Veneza 2006

Sites Relacionados

Veneza 2006

Sexta, 1 de setembro de 2006, 13h26 

Diretor holandês volta a suas raízes com filme nazista sombrio

Busca
Saiba mais na Internet sobre:
Busque outras notícias no Terra:

O diretor Paul Verhoeven, conhecido sobretudo por seus sucessos de Hollywood Instinto Selvagem e O Vingador do Futuro, retornou a seu país de origem, a Holanda, com um filme que contesta a visão segundo a qual a resistência antinazista no país foi um movimento composto apenas por heróis.

Assista a trailers inéditos

Black Book (livro negro) foi inspirado por personagens e fatos reais. O filme procura questionar os estereótipos cinematográficos de forças fascistas malignas, heróicos combatentes da resistência e vítimas judias impotentes.

No filme, um comandante da Gestapo é retratado como um homem de moral e dotado de compaixão, que tem um caso com uma cantora que infiltra seu quartel-general em Amsterdã, apesar de saber que ela é judia.

Depois da libertação do país do jugo nazista, a cantora que arriscou tudo para ajudar a resistência é tratada pelos holandeses como traidora. "Ninguém nunca mostrou como tratamos nossos prisioneiros em 1945", disse Verhoeven.

Ele falou que seu primeiro filme em seis anos é uma tentativa de retratar a brutalidade da humanidade. "É difícil imaginar que exista uma grande quantidade de esperança à disposição da humanidade", disse Verhoeven em coletiva de imprensa concedida após a primeira exibição do filme, na sexta-feira. Black Book é um dos 21 filmes que integram a competição oficial do Festival de Cinema de Veneza.

"Todos juntos, matamos 15 milhões de pessoas no século 20", disse ele. "Os humanos muitas vezes tratam uns aos outros como animais." Essa depravação é evidente no filme, que foi rodado na Holanda com um orçamento de 17 milhões de euros.

Traição
Judeus ricos são traídos por colaboradores nazistas locais e assassinados pelas forças nazistas, que roubam suas jóias e seu dinheiro. Combatentes da resistência são torturados e executados com crueldade. Igualmente perturbador, porém, é a traição presente no interior do movimento de resistência, que tem consequências trágicas.

Verhoeven disse que quis contestar os estereótipos cinematográficos relativos à guerra. "O que eu venho fazendo é abrir algumas partes sujas e escondidas que faziam parte da realidade. É nelas que eu situei minha história", disse ele. "A maioria dessas coisas foram sendo encontradas em livrinhos que saíram nos últimos 20 anos."

"Antigamente acreditava-se, de maneira geral, que os holandeses e a resistência eram heróis, e que os alemães e seus simpatizantes holandeses eram vilões", acrescentou eles nas notas de produção do filme. "Mas as pessoas não foram nem heróis nem vilões."

O livro preto mencionado no título é baseado no diário verídico de um advogado de Haia que mediou negociações entre os nazistas e a resistência, mas que foi morto logo após a libertação da Holanda. "Seu livro preto, que provavelmente continha nomes de traidores e colaboradores, até mesmo em altos escalões, nunca foi encontrado", disse Verhoeven.

O diretor disse que ficou satisfeito por fazer um filme fora de Hollywood, onde, afirmou, a ênfase é no entretenimento puro, com pouca profundidade. Tentei encontrar algo que atraísse a mim, pessoalmente, algo que fosse mais próximo de meu coração."

Reuters
Reuters Limited - todos os direitos reservados. Clique aqui para limitações e restrições ao uso.