema e da TV

De Bicho De Sete Cabeças, interpretando o jovem internado pelos pais porque fumava maconha, quando despontou para os demais trabalhos profissionais na TV e cinema, a Heleno, na pele do jogador de futebol arrogante, bon vivant e apaixonado pelo futebol e pelo clube que defendia, o ator juntou toda a sua experiência para abraçar um projeto, atuar pela primeira vez como produtor e estabelecer a melhor atuação de sua carreira.

"É uma história que vai muito além do futebol", Santoro trata de avisar logo no início do encontro com a imprensa para falar do longa, que terá estreia nacional no dia 30 de março - antes teve apenas exibições em festivais internacionais, como Toronto e Havana.

"É a história de alguém que perdeu o equilíbrio, um homem de excessos, diante de tantos adjetivos, ele queria que as pessoas quisessem ser maiores, dar o máximo de si, e cobrava isso, inclusive, dos companheiros de time. É uma história de vida", completou Santoro, ao deixar claro que o futebol é apenas um pano de fundo. "Você tem pessoas desregradas em qualquer profissão, o que mostramos é o perigo de você acelerar a sua vida".

Além de recortes de jornais com manchetes da época, algumas cenas com o "ex-peladeiro" Santoro, que, após dois meses treinando com o ex-jogador Claudio Adão, já se gaba de "ser hoje o primeiro a ser escolhido no time" - e narrações e trechos da Copa de 1950 e 1958, Heleno mostra pouco o lado popular do futebol.

Heleno de Freitas, o intempestivo craque que marcou mais de 200 gols com a camisa do Botafogo, outros 15 pela Seleção Brasileira, é muito bem situado no Rio de Janeiro dos anos 40 e 50, na emergente Copacabana, ou então nas praias ainda selvagens da Barra da Tijuca. Fica fora, no entanto, a paixão do torcedor, e num filme cujo pano de fundo é justamente o esporte mais popular do país, sobra esta lacuna.

É como se contássemos a história do atacante Adriano, por exemplo, mostrando todos os seus problemas extracampo (guardadas as devidas proporções), a vida na Chatuba, seu histórico de falta de comprometimento, e não fosse reproduzido (em arquivo, ou numa atuação) o gol da final da Copa América contra a Argentina, ou ele no Maracanã sendo hexacampeão pelo Flamengo. Fato único, no entanto, que não compromete a super produção de R$ 8,5 milhões.

Tão obsessivo quanto o personagem

Heleno é bastante real e tocante. O diretor José Henrique Fonseca (O Homem do Ano, de 2003) explica que , "por ser o melhor veículo para retratar a época", o longa é todo em preto e branco. "É um fetiche de todo cineasta", completa. Fato que, ao lado de um trabalho rico de pesquisa, enaltece a época com uma vivacidade tão impressionante quanto a de seu protagonista. Alinne Moraes, interpretando Silvia, a mulher e mãe de seu único filho, é uma coadjuvante à altura. E Rodrigo Santoro é o condutor do drama, numa atuação obsessiva, a ponto de emagrecer 13 kgs em 40 dias, para interpretar a fase em que o jogador, já consumido pela sífilis, definha pele, cabelo, dentes e o resto do corpo ao longo dos seis anos de internação num sanatório em Barbacena, no interior mineiro, onde morreria em 1959.

"A minha geração não conhece, é um personagem extremamente importante que foi esquecido. É uma grande história, era uma grande oportunidade para contar sua história para a minha geração", afirma Santoro, abrindo espaço para que os mais novos conheçam o craque problema que precedeu Garrincha. Ele confessa que, antes de abraçar a causa, só o conhecia de nome - e, neste caso, a biografia do escritor Marcos Eduardo Neves ajudou no roteiro, que nem por isso deixa de ter muito improviso e generosas pitadas de ficção.

"Eu via o que era possível, e o que eu poderia fazer na cena. Eu não imaginei que fosse cair, até porque quando você planeja tomar um tombo, não fica legal. O armário também não sabia o que ia acontecer", brinca o ator sobre a cena em que, num de seus vários ataques de fúria, este após perder o título do Campeonato Carioca para o Fluminense, Heleno destrói os armários do vestiário - e um deles cai sobre o personagem descontrolado.

"A Diamantina na verdade é uma personagem ficcional. O hotel Copacabana Palace tinha essas temporadas com cantoras. O Heleno namorou várias divas da rádio, mas não existia exatamente a Diamantina. A gente achou que era interessante ter essa cantora", explica o diretor José Henrique Fonseca, sobre o papel da amante do jogador vivido pela atriz colombiana Angie Cepeda.

"Eu não briguei com ninguém, acho que não tive nenhuma inimizade", se diverte Santoro ao negar que tenha avançado o sinal e incorporado o protagonista. "É importante separar, e acho que foi por aí que o Heleno se perdeu. É preciso saber o limite entre a razão e o que pode ser uma ficção. A gente está ali o tempo todo concentrado, mas a gente sabe que está trabalhando, se não a vida acaba virando um borrão", acrescenta.

Produção não tem moleza

Não é só pela atuação marcante que Heleno ganhará menção especial no já extenso currículo de Rodrigo Santoro. Ele também usou da sua imagem e experiência no ramo para captar e estrear no cinema como produtor. "Fazer produção é difícil em qualquer lugar do mundo", rapidamente define. "Não foi nada fácil, a gente demorou bastante para poder captar. A parte burocrática eu não conhecia, quando ator você não sabe o que o cara está fazendo. São soluções que você tem que estar sempre encontrando para você chegar no lugar, estar tudo iluminado e fazer a cena", completa.

Entre as diversas dificuldades, retratar o Rio de Janeiro dos anos 40 e 50 foi uma das principais. "O Rio foi muito deteriorado arquitetonicamente. Ficamos 10 meses nesse processo de recriar uma cidade que não existe mais. Contamos com um trabalho de pesquisadores da época. Foi bem difícil, mas ainda existem alguns locais que resistem ao tempo e foi disso que a gente foi atrás", explicou José Henrique Fonseca.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade