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'Bravura Indômita' faz homenagem ao gênero faroeste e acerta

9 fev 2011 - 08h50
(atualizado em 22/2/2011 às 10h51)
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Carol Almeida

Fotografia em contraluz, corte de cena em demoradas fusões e panorâmicas do cenário árido de um Oeste ainda desbravado por homens que passavam a vida inteira vestindo uma só roupa para os invernos mais cruéis e os verões mais escaldantes. Tudo isso sob uma trilha sonora instrumental de pianos e violinos que preenchem lugares ermos tal como o uísque que distrai um homem de sua solidão. O Bravura Indômita dos irmãos Coen é o faroeste respeitando todas as premissas clássicas do gênero que deu identidade à América conquistadora. E é por seguir à risca essas regras sendo, no entanto, dirigido por uma dupla acostumada a dar várias camadas emocionais e plásticas à violência, que este filme se engrandece e ganha corpo de um dos títulos mais nobres desta temporada.

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Produção com o segundo maior número de indicações ao Oscar este ano - 10 no total, incluindo Melhor Filme, Direção, Ator e Roteiro Adaptado -, Bravura Indômita vem sendo vendido pelas esquinas como um remake do filme homônimo de 1969, com John Wayne no papel que hoje é de Jeff Bridges. Mas ainda que apresente cenas bem parecidas, quando não idênticas, à versão de 69, o filme dos Coen tem identidade própria e parece ser mais uma adaptação do livro de 1968 escrito pelo Best-seller Charles Portis do que um decalque da primeira leitura cinematográfica.

A nova versão, por tudo que ela apresenta em sua ficha técnica, é daquele tipo difícil de errar: elenco magistral, roteiro de diálogos sagazes e quase líricos em suas mensagens diretas, fotografia com cor de sol se pondo, montagem à moda antiga e dois diretores que souberam tirar o chapéu para o conceito que existe por trás de um filme de faroeste, dos tempos em que eles eram feitos para homens do porte de John Wayne e Clint Eastwood. Mas no topo de tudo isso temos ela, a história a ser contada, aqui representada pela incrível fábula de uma menina que decide, na omissão de justiça superior, vingar a morte de seu pai, dando o troco ao assassino na mesma moeda.

Jeff Bridges, nosso novo macho de respeito, é o homem que ela escolhe e contrata para prestar esse serviço sujo. No papel de um US Marshall, uma espécie de delegado federal cujo distintivo e função ainda persistem ao tempo como símbolo dessa nação onde lei é palavra doce em discursos sobre liberdade, Bridges é Rooster Cogburn (o nome já sai da boca como um latido de cachorro brabo). Notoriamente pouco dado a prosas e bastante afeito a uma garrafa de uísque, ele é famoso também por atitudes pouco piedosas diante dos criminosos que persegue. Cogburn é feito de pedra, pólvora e álcool, num terra que engole seus pecados com poeira.

O vemos pela primeira vez tal como a narradora dessa trama o vê: sentado como testemunha de um tribunal que o acusa de ultrapassar o limite de seu serviço em proteger os fracos e oprimidos. "Senhor Cogburn, em quatro anos como US Marshal, em quantos homens o senhor atirou?", pergunta o promotor da cidade. No que nosso anti-herói responde em resmungo: "Atirei ou matei?" A conta, dos tiros ou das mortes, foge à sua memória e essa atitude displicente quanto à vida alheia conquista a mais indômita das personagens, a própria Mattie Ross, vivida por uma Hailee Steinfeld (hoje aos 14 anos) que sabe domar seu papel com pulso e voz firme. Sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante é justa, mas é de se questionar o atributo de coadjuvante. Afinal de contas, a jovem Mattie é a protagonista da história e está em todas as cenas do filme.

Com uma rara habilidade em convencer e negociar seus interesses, Mattie convence o bronco Cogburn a assumir a tarefa de capturar Tom Chaney (Josh Brolin), bandido este também procurado a preço de ouro pelo assassinato de um senador no Texas. E quem está atrás da recompensa é o vaidoso LaBoeuf (Matt Damon), um cavaleiro todo organizado em suas roupas, cachimbo, chapéu no lugar. Ao contrário do que foi acertado na transação paga por Mattie, Cogburn e LaBoeuf partem à caça de Chaney deixando a maior interessada para trás.

Não contente em ter sido subestimada, Mattie protagoniza a cena da grande virada de roteiro. Montada em um cavalo tão jovem quanto ela, a moça cruza um rio quase completamente debaixo d'água, enquanto é assistida pelos dois caubóis. A estética, a posição da câmera e até mesmo os atores parecem, neste momento, ter saídos de um filme de Sergio Leone.

A perseguição por Chaney, como é de se esperar, toma rotas inesperadas, mas não estranhas o suficiente para evitar um laço familiar orgânico entre Mattie e Cogburn. Com ou sem LaBoeuf, os dois funcionam com uma lógica à parte e, no silêncio inebriante do deserto, experimentam um entendimento mútuo do pai cujo único filho ele não mais conhece, e da filha que já perdeu seu pai.

As decisões que o roteiro dos Coen tomam parecem ser bastante ponderadas para que o filme não perca sua identidade maior do faroeste, o gênero que deu sentido, corpo e poesia ao ser destemido, selvagem e árido do Oeste. O desfecho, distinto do final do título de 1969, é corajoso e verdadeiro. Dignifica ainda mais os personagens dessa história cheia de mensagens pouco subliminares.

Personagens de 'Bravura Indômita', indicado em 10 categorias no Oscar
Personagens de 'Bravura Indômita', indicado em 10 categorias no Oscar
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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