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Zé do Caixão critica indústria atual do terror e relembra Halloween

31 out 2012 - 14h30
(atualizado em 5/11/2012 às 07h19)
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Natalia Julio

É com nostalgia que Zé do Caixão, figura mítica brasileira, encara o Dia das Bruxas. Para o cineasta José Mojica Marins, que encarna o personagem há décadas, a data era comemorada com mais intensidade quando ele era criança. "Era muito celebrado, a gente pegava doce, os pais contavam histórias de medo, era uma época muito mais gostosa. Hoje eu não sei o que faz essa criançada. No passado a gente tinha mais solidariedade, a vizinhança se ajudava, à noite era muito legal. Com pouca violência", disse ele, em entrevista ao Terra nesta quarta-feira (31).

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Atualmente, Zé do Caixão celebra a data de maneira mais convencional - nas suas palavras, "com muito trabalho". Nesta tarde, ele participará de um evento que consiste em percorrer um edifício parando nos andares para "fazer brincadeiras". À noite, sua agenda também está ocupada. "Estou contratado e por uma boa grana", comemora.

O cineasta se gaba de ter nascido no cinema. Descendente de espanhóis, Zé passou sua infância em um cinema em São Paulo, vendo filmes da cabine - o pai era projetor. Nos dias seguintes às sessões, Zé virava o centro das atenções ao contar as histórias de terror para as crianças da vizinhança. Após dedicar sua vida aos filmes de horror, ele vê com pessimismo os rumos que a arte tem tomado. "A impressão é que pararam, não estão avançando. Acho que a gente tinha mais coisa no passado. Eles tentam fazer coisas com muita tecnologia, e aí não dá medo, chega a ficar engraçado. No passado era uma coisa mais artesanal", analisou.

Filmes atuais de sucesso com figuras que, na teoria, seriam assustadoras, são vistas com receio pelo cineasta - entre os citados, o fenômeno teen vampiresco Crepúsculo. "Não estou vendo muito terror nessas fitas, principalmente essa com o grupinho de gente bonitinha. Crepúsculo, Eclipse... não tem nada para assustar. A juventude gosta de ver as meninas bonitas, até os monstros ficam bonitinhos. É quase um preconceito", riu. Para ele, a seleção dos atores por critérios estéticos anula elementos clássicos do terror cinematográfico. "Perde aquilo de você se assustar com a própria sombra, com o vento que zunia, o ranger da porta."

Halloween e o Primeiro Mundo

Sempre ativo, Zé já tem um próximo filme na manga. Chamando de A Praga, deve estrear em dezembro deste ano ou março de 2013, mês em que Zé do Caixão completa 77 anos (Zé já tem um filme com este título, de 1979). "Parece que o pessoal está esperando eu morrer", disse, sobre a demora no lançamento. A obra está sendo produzida há cerca de 15 anos e ficou pronta no ano passado - o atraso, explica ele, aconteceu por problemas de verba.

É no exterior que Zé do Caixão vê a esperança para o gênero de terror e o maior reconhecimento de suas obras - são dezenas de títulos, como À Meia-Noite Levarei Sua Alma e O Despertar da Besta. Uma memória que o cineasta tem do Halloween aconteceu há cerca de 15 anos, durante uma homenagem feita ao cineasta em Nova York. "Se aquele trabalho fosse feito aqui, seria um sucesso para nosso público, visto que o Brasil é um País de superstição", opinou. Orgulhoso, ele conta que, no evento, diversas pessoas se fantasiaram de Coffin Joe, como o cineasta é chamado nos Estados Unidos.

"Lá o pessoal tem um respeito muito grande por mim. Aqui não há esse reconhecimento", disse. Ele se lembra de uma vez que esteve no Canadá e se emocionou ao ver uma fila de pessoas ansiosas para conferir sua obra. Um produtor viu a cena e disse para o cineasta: "não fica triste. Aqui você está sendo homenageado pelo primeiro mundo."

Para o dia de Halloween, Zé do Caixão recomenda o clássico A Torre de Londres, filme de 1939 com Boris Karloff no elenco. "Se o Boris voltasse hoje, realmente assustaria. Tem uma cena com esse ator que me marcou muito, de uma criança pondo a mão embaixo da porta e ele desce o pé. Forte", disse. Por fim, o cineasta se despede para dar continuidade à sua agenda cheia do dia: "fique com Deus".

"Eles tentam fazer coisas com muita tecnologia, e aí não dá medo, chega a ficar engraçado", opinou José Mojica Marins
"Eles tentam fazer coisas com muita tecnologia, e aí não dá medo, chega a ficar engraçado", opinou José Mojica Marins
Foto: Celso Akin / AgNews
Fonte: Terra
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