Veneza 2006

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Quarta, 6 de setembro de 2006, 14h24 

Festival de Veneza homenageia obra polêmica de David Lynch

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Compreender os filmes de David Lynch nunca é fácil. Mas seu último trabalho, Inland Empire, está simplesmente impenetrável. A tal ponto que um jornalista perguntou, em tom de brincadeira, se o mestre do macabro havia perdido sua saúde mental.

Em sua mais recente colaboração com a atriz Laura Dern, Lynch, que nesta quarta-feira vai receber um Leão de Ouro do Festival de Veneza pelo conjunto de sua obra, embaça os limites entre uma história e outra e entre o sonho e a realidade.

Com quase três horas de duração, a trama mais evidente do filme diz respeito à produção de um longa-metragem e de como a atriz principal teme a ira de seu marido quando tem um caso com o ator principal.

Mas é impossível dizer onde essa história começa e onde começam as outras, incluindo uma ambientada na Polônia.

Indagado se o filme deveria fazer sentido, Lynch disse em coletiva de imprensa, após a exibição de Inland Empire: "Deve fazer perfeito sentido".

O diretor faz uso farto da trilha sonora para criar tensão e o ambiente desejado, e o filme inclui uma série de cenas claustrofóbicas em que personagens descem por corredores escuros e entram em salas também escuras.

Lynch não se mostrou com vontade de ajudar os jornalistas a decifrar o sentido de seu filme. Quando um repórter lhe pediu para explicar o aparecimento de três atores usando cabeças de coelho, um dos quais fica num canto da sala passando roupa, o diretor de 60 anos respondeu: "Não, não posso explicar isso".

Outro repórter que perguntou sobre um aspecto diferente do filme ouviu: "Eu gostaria realmente de poder explicar, mas o próprio filme é a explicação. É isso o que é tão terrível em coletivas de imprensa. O importante é o filme, não as palavras".

Indagado sobre seu próprio bem-estar, ele disse: "Obrigado por perguntar. Estou muito bem mesmo".

O diretor de clássicos cult como Eraserhead, O Homem-Elefante e Cidade dos Sonhos e de um seriado de televisão que gerou toda uma geração de imitações, Twin Peaks, sugeriu que o público se esforça demais para identificar o sentido exato de seus trabalhos

"Vocês não devem ter medo de usar sua intuição e abrir caminho com os sentimentos", disse ele. "De ter a experiência e confiar em seu saber interior sobre o que ela é".

Lynch explicou como iniciou seu trabalho mais recente sem saber exatamente o que queria fazer, e Laura Dern, que já atuou em filmes anteriores do diretor, como Veludo Azul e Coração Selvagem, descreveu a experiência como algo "único".

"Trabalhamos ao longo de dois anos e meio, e cada dia era uma direção diferente, cada dia era uma idéia diferente, porque não tínhamos roteiro que estivéssemos seguindo", ela contou.

Lynch acrescentou: "O filme começou a se revelar aos poucos". Ele destacou a importância do som na criação de um filme e criticou a prática hoje comum de acrescentar os diálogos aos filmes depois de eles terem sido filmados com a câmera.

"O cinema, para mim, é som e imagens andando juntos no tempo, e é tão importante como o som caminha no filme, como ele se casa. Acho que essa mania de acrescentar os diálogos depois precisa acabar. Ela estraga os filmes por completo."

Reuters
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