Walter Salles: "vivi o mesmo dilema com 'Diários' e 'Na Estrada'"
- Marina Azaredo
- Direto de São Paulo
O mais recente filme de Walter Salles, Na Estrada, é uma adaptação de On the Road, livro de Jack Kerouac que marcou toda uma geração americana. O diretor, no entanto, garante que não viveu um grande dilema ao decidir adaptar a obra, tão característica da cultura americana. "Eu já tinha vivido isso em Diários de Motocicleta. Como vocês sabem, eu não sou argentino nem cubano. Por isso, pesquisei e viajei muito antes de fazer o Diários. Agora foi a mesma coisa. Eu estudei muito, porque adorar o livro não é passaporte suficiente para fazer uma adaptação", disse Walter em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (2) em São Paulo.
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O Na Estrada de Walter - antes dele, Francis Ford Coppola já havia tentado adaptar o livro, mas o projeto não foi para a frente - teve início em 2005, quando ele começou a escalação do elenco e chamou uma então atriz de 16 anos relativamente desconhecida para o papel da jovem Marylou. Era Krisen Stewart, que depois se tornaria a estrela da saga Crepúsculo. "Na época, foi o Gustavo Santaolalla quem me sugeriu ela. Mas eu não a conhecia. Então fui ver o filme do Sean Penn que ela tinha feito (Na Natureza Selvagem) e fiquei bastante impressionado", contou. "Ela tinha 16 anos quando a convidei para para fazer o filme e, mesmo assim, se manteve fiel ao projeto, que só foi rodado cinco anos depois."
Nessa época, Walter começou um longo processo de imersão no livro de Kerouac, considerado a bíblia da geração beat, que incluiu um documentário ainda não finalizado sobre aquela geração e a releitura do livro. "Eu voltei ao livro várias vezes, inclusive antes de filmar o Diários, porque é uma história sobre a pulsação da juventude. A coisa mais extraordinária de fazer o documentário foi encontrar as pessoas de 80 anos mais jovens que eu já conheci", contou.
Na Estrada conta a história do jovem escritor Sal Paradise, cuja vida é sacudida e inteiramente transformada pela chegada de Dean Moriarty, um jovem libertário e contagiante, recém-chegado do Oeste com sua namorada de 16 anos Marylou. Juntos, Sal e Dean cruzam os Estados Unidos em busca da última fronteira americana e à procura deles mesmos. "São personagens sedentos por liberdade, por todo tipo de liberdade, de drogas a sexo. Por isso, eles se jogam na estrada", disse Walter.
Além de Kristen Stewart e dos relativamente desconhecidos Garrett Hedlund e Sam Riley nos papéis principais - eles vivem, respectivamente, Dean Moriarty e Sal Paradise -, o longa conta ainda com a atuação da brasileira Alice Braga, em uma participação pequena como uma catadora de algodão que vive um romance com Sal. "Dirigir a Alice era algo que queria fazer há muito tempo. E ela conduziu o papel de uma maneira muito luminosa. Ninguém teria feito tão bem quanto ela", elogiou o diretor. "O meu sonho era trabalhar com o Waltinho", devolveu a atriz, que também participou da entrevista coletiva.
Para mostrar os Estados Unidos da metade do século 20, Walter, no entanto, teve de buscar locações fora do país. A equipe filmou na Patagônia argentina e no Canadá. "Hoje você anda mil quilômetros nos Estados Unidos e vê o mesmo shopping center e a mesma lanchonete em todos os lugares. Não existem mais as paisagens e os lugares da década de 50", explicou Walter. "Além disso, era agosto e eu precisava de inverno e neve. Então fomos para a Patagônia, porque eu me nego a usar aqueles recursos dos filmes de Hollywood, com neve falsa."
Na Estrada estreia no Brasil no dia 13 de julho. Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Amy Adams e Elisabeth Moss também estão no elenco.
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