80º Oscar

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80º Oscar

Sábado, 23 de fevereiro de 2008, 12h40 Atualizada às 13h26

'Sangue Negro' larga na frente na corrida pelo Oscar



Além de durar cerca de três horas e retratar a América do começo do século XX, dois ingredientes básicos para um filme que se lança na corrida pelo Oscar, Sangue Negro traz ainda a linguagem densa, asfixiante e independente de Paul Thomas Anderson, já acostumado a contar histórias com mais de 150 minutos, como fez em Magnólia (1999) e Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997).

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Com oito indicações à principal premiação da indústria do cinema, este difícil e incômodo filme analisa a natureza capitalista e insolente do personagem Daniel Plainview, um magnata e pioneiro do ramo do petróleo cuja filosofia de vida exclui qualquer traço de bondade e que nesta temporada garantiu ao ator Daniel Day Lewis uma enxurrada de prêmios.

Numa espécie de odisséia anti-heróica carregada de violência, Sangue Negro apresenta uma galeria completa de personagens, conduzindo suas reflexões pelos canais do fanatismo religioso, da destruição da família e da dissolução do sentimento de culpa.

Baseado no romance Oil!, de Upton Sinclair, e rodado no Texas - embora a história se passe na Califórnia - , o filme, já comparado a clássicos do cinema como Assim Caminha a Humanidade (1956), de George Stevens, foi produzido sob a influência do longa O Tesouro de Sierra Madre (1948), pelo qual Anderson ficou obcecado antes de iniciar as filmagens.

Apesar de ter ganho força nas últimas semanas, a produção com mais chances de sair premiada da noite de domingo - junto com Onde os Fracos Não Têm Vez - parece, no entanto, fadada a morrer na praia.

Assim aconteceu no Globo de Ouro, no Bafta britânico e no recente Festival de Berlim, onde Sangue Negro era o favorito da crítica, mas perdeu para o brasileiro Tropa de Elite.

Com nomes pouco conhecidos no elenco, o filme, porém, foi eleito o melhor do ano pela Associação de Críticos de Los Angeles e pela Associação Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos.

Além disso, é considerado o 20º melhor longa de todos os tempos pelo site IMDb, embora tenha faturado apenas US$ 30 milhões nas bilheterias americanas.

Onde os Fracos Não Têm Vez
Depois de Fargo (1996), os irmãos Joel e Ethan Coen voltam a seduzir Hollywood com sua abordagem do lado mais sórdido do oeste americano em Onde os Fracos Não Têm Vez, western que concorre a oito estatuetas do Oscar.

O longa iniciou sua caminhada no último Festival de Cannes e, de imediato, entusiasmou a crítica, elevou Javier Bardem à categoria de um dos melhores atores da temporada e relançou o escritor Cormac McCarthy, especializado na dissecação do absurdo da vida e premiado com um Pulitzer.

No Country for Old Men (no original), tanto o filme como o livro que o inspirou, conta a perseguição de Anton Chigurh, um sanguinário e tenaz matador de aluguel cujo "modus operandi", sujeito a uma rígida e curiosa ética profissional, contrasta com a desvalorização dos princípios do estado do Texas.

Na história, o banho de sangue promovido por Chigurh se cruza com a história de Llewelyn Moss, um sujeito comum que encontra uma caminhonete cercada por vários corpos e com uma carga de heroína e US$ 2 milhões dentro. Quando Moss pega o dinheiro, provoca uma reação em cadeia de violência, que a lei, representada pelo desiludido xerife Bell, não consegue deter.

O filme, que se passa no Texas - embora tenha tido a maior parte de suas cenas rodada em Las Vegas - , se tornou o maior sucesso comercial dos irmãos Coen nos Estados Unidos, onde foi lançado em 21 de novembro e já arrecadou mais de US$ 70 milhões.

Na corrida pelo Oscar deste ano, Onde os Fracos Não Têm Vez larga como favorito junto com Sangue Negro. Desde o fim de 2007, quando a crítica americana começou a destacá-lo como o melhor do ano, já faturou 73 prêmios, incluindo o da Associação Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos.

Desejo e Reparação
Sem o apoio unânime da imprensa especializada, mas com o aval dos prêmios conquistados no Bafta e no Globo de Ouro, Desejo e Reparação concorre a sete estatuetas do Oscar, apoiado no sucesso de sua base literária, o livro Atonement, de Ian McEwan.

Após filmar Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, o diretor Joe Wright volta a contar com sua atriz-fetiche, Keira Knightley, neste romance de época, que conta a história de um amor interrompido por vicissitudes pessoais e históricas antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.

Desejo e Reparação trata da irreversibilidade das ações, descreve de uma maneira fiel, rítmica e original o cortejo amoroso e faz uma hábil radiografia das obsessões infantis. Dividido em duas partes, se passa num casarão de estilo vitoriano da Inglaterra pré-guerra e, depois, faz uma espetacular recriação do conflito.

Além de ter sido indicado em categorias técnicas - direção de arte, figurino, fotografia e música - , o longa concorre ainda aos prêmios de roteiro adaptado e atriz coadjuvante (Saoirse Ronan).

Porém, o Globo de Ouro e o Bafta de melhor filme fizeram a fita perder fôlego na corrida pelo principal prêmio da noite do Oscar. No retrospecto da premiação, desde 1989, apenas Conduzindo Miss Daisy recebeu o prêmio de melhor filme sem ter seu diretor indicado, algo que, a priori, dá chances a Desejo e Reparação, cujo realizador não foi lembrado pela Academia de Hollywood.

No entanto, desde O Último Imperador, premiado em 1987, nenhuma produção européia levou o Oscar de melhor do ano.

Além de ter tido uma bilheteria considerável nos EUA, onde arrecadou US$ 47 milhões, o longa de Joe Wright foi um grande sucesso de bilheteria na Europa, especialmente no Reino Unido, tendo faturado mais de US$ 110 milhões no mercado internacional até o momento.

Juno
O filme Juno, de Jason Reitman, é o de orçamento mais enxuto, maior bilheteria e menor duração entre seus concorrentes ao Oscar de melhor filme, mas esta fórmula mágica é que pode levá-lo a faturar a estatueta, mesmo sendo de um gênero considerado menor pela Academia: a comédia.

Com quatro indicações a categorias importantes - filme, diretor, atriz e roteiro - , Juno é o mais popular dos candidatos e, sob o frescor e bom humor de sua narrativa, esconde inteligência e profundeza suficientes para merecer o Oscar. Além disso, o simples fato de estar na disputa representa um sinal dos tempos, já que sua roteirista, Diablo Cody, era uma famosa blogueira.

Dirigida pelo também ator Jason Reitman, do bem-sucedido Obrigado por Fumar, a produção aborda sem hipocrisia e com otimismo o complicado tema da gravidez indesejada e se arma com um personagem principal bem escrito e muito bem interpretado pela jovem Ellen Page.

Na jornada de sua protagonista para encontrar os pais certos para seu futuro filho, Juno reúne os elementos clássicos da comédia independente: o retrato de uma comunidade americana de classe média, as excentricidades do sistema e a reinterpretação desenfadada dos valores morais clássicos, seguindo a escola do ótimo Pequena Miss Sunshine.

Além disso, as reflexões da trama são enriquecidas por uma série de coadjuvantes de luxo, como Jason Bateman, Jennifer Garner, Michael Cera e Olivia Thirlby, que completam a visão cheia de cores que Juno adota para enfrentar a monotonia.

Independente, o filme ganhou o principal prêmio do Festival de Roma, que não tem o peso de outros como Cannes, Berlim ou Veneza, e faturou US$ 124 milhões desde sua tímida estréia, no Natal. Fora isso, teve seu roteiro e o trabalho de Page reconhecidos pelas associações de críticos de Chicago, Ohio, Dallas, Kansas e Flórida, entre outras.

Conduta de Risco
Conduta de Risco, que concorre a sete estatuetas do Oscar, é o filme responsável pelo toque de engajamento tão caro à maior premiação de Hollywood e também o que mais se aproxima dos padrões de narração clássica, com o detalhe de contar com o carisma de George Clooney.

Dirigido por Tony Gilroy, o longa pode se tornar mais um Chicago (2002) ou mais um Beleza Americana (1999), premiados quando seus realizadores, Rob Mashall e Sam Mendes, respectivamente, estreavam atrás das câmeras.

Lançado no Festival de Veneza e parte da filmografia engajada de George Clooney - também integrada por Syriana (2006) e Boa Noite, Boa Sorte (2006) - , Conduta de Risco seria um improvável ganhador, se não fosse o fato de que esta edição não conta com um concorrente tipicamente "oscarizável".

O longa conta a história de um advogado de Nova York que tira sua empresa do sufoco e que se debate entre sua eficiência profissional e sua integridade ética quando os interesses da companhia para a qual trabalha se confrontam com os de um amigo.

Em sua estréia como diretor, Gilroy, roteirista da trilogia Bourne, revisita os thrillers dos anos 70 de produtores como Alan J. Pakula e Sydney Pollack - não por acaso, produtor e ator em Conduta de Risco - , o que faz da produção a alternativa mais convencional para a Academia.

No entanto, o filme saiu sem estatuetas do Globo de Ouro e foi pouco lembrado pelas associações de críticos, que, na maioria das vezes, premiou apenas Clooney e a coadjuvante Tilda Swinton. Nos cinemas, o desempenho também não foi excepcional. Lançado em 12 de outubro nos Estados Unidos, Conduta de Risco só arrecadou US$ 47 milhões até agora.

EFE

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