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"Se eu quisesse ganhar dinheiro, estava fazendo comédia", diz Bruno Barreto

16 ago 2013 - 20h44
(atualizado às 20h44)
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Bruno Barreto, diretor de 'Flores Raras'
Bruno Barreto, diretor de 'Flores Raras'
Foto: AgNews

O mais novo trabalho de Bruno Barreto é um drama muito suave. Em Flores Raras, que conta a história da relação entre a poeta norte-americana Elizabeth Bishop e a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares, o diretor apresenta como tema principal a "perda", um assunto nada fácil. Em entrevista na última segunda-feira (5), em São Paulo, Barreto foi questionado se entre as suas preocupações estava fazer um filme vendável.

"A minha preocupação é contar a história de uma maneira acessível. Quero que as pessoas vejam. Quero que as pessoas venham ver o meu filme. Mas eu também quero contar do jeito que eu quero. Se eu quisesse ganhar dinheiro, eu estava fazendo comédia e não esse tipo de filme", explicou o diretor, que recentemente estreou Giovanni Improta e em breve lançará Crô - O Filme, duas comédias, baseadas em personagens que saíram das novelas da TV Globo.

A maior preocupação de Barreto era como retratar um tema tão complicado. "Esse foi o meu maior desafio. Não queria fazer outro filme chato. Não queria fazer um filme sobre uma artista torturada. Eu queria uma história de amor, que você se emocionasse. O tema desse filme (a perda), é o que eu digo, se ele for acessível, ele pode ser quase um filme de autoajuda: se você quer ganhar, você tem que saber perder. Já vi homens, amigos meus, que falaram que não iam ver o filme. Aí foram ver e saíram chorando", contou.

Homossexualismo

Apesar do filme tratar do romance entre duas mulheres, o longa passa bem longe de uma discussão sobre homossexualismo ou como isso era visto na década de 50 e 60 no Rio de Janeiro. O fato pode causar estranheza, mas Bruno Barreto não tinha intenção alguma de discutir sobre o assunto e afirma até que espera que ele não desperte discussões nesse nível, já que não tem muito a ver com o tema central da história.

"Esse não é o tema do filme. O tema do filme é maior que esse. O tema do filme é a perda. O fato de que são duas mulheres é um elemento, um elemento do qual eu não evito falar, até mostro de uma maneira muito natural. Por isso que está ganhando prêmio de público, ganhou em Berlim, o segundo filme mais gostado no Festival de Berlim, e no maior festival gay do mundo, que é o Festival de San Francisco. Foi o segundo filme mais visto no festival de São Francisco, o primeiro era um documentário sobre a Divine, que é covardia, porque é um personagem histórico, é do imaginário coletivo gay", contou. Além disso, o filme também foi premiado no Outfest, Festival de Cinema LGBT em Los Angeles.

Barreto disse também que Flores Raras tem um quê de O Segredo de Brokeback Mountain, filme de Ang Lee, ganhador de três Oscars, que tem como protagonistas Heath Ledger e Jake Gyllenhaal. "É uma história de amor, com os obstáculos que uma história de amor tem. Acho até que esse filme, o Flores Raras, ele transcende mais a história de amor do que Brokeback Mountain, porque o fato de serem dois homens é muito parte do conflito do Brokeback, aqui não. O conflito aqui é que elas são tão diferentes. Uma maluca, que acha que pode tudo, mas no fundo é frágil, e a frágil que no fundo é muito forte. Essa inversão de papeis. Eu acho que, claro, que essa discussão vai acontecer e isso vai ajudar o filme. Ou seja, se a gente fosse levantar patrocínio hoje para esse filme, não seria tão difícil, é o assunto do momento no mundo inteiro. Então, eu acho que isso até vai ajudar o filme", completou.

Miranda Otto e Gloria Pires estrelam 'Flores Raras' e são apostas de Barreto para o Oscar 2014
Miranda Otto e Gloria Pires estrelam 'Flores Raras' e são apostas de Barreto para o Oscar 2014
Foto: Divulgação

Oscar

Bruno Barreto é um entusiasta de que o filme possa concorrer ao Oscar em 2014. Flores Raras será lançado em novembro nos Estados Unidos, para que esteja apto a concorrer ao prêmio de Academia. "Não se esqueça, um outro filme brasileiro que tem o mesmo perfil desse filme: O Beijo da Mulher Aranha, que era totalmente brasileiro, falado em inglês. E ele foi lançado em 1985, quando o Rock Hudson morreu de Aids, quando o assunto Aids fez boom. A vida tem muito disso, essa intercessão. E aí, o filme foi indicado para pelo menos quatro Oscars e ganhou Melhor Ator", relembrou.

"Então, eu vou ficar surpreso se Miranda Otto e Gloria Pires não forem indicadas a Melhor Atriz.  Não só pela qualidade do filme, esse é meu 19º filme, já fiz meu 20º, não me levo muito a sério. Mas estou sendo objetivo. O momento é propício, esse é o assunto do momento. A Ellen DeGeneres foi escolhida para ser a apresentadora do Oscar. Então, tem todo um momento a favor", completou.

O cineasta, que foi casado com a atriz americana Amy Irving entre 1996 e 2005, contou também porque ainda não aceitou ser parte do elenco que indica os vencedores do Oscar. "Minha ex-mulher vota na Academia. Eu poderia ser, mas eu só quero ser quando for indicado. Porque quando você é indicado, é automaticamente convidado. Todo mundo pergunta: como é que você não vota, você já foi indicado (por O Que É Isso, Companheiro?, em 1997). O filme já foi indicado, não eu como diretor. Como diretor eu sou automaticamente convidado, aí eu vou aceitar", explicou.

"Como atriz, ela votava. E na Academia, só ator indica ator. Na hora do prêmio, todos votam. Ator só pode nomear ator, diretor só pode nomear diretor. Se eu for convidado, como diretor, só posso indicar diretor e melhor filme. É tudo o que eu posso nomear. Depois, posso votar em todos na hora de dar o prêmio. Minha mulher tinha que votar todo ano, cinco para melhor atriz, cinco para melhor ator, cinco para melhor atriz coadjuvante e cinco para melhor ator coadjuvante.  Era uma complicação. Sempre difícil acharem cinco grades papeis para melhor atriz. Coadjuvante não, mas protagonista era. Tinha que ficar espremendo. A maioria dos grandes papeis vai para os homens. Esse tem dois grandes papeis no mesmo filme. Então, as duas podem ser indicadas. E a estratégia de lançamento nos Estados Unidos é toda em função disso", finalizou.

Cinema atual

Bruno Barreto, diretor de 'Flores Raras'
Bruno Barreto, diretor de 'Flores Raras'
Foto: AgNews

Bruno Barreto também falou sobre como encara a cena do cinema brasileiro atual e contou que aposta na nova Era de Ouro da TV. "Acho que existe uma produção enorme, não só de cinema, mas de televisão, por causa dessa lei que obriga a ter três horas e meia de produção nacional na programação das TVs a cabo. Então, hoje em dia, se você quer formar uma equipe de primeiro time, você tem que reservar uma equipe com seis meses de antecedência no mínimo. Eu, para fazer o Crô, tive que trazer um fotógrafo da argentina, porque não tinha fotógrafo. E é claro que essa falta de mão de obra, cria uma inflação, porque a demanda está altíssima. Então, quem é bom, cobra o que quer. Teve um eletricista que saiu do Crô para ser diretor de fotografia em uma série de televisão".

Apesar de estar fazendo um filme baseado em um personagem escrito para a TV, que é o caso do mordomo Crô, de Fina Estampa, vivido por Marcelo Serrado, Bruno Barreto acredita que a boa dramaturgia migrou do cinema para TV. "Esse é o Robert McKee, o guru dos roteiristas, ele diz que a boa dramaturgia migrou do cinema para a televisão. Hoje em dia, você tem dez, quinze filmes por ano, nos Estados Unidos, que são os que chegam ao Oscar, que contam a história de um personagem, o resto é parque de diversão, efeitos especiais, boom-boom. É Transformers, não sei o que, Homem de Ferro, tudo sensorial, não tem história, desenvolvimento de personagem. Isso tem na televisão e brilhantemente. É claro que a TV americana que começou isso, desde Os Sopranos, Sex and The City e tudo mais, e agora está começando a acontecer aqui no Brasil. Mas é claro que nós estamos atrás, não temos tantos roteiristas, mas vamos chegar lá. A Fox e a Universal, acho, querem fazer programa de criação de roteiristas. O que mais falta no Brasil é roteirista", determinou. 

Fonte: Terra
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