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Philippe Garrel reitera suas obsessões amorosas em “O Ciúme”

19 nov 2014 - 15h29
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O diretor francês Philippe Garrel dá sequência ao seu cinema psicanalítico ao realizar, em “O Ciúme”, mais uma história que toma empréstimo de sua própria biografia.

Diretor de cinema francês Philippe Garrel em entrevista coletiva em Cannes, em foto de arquivo. 22/05/2008
Diretor de cinema francês Philippe Garrel em entrevista coletiva em Cannes, em foto de arquivo. 22/05/2008
Foto: Jean-Paul Pelissier / Reuters

O tema central é o rompimento de um casal, Clotilde (Rebecca Convenant) e Louis (Louis Garrel), depois que o marido apaixonou-se por uma colega atriz, Claudia (Anna Mouglalis).

O casal tem uma filha de dez anos, Charlotte (Olga Mishtein), que mantém uma ligação bastante afetuosa com o pai – e aí entra a história real do próprio diretor, relembrando episódio de sua infância, quando seu pai, o ator Maurice Garrel, morto há três anos, deixou a família por outra mulher.

Num enredo que privilegia os sentimentos e a insegurança amorosa, não é pequena a participação da menina, observadora privilegiada do desmoronamento da relação dos pais e do sofrimento posterior da mãe – a quem ela interroga com a franqueza por vezes desconcertante das crianças.

Tudo no filme evoca o despojamento, a começar pela fotografia em preto e branco – um belo trabalho do diretor de fotografia Willy Kurant. Há uma simplicidade no trato destes poucos personagens, envolvidos com vidas comuns, às voltas com problemas como a eventual falta de trabalho para um dos dois atores, as queixas da mulher abandonada, a curiosidade da menina diante dos relacionamentos dos adultos.

Há também um visível desejo do diretor de, por assim dizer, radiografar a dúvida como grande elemento básico da existência. Louis e Claudia estão juntos, se amam, mas têm um louco medo de perder um ao outro. Clotilde espera a volta de Louis, ou o fim da própria solidão. Charlotte não quer ficar muito longe do pai.

Se tudo é legítimo, nesta ciranda de amores frustrados, também é justo apontar uma insistência excessiva do diretor neste tema, que percorreu trabalhos anteriores, como “Um Verão Escaldante” (2011) e “A Fronteira da Alvorada” (2008), numa chave mais dramática.

O filho do diretor, Louis Garrel, repete mais uma vez no filme do pai um papel à la Antoine Doinel, o herói criado por François Truffaut em seus filmes, só que deslocado e sem uma personalidade tão marcante. Seria saudável o clã Garrel renovar seu repertório e partir para outra.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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