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Vamos acrescentar uma nova categoria ao Oscar

11 fev 2010 - 16h10
(atualizado às 16h29)
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A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas vem reformulando e refinando suas regras e categorias de premiação desde que o Oscar foi criado. Nos últimos anos, vimos o acréscimo de um prêmio para melhor longa de animação, e este ano 10 trabalhos passarão a disputar o prêmio de melhor filme -ainda que o número padrão de indicados viesse sendo cinco desde a metade da década de 40.

Assim, aproveitando esse espírito de mudança, vou submeter uma proposta para dois novos prêmios: novo ator mais promissor e nova atriz mais promissora.

A academia jamais criou uma categoria semelhante, ainda que, no passado, seu Conselho de Diretores realizasse votações rotineiras para a concessão de um prêmio especial para um ator infantil ou juvenil. Foi com esse prêmio que a Academia reconheceu o trabaho de atrizes como Shirley Temple, Judy Garland, Margaret O'Brien e outros jovens astros do cinema do passado. Mas eram prêmios dedicados estritamente aos astros infantis, e os ganhadores na verdade não levavam um Oscar para casa. Recebiam uma versão miniatura da estatueta, o que tanto parecia condescendente quanto de fato o era. No caso de Judy Garland, ela recebeu seu Oscar mirim menos de quatro meses antes de completar 18 anos.

Não estou propondo formalizar um prêmio infantil para essas novas categorias, mas em lugar disso algo parecido com aquilo os franceses fazem em seu prêmio César, o equivalente do Oscar naquele país. Desde 1983, o César oferece talentos para novos talentos que servem para estimular os atores iniciantes. Sob as regras do César, um mesmo ator pode receber mais de uma indicação ao prêmio de melhor ator iniciante, mas não pode voltar a ser indicado depois de uma vitória. Afinal, depois disso ele não poderia mais ser considerado como iniciante.

O César vem tendo incrível sorte nessa categoria, especialmente com relação às atrizes. Ou o prêmio de melhor ator iniciante serve como um maravilhoso instrumento para a previsão de sucesso futuro ou o fato de que os agraciados tenham sido escolhidos para ele é estímulo suficiente para que estabeleçam suas carreiras. Provavelmente as duas coisas funcionam de modo combinado. De qualquer forma, a lista das atrizes premiadas como promissoras se assemelha a uma lista dos maiores sucesso atuais do cinema francês, escrita antes que esse sucesso surgisse.

Charlotte Gainsbourg (1986) ganhou o prêmio aos 14 anos. Sophie Marceau (1983) e Sandrine Bonnaire (1984) o fizeram aos 16. Feraldine Paihas (1992), aos 21. Audrey Tatou (2000), aos 24. Sandrine Kiberlain (1996) levou o prêmio aos 28 anos de idade; e Valeria Bruni Tedeschi (1994) aos 29.

Suponho que, nos Estados Unidos, esses não sejam exatamente nomes instantaneamente reconhecidos. Mas imagine que eu tivesse escrito que Meryl Streep, Cate Blanchett, Kate Winslet e Nicole Kidman haviam conquistado esse prêmio no momento em que suas carreiras estavam por decolar. Estamos falando de estrelas, de talentos de primeira magnitude. Até mesmo as pessoas que jamais assistiram a um filme francês podem conhecer Melanie Laurent, que interpretou a jovem proprietária judia de um teatro em Inglorious Basterds. Ela conquistou o César como talento jovem mais promissor três anos atrás, aos 24 anos.

Entre os atores que conquistaram o prêmio francês de talento mais promissor, temos nomes como Yvan Attal (1989), Olivier Martinez (1994), Mathieu Amalric (1997) e Louis Garrel (2005), como os maiores destaques.

Se adotada para o Oscar, a premiação dessas categorias atenderia a diversas funções. Primeiro, poderia ser usada para celebrar o trabalho de atores infantis notáveis, quando isso se justificasse. Anna Paquin poderia ter ficado com esse prêmio, em lugar do Oscar como melhor atriz coadjuvante que conquistou por O Piano, e Haley Joel Osment teria levado para casa o prêmio de jovem talento mais promissor, em lugar de voltar para casa de mãos vazias, por sua maravilhosa interpretação em O Sexto Sentido.

Mas o prêmio seria usado primordialmente para reconhecer ou celebrar a chegada de jovens estrelas já adultas ao mercado. Julia Roberts poderia ter conquistado seu primeiro Oscar pelo trabalho que realizou em Uma Linda Mulher, o que evitaria a necessidade de premiá-la anos mais tarde por Erin Brockovich. Este ano, Carey Mulligan parece ser uma candidata muito merecedora a um prêmio para os talentos promissores, devido ao seu desempenho em An Education, se o prêmio existisse. Em lugar disso, uma de suas coisas acontecerá: ou ela voltará para casa sem premiação, o que seria triste; ou ela conquistará o prêmio como melhor atriz, o que seria ainda mais triste.

A categoria de ator e atriz mais promissores também seria uma maneira prática de convencer os eleitores a reconhecer o talento dos profissionais mais jovens. Chris O¿Donnell certamente teria conquistado o prêmio nos anos 90, assim como Brad Pitt, o que eliminaria o senso de que é preciso continuar a nomeá-lo ao troféu de melhor ator por interpretações simpáticas mas sem muita profundidade. Scarlett Johansson e Wynona Rider sem dúvida já teriam ganhos seus Oscars na categoria. E em lugar do espaço vazio que John Travolta guarda em sua estante já há 30 anos, ele poderia ter um Oscar como talento mais promissor juntando poeira naquele local desde que estrelou Os Embalos de Sábado à Noite.

Creio que os franceses só concedam o seu prêmio a atores jovens, mas a versão do Oscar poderia acomodar a premiação de atores mais velhos, igualmente, desde que tenham estreado recentemente no cinema. Sydney Walker, por exemplo, um ator já falecido que passou anos deliciando as audiências de teatro de San Francisco por seu trabalho no American Conservatory Theatre, foi brilhante em ¿A Prelude to a Kiss¿, um filme de 1992, mas não havia maneira de um ator de 71 anos de idade, sem retrospecto no cinema e sem amigos influentes no setor, conquistar uma indicação ao prêmio de melhor ator coadjuvante. Mas se houvesse um prêmio para os novos talentos, ele poderia ter recebido o reconhecimento que merecia.

De fato, esse é um daqueles raros caso em que uma ideia só tem vantagens. Na França, um prêmio como esse serviu para estimular os jovens talentos, e o mesmo poderia acontecer aqui. E o prêmio também poderia ser útil de outras maneiras, como delineei. O Conselho de Diretores da academia deveria considerar adotar essa categoria em sua próxima reunião.

E os indicados são:

Eis algumas das indicações possíveis para a categoria de novos talentos, se ela existisse este ano. O prêmio, melhor ressalvar, não seria limitado a atores estreantes em cinema. Na verdade, a expectativa seria a de que algumas pessoas fossem indicadas diversas vezes consecutivas ao prêmio. Basicamente, o prêmio deveria ser concedido a pessoas que, no início de suas carreiras cinematográficas conquistaram atenção especial e parecem particularmente promissoras.

Melhor novo talento femininoMariah Carey (Precious): Ela parece ter superado a maldição de Glitter.Diane Kruger (Inglourious Basterds): Ela já trabalhou em alguns filmes nos Estados Unidos, mas foi só neste, com seu papel como estrela do cinema alemão, que as pessoas começaram a prestar atenção.Melanie Laurent (Inglourious Basterds): Ela é claramente um novo talento no mercado dos Estados Unidos, e sua interpretação foi excelente, uma das melhores do ano.Mo'Nique (Precious): No entanto, ela faria melhor em optar por uma indicação como melhor atriz coadjuvante, porque seu Oscar está garantido.Carey Mulligan (An Education): Ela seria exatamente o que essa categoria quer representar: receber positivamente os talentos e validá-los para o futuro. Gabourey Sidibe (Precious): Ela teria muito mais chance nessa categoria do que como melhor atriz.

Melhor novo talento masculino

Tim McGraw (The Blind Side): Como o mais esbelto dos magnatas do fast food do sul dos Estados Unidos, o astro da música country não se saiu nada mal. Christian McKay (Me and Orson Welles): Eu votaria nele.Chris Pine (Star Trek): Capitão Kirk e Capitão Jovem Arrogante se encontram, em um desempenho que mostrava semelhanças com o estilo vistoso de William Shatner. Michael Stuhlbarg (A Serious Man): Ele despertou grande empatia como um Jó contemporâneo no filme dos irmãos Coen.Christoph Waltz (Inglourious Basterds): Embora indicá-lo para esse prêmio seja loucura quando sua vitória como melhor ator coadjuvante está quase garantida.Sam Worthington (Terminator Salvation): O filme era horrível, mas certamente não por sua culpa (vamos deixar Avatar de fora nessa discussão).

Mo'Nique em cena de 'Preciosa'
Mo'Nique em cena de 'Preciosa'
Foto: Divulgação
The New York Times
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