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Richard Curtis: "Estranho é que haja tantos filmes sobre assassinos em série"

8 out 2013 - 17h11
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"Simplesmente Amor", "O Diário de Bridget Jones", "Quatro Casamentos e um Funeral" e "Um Lugar Chamado Notting Hill" têm algo em comum além e Hugh Grant e o fato de serem alguns dos maiores sucessos da comédia britânica da última década: por trás desses roteiros está a mesma assinatura: Richard Curtis.

Vestido de preto da cabeça aos pés, visual qua contrasta com seus olhos azuis e o cabelo branco, Curtis apresentou hoje em Madri seu terceiro filme - e, segundo ele, último - como diretor, "Questão de Tempo", no qual os ingredientes tradicionais de suas histórias de amor acrescenta gotas de ficção científica caseira: o protagonista, Tim, pode viajar no tempo.

Apesar do toque mágico, o roteirista e diretor garante que o que mais lhe interessa é falar das coisas comuns que acontecem com as pessoas normais: "O estranho é que haja tantos filmes sobre assassinos em série. Se a vida fosse assim, nós seríamos os únicos sobreviventes e provavelmente eu estaria a ponto de te matar", brincou em entrevista à Agência Efe.

"Mas o amor, a vida e a morte não violenta, acontecem milhões de vezes a cada dia", compara.

Curtis diz que o que espera do filme é "que as pessoas riam um pouco e chorem um pouco, e que quando saiam do cinema pensem duas coisas: 'primeiro, vou ligar para meu pai ou vou ligar para meu filho', e depois, 'amanhã tentarei ser um pouco mais feliz'".

Com um elenco liderado por Domhnall Gleeson, Rachel McAdams e Bill Nighy, "Uma questão de tempo" narra como Tim descobre, ao completar 21 anos, que os homens de sua família têm a habilidade de voltar no tempo e mudar o passado, e sua decisão de usar esse talento para encontrar o amor de sua vida.

Curtis confessa que, em algum momento da pós-produção pensou em incluir efeitos especiais, e inclusive em 3D, para abordar as viagens no tempo, mas no final apostaram na simplicidade: para ativar os "poderes", o protagonista só precisa entrar em um armário e apertar os punhos.

"Fomos a empresas especializadas e fizemos alguns testes, mas quando vimos o resultado, era horrível, portanto optamos por fazer um filme simples sobre viagens no tempo", conta, rindo.

"Não foi uma questão de orçamento - na verdade desperdiçamos dinheiro descobrindo que não precisávamos fazer isso", lembra.

Perguntado sobre "as regras" de uma boa comédia romântica, rapidamente o diretor responde que "a regra é não pensar nas regras", e garante que "jamais" leu um livro sobre "como escrever um roteiro".

O inglês, no entanto, não se importa em revelar algumas de suas técnicas, que bebem muito em seu passado como roteirista de TV e na redação de esquetes para sitcoms.

"Apenas convivo durante muito tempo com as ideias. Desde que começo a pensar em um filme sobre o amor, a família e as viagens no tempo, como esse, até ter certeza de que quero fazê-lo, pode passar um ano", explica.

"Quando começo a escrever, não faço isso na ordem das cenas, mas escrevo um monte de personagens e troços de diálogos, e depois de um mês ou dois, colo todas as notas em um tabuão e digo 'ah, aqui pode ter um filme'. E começo a trabalhar".

Entre as comédias alheias favoritas, cita "500 Dias com Ela" ou "Lost in Translation" e quanto a realizar uma possível adaptação literária, menciona Dickens. Mas "me sairia um filme de 25 horas", aponta, antes de desprezar a ideia.

Assim, sem se levar a sério demais, foi como anunciou recentemente que "Questão de Tempo" seria sua aposentadoria da direção (não da escritura), após "Simplesmente Amor" (2003) e "Os Piratas do Rock" (2009).

"Agora me arrependo um pouco de ter dito isso, porque terei que cumprir, não quero parecer como um mentiroso", brinca.

Um pouco mais a sério, Curtis explica que fez o anúncio porque tem a sensação que em seu último trabalho abordou tudo que o preocupa.

"Outros filmes se detiveram no dia do casamento, mas é aí que as coisas começam a ficar interessantes", comenta.

Sua possível aposentadoria também tem a ver com manter certa coerência com o que prega na tela.

"(Fazer) filmes são muito estressantes, cada uma lhe toma três anos e eu quero dedicar mais tempo a meus filhos e a comer com meus amigos", assinala. "Tenho a sensação de que terminei e que agora posso me dedicar a ter uma vida feliz, mas vamos ver".

EFE   
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