Philippe Garrel reitera suas obsessões amorosas em “O Ciúme”
O diretor francês Philippe Garrel dá sequência ao seu cinema psicanalítico ao realizar, em “O Ciúme”, mais uma história que toma empréstimo de sua própria biografia.
O tema central é o rompimento de um casal, Clotilde (Rebecca Convenant) e Louis (Louis Garrel), depois que o marido apaixonou-se por uma colega atriz, Claudia (Anna Mouglalis).
O casal tem uma filha de dez anos, Charlotte (Olga Mishtein), que mantém uma ligação bastante afetuosa com o pai – e aí entra a história real do próprio diretor, relembrando episódio de sua infância, quando seu pai, o ator Maurice Garrel, morto há três anos, deixou a família por outra mulher.
Num enredo que privilegia os sentimentos e a insegurança amorosa, não é pequena a participação da menina, observadora privilegiada do desmoronamento da relação dos pais e do sofrimento posterior da mãe – a quem ela interroga com a franqueza por vezes desconcertante das crianças.
Tudo no filme evoca o despojamento, a começar pela fotografia em preto e branco – um belo trabalho do diretor de fotografia Willy Kurant. Há uma simplicidade no trato destes poucos personagens, envolvidos com vidas comuns, às voltas com problemas como a eventual falta de trabalho para um dos dois atores, as queixas da mulher abandonada, a curiosidade da menina diante dos relacionamentos dos adultos.
Há também um visível desejo do diretor de, por assim dizer, radiografar a dúvida como grande elemento básico da existência. Louis e Claudia estão juntos, se amam, mas têm um louco medo de perder um ao outro. Clotilde espera a volta de Louis, ou o fim da própria solidão. Charlotte não quer ficar muito longe do pai.
Se tudo é legítimo, nesta ciranda de amores frustrados, também é justo apontar uma insistência excessiva do diretor neste tema, que percorreu trabalhos anteriores, como “Um Verão Escaldante” (2011) e “A Fronteira da Alvorada” (2008), numa chave mais dramática.
O filho do diretor, Louis Garrel, repete mais uma vez no filme do pai um papel à la Antoine Doinel, o herói criado por François Truffaut em seus filmes, só que deslocado e sem uma personalidade tão marcante. Seria saudável o clã Garrel renovar seu repertório e partir para outra.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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