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Demônio de Neon: "Elle Faning tem um dom divino que todos mataríamos para ter", diz o diretor Nicolas Winding Refn (exclusivo)

NWR chega hoje aos cinemas com o "terror sem terror" Demônio de Neon.

29 set 2016 - 14h05
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Nicolas Winding Refn - ou apenas NWR, como costuma assinar. Cultuado pela trilogia Pusher, rodada ainda em sua Dinamarca natal, o diretor alcançou fama mundial graças a Drive, premiado no Festival de Cannes. Desde então cada novo filme lançado tem sido um acontecimento, não apenas pela expectativa gerada mas também por dividir radicalmente opiniões.

Foto: Dimitrios Kambouris/Getty Images North America / AdoroCinema

Extremamente perfeccionista em relação à estética de seus filmes, e fetichista assumido, Refn está de volta aos cinemas brasileiros com Demônio de Neon, "um filme de terror sem terror sobre o mundo da moda", como ele próprio gosta de definir. O AdoroCinema pôde conversar com o diretor no Festival de Cannes, onde falou sobre seu novo trabalho e o futuro do cinema. Confira também nossa crítica!

O TERROR DE DEMÔNIO DE NEON

Situado em plena indústria da moda, Demônio de Neon acompanha uma bela e ingênua garota de apenas 16 anos que se torna modelo profissional, precisando lidar com vaidades e invejas de suas "colegas" de trabalho. É nesta ambientação que Refn elabora um ambiente opressivo e repleto de interesses pessoais, o tal "terror sem terror".

"O horror é algo que você cria. Pensei que um filme sobre beleza e insanidade poderia ser bastante aterrorizante e foi aí que criei o conceito deste filme, uma trama sobre uma menina de 16 anos que nasceu bela. O que eu não queria era usar monstros ou assassinos em série, queria alcançar o que é considerado como o DNA dos filmes de terror. Mais do que tudo, eu queria alcançar um senso de movimento, algo como uma viagem espacial."

O diretor ainda comentou sobre o porquê de fazer um filme de terror neste momento da carreira. "Não sei porque faço as coisas, apenas senti que esse era o momento certo. Em Drive, eu atingi o auge do fetichismo masculino. Apenas Deus Perdoa é sobre emasculação, um retorno ao ventre materno. Então, neste filme, eu renasci no corpo de uma menina de 16 anos e tudo fez sentido quando decidi fazer esta história como um filme de terror."

INVEJA ENTRE CINEASTAS

Questionado se, assim como acontece com Jesse em Demônio de Neon, ele mesmo já teria sido alvo de inveja no meio cinematográfico, Refn não pensou duas vezes antes de responder: "Sim, claro! Todos querem aquilo que você conquistou e que não conseguem conquistar, todos se ressentem de algo que perderam, algo que costumavam ter. Isso é muito comum em qualquer lugar, competitividade é universal. O que é divertido é que ambientar esta trama no mundo da moda torna tudo mais glamouroso, é uma versão muito moderna. É inebriante."

BELEZA FEMININA

A beleza - e suas problemáticas - é o tema essencial de Demônio de Neon e, para Refn, este é mais um fator que separa os homens das mulheres, tanto em seu filme como no mundo:

"O mundo da moda é muito voltado às mulheres, de fato, isso é inegável. Elas são muito obcecadas com a beleza. É intrigante analisar essa questão porque as mulheres são muito mais sofisticadas que os homens [..] em um filme como esse, onde a beleza é essencialmente o tema, os personagens masculinos só podem chegar até um certo nível de desenvolvimento, até o ponto em que se tornam irrelevantes."

Ainda, NWR afirma que é a beleza feminina que confere poder às mulheres - e ele também lança uma polêmica:

"Gostaria que o mundo fosse composto só por mulheres. Gosto de ser dominado, controlado pelas mulheres. E eu acho que as mulheres têm o controle, no fim das contas, sobre todas as coisas [..] não há igualdade no mundo da moda, esse mundo é completamente controlado pelas mulheres. Pode ser que as pessoas estejam certas, que são as decisões dos homens que estão arruinando o mundo, mas eles só estão nessas posições porque as mulheres permitem que eles estejam lá."

FETICHE

Parecendo ter atingido um certo nível de conforto tanto em relação ao seu modo de dirigir quanto em sua predileção pelos fetiches, Refn explicou o impacto de seu estilo cinematográfico sem rodeios:

"Adorei entrar nesse mundo de fetiches. O filme é puro fetiche. Eu sou do futuro e faço filmes para o futuro. Quando eu venho ao Festival de Cannes, eu não trago um filme; eu trago uma experiência. [...] Eu faço filmes para jovens e o que o meu público certamente não quer é ouvir o que é certo ou errado. Eu não queria ouvir esse tipo de coisa quando eu era jovem e ainda não quero. Prefiro simplesmente ter uma experiência. Cinema é arte, é algo que transcende, que penetra, que planta ideias, que revoluciona. É o poder da cultura."

Sua afeição pelos fetiches e pelo prazer masoquista trazido pelas obsessões com a beleza e com a perfeição não se manifestam apenas em seu trabalho:

"Eu sou muito sádico em meu trabalho, mas sou muito masoquista em casa. Gosto dessa dualidade e acho que há algo de muito prazeroso na dor, assim como acredito que há algo de muito prazeroso em causar dor. É por isso que a vida é tão interessante: é tudo um grande fetiche."

VAIAS EM CANNES

Se o filme já parecia ser controverso antes mesmo de ser exibido, a primeira projeção confirmou essa tese: Demônio de Neon foi recebido com sonoras vaias pelo público presente no prestigiado festival de Cannes. No entanto, a firme e contrária reação geral ao resultado final de sua obra não parece ter abalado a confiança que Refn tem em si mesmo e em seu cinema - muito pelo contrário: 

"Cinema, como uma forma de arte, não é sobre o que é bom ou ruim. Cinema, como uma forma de arte, é sobre experiências. Você pode definir uma experiência como boa ou ruim, mas isso é algo pessoal. O mais importante é saber se a experiência permanece com você, se ela te afeta. Se ela te irrita, ou te entristece ou te alegra. É por isso que quando eu ouvi as reações à primeira exibição do meu filme para a imprensa, à violência, pensei que vocês deveriam ficar gratos com a minha presença porque, do contrário, vocês teriam um festival muito chato. Isso é Cannes. Eu sou Cannes. Eu represento o melhor e o pior de Cannes."

ELLE FANNING

NWR já trabalhou com grandes atores e atrizes durante sua carreira. Na soma de seus filmes, ele já comandou as performances de nomes importantes no cenário do cinema mundial e contemporâneo como Ryan Gosling, Carey Mulligan, Mads Mikkelsen e Tom Hardy. Contudo, Refn parece ter encontrado sua estrela perfeita justamente na jovem Elle Fanning:

"Eu adoro filmar mulheres bonitas e adorei trabalhar com Elle [..] ela era minha única escolha. Você estão vendo a história ser feita porque você estão vendo uma garota que acabou de fazer 18 anos, que basicamente poderia estar no baile da escola, mas que está em Cannes, alguém que é uma estrela genuína. Eu faço estrelas. Eu já criei três estrelas, mas ela é absolutamente única. Ela tem algo de especial, um dom divino que todos mataríamos para ter."

REFERÊNCIAS E COMPARAÇÕES

Por causa da natureza psicologicamente complexa de seus filmes e de seu senso estético marcante e plasticamente belo, Refn já viu seu estilo ser comparado aos estilos de grandes nomes do cinema como Stanley Kubrick e David Lynch; e ele não rejeita essas comparações:

"Todos roubam de todos. Kubrick roubou de Max Ophuls. David Lynch roubou de Luis Buñuel. Todos roubamos coisas de Fritz Lang. Não há nada de errado em roubar, o importante é evoluir a criatividade [..] É normal roubar. É melhor aceitar isso e ser aberto porque não há nada mais patético do que pessoas que mentem sobre os lugares de onde vieram, sobre suas influências [..] Nós deveríamos celebrar isso ao invés de temer. Genialidade significa inventar, mas inventar não significa que você é interessante ou que você sabe entreter. Eu sou apenas um entertainer. Isso é o mais importante, antes de mais nada."

A PRESENÇA DE KEANU REEVES

Keanu Reeves na pré-estreia do filmeUm dos pontos mais interessantes de Demônio de Neon é a participação de Keanu Reeves. Ao ser questionado sobre o ator, Refn revelou que é um verdadeiro fã do trabalho dele:

"Eu adoro Keanu Reeves, eu acho que ele é incrível. Eu tive muita sorte dele aceitar participar do filme [..] Eu não me impressiono facilmente, mas eu tenho que dizer que ele me impressiona muito. Ele é um homem muito bonito [..] Keanu é uma entidade de outro mundo. Foi ótimo tê-lo no elenco."

Além disso, o diretor também apontou o importante impacto cultural que a carreira do protagonista da trilogia Matrix exerceu nos últimos trinta anos:

"Keanu é um dos melhores atores integrados à cultura pop. Se você olhar a evolução dele como um ator, você perceberá que ele não é só um ótimo ator; ele também é um reflexo da cultura pop dos últimos trinta anos. Ele é o criador de grande parte dos nossos gêneros cinematográficos. Você tem Keanu em Bill & Ted, uma verdadeira comédia de sucesso nas bilheterias. Não existiria Se Beber, Não Case sem Bill & Ted. Ele fez também Garotos de Programa, a jóia da coroa do cinema independente estadunidense. Caçadores de Emoção, um filme que combina a lógica dos estúdios com a arte e com personagens incríveis. Velocidade Máxima foi o primeiro videogame construído como cinema. Aí vem Matrix e, mais recentemente, Keanu como John Wick, De Volta ao Jogo. Ninguém tem uma carreira como essa. Ninguém fez uma jornada como essa e continuou na ativa."

DISTRIBUIÇÃO

Demônio de Neon receberá distribuição internacional pela Amazon Studios, a divisão de filmes e séries do gigantesco conglomerado da Amazon, que vem fazendo barulho na área do streaming com suas séries premiadas. O diretor não poupou elogios ao modelo de distribuição que a Amazon utilizará e, ainda, teceu comentários quanto às novas formas e tecnologias de distribuição de filmes:

"A Amazon também faz parte do futuro. Eles estão muito focados no cinema, apoiam bastante o cinema e a distribuição em salas de cinema porque querem preservar essa experiência cinematográfica, que é a melhor experiência. Não é o único tipo de experiência, é claro. Como o cinema avança muito rápido, você sempre precisa questionar o seu próximo passo e os DVDs e BluRays, graças aos deuses, estão acabando. O streaming é bem melhor. Em termos de acesso ao entretenimento, nós estamos agora na roda. Quando o cinema começou, estavámos à cavalo. Agora estamos na invenção da roda. Imaginem só quando chegarmos ao avião."

AdoroCinema
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