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As estrelas estão a salvo, pelo menos por 24 horas

6 mar 2010 - 21h36
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LEAH ROZEN

Joan Rivers não se impressionou com o vestido Zac Posen, ornado e na altura da batata da perna, que Tina Fey usou no Golden Globe no início deste ano. "Espero que ela tenha tido a intenção de provocar risos, porque conseguiu", Rivers declarou. "Ela parecia uma tampa de privada decorativa". Ela também não admirou o vestido Bottega Veneta roxo que Sandra Bullock usou no mesmo evento: "parecia o vestido velho de formatura do Prince". E Adam Lambert, todo glamoroso em Dolce & Gabbana no Grammy? Ela foi direto ao ponto: "se Elvis e Elvira tivessem um filho, seria ele. Ele parece um Coronel Sanders gay". Sim, a sabedoria do tapete vermelho está de volta.

No domingo (7), quando as estrelas de Hollywood chegarem à cerimônia do Oscar, elas não terão que se preocupar com Joan Rivers enfiando um microfone em seus rostos recém-preenchidos de botox, exigindo saber "Quem você está usando?". Esses dias já ficaram para trás.

Mas as gafes de moda não vão passar despercebidas nem serão poupadas da gozação. Rivers, 76, está no pé das estrelas, graças ao seu novo trabalho como policial-chefe do programa Fashion Police do canal E! Entertainment.

Para aqueles que passaram anos adorando os comentários cáusticos de Rivers no tapete vermelho -ela praticamente inventou essa arte no canal E! em 1996- é como se uma rainha retornasse ao seu reino após uma ausência intensamente sentida tanto pela soberana quanto por seus súditos. (Ela e sua filha, Melissa Rivers, que dividiam as obrigações sobre o tapete vermelho, saíram do E! em 2004, indo para o canal TV Guide; em grande parte, elas ficaram de fora da cena de premiações desde 2007, quando foram dispensadas pelo TV Guide.)

Rivers estará assistindo e debochando da badalação do Oscar na casa de Melissa, em Pacific Palisades, Los Angeles. Lá, ela e a filha receberão três roteiristas de comédia e um assistente para anotações. "Vamos falando e ninguém é censurado", ela disse. A maioria das piadas escritas na casa de Melissa vai aparecer no roteiro do Fashion Police especial pós-Oscar, gravado na manhã de segunda-feira (1) e com transmissão prevista para as 22h do mesmo dia.

Ficar de fora do tapete vermelho é uma maravilha para ela. Sem mais ter que insultar as estrelas na cara delas, brigar com relações-públicas superprotetores ou aguentar ataques de histeria ("Diane Keaton ficou sem falar comigo por anos depois que eu disse que ela parecia Charlie Chaplin", disse Rivers, se lembrando do terno preto largo e das luvas que a atriz usou no Oscar de 2004).

Em sua mais recente encarnação, Rivers é para o Oscar o equivalente a um comentarista esportivo após os jogos do Super Bowl, só que as críticas dela são direcionadas aos uniformes e não às jogadas. Este ano, ela já pronunciou seus veredictos divertidos depois das premiações do Golden Globes, Screen Actors Guild e Grammy.

"Como em Poltergeist, eu voltei", uma Rivers sorridente anunciou em seu programa Fashion Police do Golden Globe. "Velhas apresentadoras nunca morrem, elas apenas fazem cirurgia plástica e voltam parecendo mais jovens do que nunca".

A missão dela? "Temos que falar a verdade", ela lembrou seus companheiros de grupo: Khloe Kardashian Odom, do clã de reality show; Giuliana Rancic, do E!; e Jay Manuel, de America¿s Next Top Model. (Melissa Rivers, 42, é a produtora, ajudando a estruturar o programa, supervisionando a gravação e fazendo avaliações no final.)

Joan censurou Meryl Streep por usar um Balenciaga deselegante na premiação do Screen Actors Guild: "parece que ela está usando um papel de parede. Parece o sofá da minha avó". Patricia Arquette, com um visual particularmente desmazelado, fez Joan explodir: "isso é uma piada? Parece um sári ¿ um sári que sente muito".

Com a boa e velha Rivers, a audiência do Fashion Police subiu em relação ao ano passado. "Joan é o rosto original do canal, por isso é ótimo tê-la de volta", disse Kevin MacLellan, 42, presidente de produção do canal E!. "Ela é o nosso Simon Cowell: ela fala o que todo mundo está pensando, só que mais alto, com mais graça e estilo".

Seu retorno ao E! é emblemático da extraordinária força e determinação da humorista. Em uma carreira que se estende por quase meio século, ela teve notáveis altos e baixos muito públicos (incluindo o suicídio de seu marido Edgar Rosenberg em 1987), e mesmo assim, ela sempre ressurgiu.

Se a bravura é seu forte, o trabalho é sua salvação. "Desde que comecei a falar, tudo que eu queria era estar nesse ramo", ela disse. "Consegui o que queria. Realizei meu sonho. Meu sonho não me decepcionou. Os homens me decepcionaram em alguns momentos. Parentes e amigos também. Mas esse negócio nunca me decepcionou".

Num recente dia de neve, Rivers se encontrava na biblioteca de sua opulenta cobertura duplex em Upper East Side. Em pessoa, ela é pequena (apesar do salto perigosamente alto), loira e atraente, embora de uma forma cirurgicamente esculpida.

Ela é tão engraçada quanto na TV, só que mais calma e sutilmente perspicaz. "Joan no palco: é uma personagem", Rivers diz. "Ela fala o que todos nós queremos dizer. Ela se irrita com tudo. Ela é chocante. Agora, eu concordo com tudo que ela diz, mas ela é Joan elevada à centésima potência".

A Joan verdadeira mostra à repórter uma cópia de sua ocupada agenda de compromissos. "Hoje é um dia feliz", ela diz sobre estar com a agenda cheia. Primeiro, ela faz uma sessão de ginástica com seu personal trainer, depois vai ao cabeleireiro e maquiador. Então vem esta entrevista e depois uma aparição ao vivo num programa de notícias local e uma série de entrevistas telefônicas com a imprensa internacional para promover a edição do Oscar de Fashion Police. Às 21h, ela faz uma apresentação de stand-up no West Bank Café, no Theater District, para dar uma polida no material novo, e então faz uma aparição ao vivo à meia noite no Watch What Happens, no canal Bravo.

É uma agenda castigante para qualquer um, ainda mais para alguém que já passou há muito tempo da idade da aposentadoria. Sua amiga e também humorista Kathy Griffin, 49, estrela de My Life on the D-List do Bravo, se espanta com o vigor de Rivers: "quando eu tiver 76, vou dizer, 'Como a Joan Rivers fazia isso? De onde ela tirava essa energia?'"

Rivers não tem explicação para seu vigor -ela acorda às 8h e raramente dorme antes das 3h ou 4h da manhã seguinte- além da sorte que teve na loteria genética. Mas ela tem uma explicação para a longevidade de sua carreira: ter agarrado cada oportunidade que lhe foi jogada. "Nunca recuse um trabalho", ela diz, "porque você não sabe onde a próxima galinha dos ovos de ouro vai estar".

Ultimamente, Rivers tem encontrado diversas galinhas douradas cacarejando. Além de Fashion Police, o canal TV Land acabou de renovar seu programa How'd You Get So Rich? para uma segunda temporada (nele, ela tagarela com magnatas que fizeram fortuna enquanto passeia por suas residências extravagantes). Ela está criando outro reality show, com o título temporário de Mother Knows Best, no canal WE tv. A premissa do programa: ela iria morar com Melissa enquanto procura por uma casa em Los Angeles. (O apartamento de Rivers em Manhattan está à venda; ela pretende dividir seu tempo entre Los Angeles e Nova York, num quarto do hotel The Pierre.)

Em junho, um documentário revelador, Joan Rivers - A Piece of Work, deverá ser lançado nos cinemas. Focado em um ano de sua vida, o filme estreou no Festival de Cinema de Sundance, onde foi ovacionado tanto pelos críticos quanto pelo público. "Foi fabuloso", ela disse. E não podemos esquecer suas 130 apresentações de stand-up pelos EUA durante um ano e suas aparições regulares no QVC para promover uma linha de joias que leva seu nome. "Estou pagando minha aposentadoria", Rivers diz, meio que brincando. Em 20 anos, ela vendeu mais de 20 milhões de joias, ganhando US$ 800 milhões, segundo seu relações-públicas.

Numa idade na qual a maioria de seus contemporâneos já se aposentou há muito tempo, ou pior, essa nova-iorquina anda mais requisitada do que nunca. Ela não se reinventou tanto (ela ainda pergunta às celebridades, Dá pra falar?), mas se adaptou. "Sempre sigo em frente", ela diz. "Não se pode ir para trás".

Griffin admira o impulsivo compulsivo de Rivers. "Joan descobriu como o jogo funciona e tem um amor genuíno por ele", ela diz. "Se você está nisso, precisa amar". De outra forma, é brutal demais para uma humorista mulher. Acho que Joan se diverte muito tentando descobrir qual será a próxima onda.

Rivers se empenha para continuar relevante. Ela tem um blog e uma conta no Twitter ("Olhe toda essa neve em NY!" ela twittou para seus seguidores. "Tem tanta coisa branca soprando do lado de fora da minha janela que parece o interior do nariz da Amy Winehouse!") Ela é viciada em seu BlackBerry e lê The New Yorker em seu Kindle. "Adoro googlar", ela diz. "Adoro poder pesquisar 'Anna Miller continua viva?'" (Não, a estrela de cinema que sapateava morreu em 2004.)

Ela diz que não vai pesquisar no Google sobre a guerra entre os programas de talk show da madrugada. "Ah, por favor, não poderia ligar menos", diz Rivers, que foi notoriamente ignorada por seu amigo e mentor de longa data Johnny Carson depois de tentar fazer seu próprio programa na madrugada em 1986, na Fox. "É antiquado, só mais um velho de terno. Só fico feliz por Jay Leno ter voltado ao horário das 23h30 porque agora não preciso mais tomar sonífero".

Quando ela testa a piada sobre Leno durante a apresentação em West Bank, o público reage com uma grande risada. E é por isso, resumindo, que você não deve mencionar a palavra "aposentar" para ela. Ela adora demais se apresentar; os risos são seu oxigênio.

"Quando eles te amam, você os ama e todos se divertem, é o paraíso", Rivers disse. "E é por isso que eu não vou me aposentar".

(Tradução: Amy Traduções)

Joan Rivers analisará looks das celebridades no Oscar
Joan Rivers analisará looks das celebridades no Oscar
Foto: Reprodução
The New York Times
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