PUBLICIDADE

"Uma Longa Jornada" segue clichês da obra de Nicholas Sparks

29 abr 2015 - 15h48
(atualizado às 15h48)
Compartilhar
Exibir comentários

"Uma Longa Jornada" baseia-se num romance de Nicholas Sparks - essa afirmação já deve resolver metade de um texto relativo a qualquer longa partindo de romances desse escritor. Mudam-se o nome dos personagens, o cenário, um detalhe aqui e ali, mas independentemente do diretor, atores ou produtores, os filmes serão sempre os mesmos – basta lembrar os mais famosos, como "Um Amor Para Recordar" (2002), "Diário de Uma Paixão" (2004) e "Querido John" (2010).

Atriz Britt Robertson durante pré-estreia do filme "Uma Longa Jornada" em Hollywood, nos Estados Unidos. 06/04/2015
Atriz Britt Robertson durante pré-estreia do filme "Uma Longa Jornada" em Hollywood, nos Estados Unidos. 06/04/2015
Foto: Mario Anzuoni / Reuters

Seus livros e, consequentemente, os filmes neles baseados, seguem o mesmo modelo de sempre: jovem casal (das dez adaptações cinematográficas, só duas são protagonizadas por casais mais maduros) se apaixona, mas são de classes sociais e/ou nível intelectual diferente, um empecilho e/ou um inimigo atrapalha o romance, eles sofrem por amor, seus entes queridos sofrem juntos, e, no fim, todos aprendem uma valiosa lição, que muitas vezes poderá custar a vida de um dos membros do casal.

"Uma Longa Jornada", por sua vez, é como se fosse dois longas compactados num só.

O primeiro começa com Sophia (Britt Robertson), jovem estudiosa prestes a se formar que é arrastada a uma prova de montaria por uma amiga que faz questão de deixar claro que não é rodeio, afinal, aqui "não tem apenas homens, mas os homens mais gatos", segundo ela. Lá a protagonista conhece Luke (Scott Eastwood, filho de Clint, que ainda precisa se esforçar muito, mas muito mesmo para chegar ao mesmo patamar do pai).

Encurtando a história, eles se apaixonam, mas são de mundos diferentes – ele precisa ficar alguns segundos em cima do touro mais bravo do mundo e ela tem um estágio previsto numa galeria de arte em Nova York. Depois de muito romance, olhares perdidos e marejados, eles estão na estrada quando encontram um carro acidentado. Lá dentro está Ira (Alan Alda), que quando resgatado pede para a garota pegar uma caixa que também está no carro. Ainda bem que ela consegue fazer isso antes de o veículo pegar fogo por completo.

No hospital, já separada de Luke, começa a ler as cartas de Ira (nos flashbacks, interpretado por Jack Huston) e sua amada Ruth (Oona Chaplin) – nem entremos na questão de que é crime violar correspondência de terceiros, aparentemente o amor pode tudo! Quando Ira acorda, ela começa a ler as cartas para ele, e a história do casal a leva a pensar na dela com Luke.

Este, por sua vez, tem um grande adversário: Rango, um touro, com peso de coadjuvante que, tempos atrás, derrubou Luke, deixando-o em coma, e lhe causando problemas no cérebro, mas, claro, ele não se deixa abalar. Sua mãe (Lolita Davidovich) insiste para que ele desista dessa prova, mas ele, é claro, é destemido, arrogante e teimoso – enfim, o combo completo para um herói romântico.

Se a arte, ao seu modo, reflete o momento histórico em que foi criada, os filmes baseados em Nicholas Sparks são o equivalente cinematográfico da ascensão do neoconservadorismo nos EUA – e não apenas lá, seu sucesso em muitos países (Brasil incluso na lista) tem a ver com a onda conservadora dos últimos anos.

Vê-se aí um mundo pautado por esses valores, habitado por gente linda e loira, sem um fio de cabelo fora do lugar, cujo machismo, por exemplo, é recompensado com fama, a garota dos seus sonhos e uma bolada de dinheiro.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

Reuters Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.
Compartilhar
Publicidade
Publicidade