Veneza 2006

Sites Relacionados

Veneza 2006

Quinta, 31 de agosto de 2006, 16h52 

Face oculta dos Estados Unidos é revelada em Veneza

Busca
Saiba mais na Internet sobre:
Busque outras notícias no Terra:

Abuso de poder, magnicídios sem solução, perseguições políticas e heróis comuns tendo como cenário os Estados Unidos dominaram a Mostra de Veneza nesta quinta-feira, que apresentou filmes de consagrados diretores independentes americanos, como Spike Lee e Oliver Stone e também de estreantes como Allen Coultier.

A guerra oculta e implacável das autoridades americanas contra o célebre "Beatle" pacifista John Lennon, assassinado em 1980 por um desequilibrado mental, descrita cronologicamente no documentário "The US vs John Lennon", de David Leaf e John Scheinfeld, é uma denúncia contundente e atual das guerras passadas e atuais desatadas pelos Estados Unidos.

"Tentaram matar John, mas não conseguiram porque sua mensagem ainda está viva", disse Yoko Ono, sua polêmica viúva, que contribuiu com imagens inéditas e comoventes do companheiro para o documentário de 90 minutos de duração, que conta com mais de 30 canções compostas por ele.

Símbolo do pacifismo mundial, inimigo declarado da guerra do Vietnã, o compositor de "Imagine", "Give Peace A Chance", "Power To The People", "Happy Xmas (War Is Over)", "John Sinclair", que trocou Londres por Nova York no fim dos anos 1960, é descrito através de imagens e entrevistas como um artista criativo, coerente, divertido, carismático e profundamente fiel aos seus ideais.

Depois da seção inaugural, com "A Dália Negra", em que Brian de Palma relata um truculento assassinato sem solução na Los Angeles dos anos 1940 - recebido friamente por cinéfilos no Lido veneziano -, o estreante Allen Coultier apresentou seu primeiro longa-metragem, "Hollywoodland", na competição oficial.

Coultier indaga com eficácia a morte misteriosa, em 1959, do ator George Reeves (Ben Affleck), protagonista de "Superman", uma das primeiras séries de televisão da história, que conquistou adultos e crianças como "o homem de aço".

No filme, o diretor americano, famoso por dirigir séries famosas de televisão como "Sex and the City" e "Família Soprano", mergulha nos dilemas morais e éticos da fama que o sucesso impõe aos atores de Hollywood.

"Descrevo um mundo dominado pelo culto da personalidade, que faz de tudo em troca dos 15 minutos de fama. Hollywood promove isso. Por isto o filme é, sobretudo, uma tragédia", disse à imprensa o cineasta, que reconstruiu a época com minúcia.

Em caráter 'hors concours', mas com a mesma tônica de denúncia, foram apresentados os últimos filmes de dois representantes do cinema rebelde americano: Oliver Stone e Spike Lee.

"As Torres Gêmeas", último filme de Stone, que estreou nos Estados Unidos há algumas semanas, arrancando lágrimas e críticas positivas, reconstrói os atentados terroristas que destruíram as torres-gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001.

O filme conta a história real de dois policiais, Will Jimeno e John McLoughlin, que foram os últimos sobreviventes retirados das ruínas dos edifícios destruídos por terroristas suicidas no comando de aviões comerciais, após ficarem quase 24 horas presos sob os escombros.

Apesar de terem passado apenas cinco anos dos atentados, o filme, que custou 60 milhões de dólares, é uma espécie de homenagem aos heróis comuns, àqueles que arriscam a vida por outros sem pensar nos dividendos futuros.

Produzido pela Paramount Pictures e protagonizado por Nicholas Cage, Michael Peña e Maggie Gyllenhaal, o filme não aborda o tema do terrorismo, nem da política, e foi definido pela imprensa como um documento humano e comovente.

"As Torres Gêmeas", primeira adaptação hollywoodiana da tragédia que Nova York viveu em 2001 faturou 4,4 milhões de dólares no dia de sua estréia, na América do Norte, e estará em cartaz na Itália em outubro.

Os heróis de Stone contrastam com outros heróis americanos: os sobreviventes do furacão Katrina, que destruiu a cidade de Nova Orleans em agosto de 2005.

Os relatos e as cenas dramáticas do documentário "When the Levees Broke: A Requiem in Four Acts", de Spike Lee, fazem ao longo de quatro horas um documento único de denúncia.

"É, ao mesmo tempo, um documento de denúncia impiedoso contra as autoridades americanas e um ato de amor à capital mundial do jazz: New Orleans", declarou à imprensa italiana.

Relatado quase exclusivamente com entrevistas aos sobreviventes do furacão e os funcionários encarregados de resgatá-los, o documentário, exibido ao fim de agosto por uma TV a cabo americana, dá voz às pessoas mais afetadas pela catástrofe.

"A raiva e o amor são o fio condutor do documentário", descreveu o jornal Il Manifesto, destacando que o filme não mostra o diretor, que se destaca pela crítica social, nem ataca diretamente as autoridades, limitando-se a mostrar, com olhar objetivo, mas contundente, o ocorrido em 29 de agosto de 2005.

AFP
Todos os direitos de reprodução e representação reservados. Clique aqui para limitações e restrições ao uso.